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Cultura

Leonardo Campos lança o livro Horror Oriental em Versões Ocidentais

O crítico de cinema, professor e colaborador do site Bahia Pra Você bate um papo sobre sua nova publicação

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Professor Leonardo Campos, em primeiro lugar, conta para o nosso público como surgiu a ideia de publicação do livro.
Fotos: Divulgação

Leonardo Campos

Professor Leonardo Campos, em primeiro lugar, conta para o nosso público como surgiu a ideia de publicação do livro.

Eu sempre trabalho em ciclos. Gosto de pegar determinados temas e passar uma fase estudando a fundo e tentando assistir, ler livroe analisar o máximo de coisas produzidas sobre. Foi assim com os filmes sobre exorcismo, narrativas natalinas, tubarões, professores e educação, matemática, cibercultura e outros tópicos temáticos que foram organizados em formatos de publicação, como livros. Geralmente seleciono panoramicamente tudo sobre aquilo que está sob minha possibilidade de conseguir acessar. Assisto, vou organizando e fazendo relações, leio sobre o assunto na internet e em publicações especializadas, tais como artigos, dissertações e teses, mergulho em documentários e quando chego ao final do processo, me sinto “formado” naquilo, sabe? Eu já conhecia o básico de horror oriental depois de assistir aos filmes O Chamado e O Grito e depois conferir as suas narrativas japonesas, pontos de partida para as refilmagens. Já faço isso há bastante tempo, mas com este tema, tive a chegada da pandemia em 2020 como um pontapé pra produção. Em casa, isolamento social, noites de ansiedade, etc. Eu me dediquei a estudar determinados temas e ao longo de dois meses já tinha praticamente todo o livro pronto. Já tinha publicado alguns poucos textos sobre o assunto e, quando comecei a tratar deste tema, organizei um a um e percebi que havia a possibilidade de transformá-lo em um livro.

Podemos definir as refilmagens de produções de horror orientais como parte de um ciclo específico do cinema estadunidense?

Sim, o cinema de diversas partes do mundo atravessa ciclos constantes. No caso dos filmes orientais refilmados, tivemos um pouco mais de uma década de exaustão dos conteúdos produzidos no Japão, China, Coreia do Sul, Tailândia, dentre outros territórios. Quando O Chamado fez enorme sucesso nos Estados Unidos, os produtores perceberam o quão lucrativo era reler narrativas orientais em perspectivas ocidentais. Começou também o aquecimento de um mercado de importação destes filmes em suas abordagens “originais”, para que o consumidor pudesse assisti-los e compará-los. Foi uma febre, como aconteceu e ainda ocorre com diversos universos cinematográficos. Mas, como toda fase, ganhou um certo desfecho, pois os ocidentais esgotaram as opções orientais para refilmar, então, começaram a recomeçar franquias já relidas, como foi o caso de O Grito, em 2020, odiado por muita gente, mas confesso, interessante, ao menos quando assistido em seu lançamento, pouco antes da pandemia começar.

Ao observar como um crítico de cinema, você acredita que haja perdas neste processo de tradução cultural? Aliás, refilmar é também algo deste segmento ou uma prática comum do cinema?

São mundos distintos, cada um com seu valor. Há uma aura de determinados críticos em torno dos filmes orientais, mais cifrados, até mesmo por conta de seus códigos culturais, em detrimento dos filmes estadunidenses, considerados facilitadores demais, óbvios. Conforme registros históricos de pesquisas acadêmicas e dos textos da crítica cinematográfica da época, O Chamado, de Gore Verbinski, deve ser considerado o filme que deu início ao segmento de importações orientais para a cultura estadunidense arrogante e fechada em si, desinteressada por legendas ou mergulhos mais profundos na compreensão das manifestações culturais alheias. Considerava, inclusive, uma afirmação exagerada, mas após conferir Fúria Poderosa,

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documentário de bastidores da refilmagem de O Grito, lançado em 2004, tive a confirmação vinda do próprio produtor, ninguém menos que Sam Raimi, realizador que entende bem os mecanismos que engendram o medo e o pavor no bojo de uma narrativa de terror. Segundo as suas declarações, o contato com a versão japonesa de O Grito lhe trouxe a certeza de que a trama funcionaria para revitalizar o terror como gênero estadunidense, mas para isso, seria preciso refazer, pois a mera importação do filme com lançamento no formato original não interessaria o público dos Estados Unidos, avesso ao que não é convencional. Diante do exposto, o remake pensado dentro deste segmento (o horror oriental) é uma prática onde os realizadores vertem narrativas estrangeiras para o mercado estadunidense, numa estratégia de tornar o “material original” mais acessível para tais plateias refratárias à cultura da legenda, isto é, um povo que globaliza os seus produtos, mas sequer se interessa por se aprofundar pelo alheio.

Releituras não são exatamente práticas do cinema, correto?

A prática de recontar histórias não é uma prerrogativa do cinema, mas está presente na literatura, na ópera, no teatro, enfim, na história narrativa do ser humano. Quando me refiro ao processo de “recontar”, direciono a reflexão para o processo de refilmagem que sempre esteve presente no percurso histórico do cinema, mas que nas últimas duas décadas, tornou-se uma febre de perspectiva dual. Há, por um lado, o interesse em reformular enredos para plateias com as gerações mais recentes, sem perder a atmosfera artística e contextual de seu ponto de partida, readaptado, obviamente, para os novos tempos, mas também há a sorrateira prática oportunista de produtores cientes da falência criativa da indústria cultural, setor ansioso por novidades para alimentar as plateias famintas por entretenimento, mesmo que de baixa qualidade. Por isso, o surgimento de uma nova versão de O Grito, em 2020, tendo Sam Raimi mais uma vez como produtor é uma escolha duvidosa que parece não se sustentar enquanto resgate temático necessário para a atual fase do terror. Pode funcionar comercialmente, mas será que o seu reinicio se justifica enquanto arte relevante? Mas ai já adentramos num labirinto tão tenebroso quanto o poço de Samara Morgan: quem define o que é arte relevante, sabe? Complicado. É um fenômeno que requer uma série de observações e análises.

Ao versar sobre este assunto, você trouxe durante o lançamento do livro, considerações sobre sequência, reboot e remake. Comenta cada um destes tópicos para os nossos leitores?

Para alguns é um conceito básico e objetivo: a realização de uma nova versão de um produto artístico prévio. No entanto, a observação trafega apenas pelo senso comum. Quando colocado em reflexão, o conceito de remake se amplia e abre precedentes para discussões diversas sobre esta prática comum no cinema desde os tempos clássicos hollywoodianos. Em alguns casos,

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direto, noutros, indiretos ou até mesmo descaradamente plagiadores, sem dar os devidos créditos: assim funciona o remake dentro do processo de produção industrial. Várias refilmagens ocorreram dentro de subgêneros do terror durante toda a década de 2000, dos slashers às releituras de narrativas orientais. Basicamente, as sequências consistem em investir na retomada de universos já definidos numa produção anterior, tendo em vista dar continuidade ou desenvolver a trama mais ou menos de onde o filme de base terminou. Algumas são interessantes e reforçam o caráter dramático relevante de uma história que possui potencial para continuar, mas noutros casos, como em O Chamado 2 e O Grito 2, as histórias não acrescentam muita coisa e acabam se revelando frágeis, apelos comerciais que enfraquecem toda a mitologia construída pelo ponto de partida, neste caso, o filme anterior. No caso do reboot, temos um termo oriundo do campo da informática, no cinema, funciona como a reinicialização de um universo que possui personagens, conflitos e elementos estabelecidos. É o que aconteceu com a franquia O Grito, reiniciada pela nova versão lançada em 2020. Depois do remake de 2004 e das sequências O Grito 2 e O Grito 3, lançadas em 2006 e 2009, respectivamente, Sam Raimi decidiu resgatar o universo e revitalizá-lo para as plateias menos de duas décadas depois do lançamento de outra revitalização que ele mesmo empreendeu. A questão é saber se os tais gritos da produção ainda ecoam como sons artisticamente relevantes ou se há apenas apelo comercial em prol da retomada de histórias ainda tão recentes em nossa memória cultural.

Lembro que em sua fala de apresentação, trouxe também os termos interquel e midquel, praticamente desconhecidos por aqui. Explica-os para os nossos leitores?

Uma narrativa prequel tem em seu conceito a junção de pre (antes) e sequel (sequência), termo não ganhou versão para o português brasileiro desde os anos 1970, quando começou a ser utilizado com frequência em críticas cinematográficas. Em sua estrutura temos uma trama gravada e lançada num momento posterior ao filme que lhe serve como ponto de partida, mas retrata acontecimentos prévios. Veja o caso de Ring 0 – O Chamado, de Norio Tsuruta, filme que conta as origens de Sadako, a menina do poço que se tornou parte de uma maldição. Para aqueles que pensam ser uma estratégia cinematográfica, não é, pois no ensaio O Original e a Cópia, o Remake, a Sátira e a Paródia, de Leonardo Campos, capítulo integrante do livro Sessão Dupla, o autor resgata a história do livro bíblico de Rute, espécie de origem que retrata os antepassados do rei Davi, o soberano hebreu. Cypria, parte integrante do Ciclo dos Troianos, de Homero, também é uma “sequência prévia” dos acontecimentos da Ilíada. Já no saco dos termos interquel e midquel, mais incomuns, são abordagens focadas no intervalo do que foi apresentado em duas outras narrativas já realizadas, a desenvolver fatos que o público até então desconhecia, uma fenda que se abre quando a continuidade diante do último filme de uma franquia possui poucas ou nenhuma brecha dramática para ganhar prosseguimento.

Em seu livro, o destaque vai para as franquias O Chamado e O Grito. Por qual motivo?

Acredito que esta será a resposta mais breve da entrevista. Basicamente, pelo fato das duas franquias terem sido mais longas que os demais filmes trabalhados neste livro. O Chamado, por exemplo, ganhou três narrativas ocidentais, fora os seus quatro filmes orientais. O Grito, a versão oriental, além de duas continuações, ganhou uma série. Sua releitura estadunidense também ganhou duas continuações. Há também o crossover entre Sadako vs. Kayako. Por essa expressividade, ganharam maior destaque e espaço no livro. É uma questão de volume de produção mesmo, não exatamente por suas qualidades estéticas e dramáticas.

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Para nosso encerramento: como sabemos sobre os seus trabalhos, algo que acompanhamos constantemente em nossa página, você levou este projeto para a sala de aula também. Apenas Ensino Superior?

Sim, ainda não tive uma experiência com o tema no Ensino Médio, mas se for fazendo as ilações devidamente planejadas, podemos ter resultados expressivos. Para o Ensino Superior, como professor do curso de Comunicação Social da UNIFTC, crio sempre eventos relacionados aos livros, materiais que são organizados dentro de projetos bem amarrados. Além de um Ciclo de Cinema em 2020, virtual, tivemos debates, seguidos de uma proposta de seminários para as disciplinas Argumento e Roteiro, Crítica Cinematográfica e Oficina de Comunicação Escrita, antes deste projeto ser pensado como um livro, lá por volta de 2017 e 2018. Como elemento de aprendizagem concreta, o cinema nos permite articulações intertextuais, além de propostas com metodologias ativas de ensino e aprendizagem. Eu uso para tudo. É ampliação de repertório cultural, além de recurso para estimular o senso crítico de qualquer pessoa.

Cultura

Baile Concerto da OSBA celebra 40 anos do Axé Music e 75 anos do Trio Elétrico

A apresentação acontece no dia 22/2, às 19h, na Concha Acústica, com ingressos disponíveis a partir das 14h desta quinta (6), R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia)

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A energia do Carnaval baiano encontra a grandiosidade da música sinfônica na sétima edição do Baile Concerto, a festa carnavalesca
Foto: Vanessa Aragão

A energia do Carnaval baiano encontra a grandiosidade da música sinfônica na sétima edição do Baile Concerto, a festa carnavalesca promovida pela Orquestra Sinfônica da Bahia (OSBA). Este ano, a celebração ganha um significado especial ao homenagear os 40 anos do Axé Music e os 75 anos do Trio Elétrico. A apresentação acontece no dia 22 de fevereiro (sábado), às 19h, na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, com ingressos disponíveis para venda a partir das 14h desta quinta-feira (6), na Sympla e na bilheteria do TCA, pelos valores de R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia).

Sob a regência e direção musical do maestro da OSBA, Carlos Prazeres, a Orquestra recebe grandes nomes da música baiana para seu baile de Carnaval: Armandinho Macêdo, Banda Mel (com os cantores Márcia Short e Robson Morais), Gerônimo Santana e Margareth Menezes, além de Manno Góes, que assina a direção artística, e a participação do violinista da OSBA, Mário Soares.

A realização do Baile Concerto reafirma o compromisso da OSBA em dialogar com a cultura baiana, promovendo concertos que celebram manifestações populares, como o Carnaval e o São João. Para esta edição, o maestro Carlos Prazeres convidou Manno Góes, um dos grandes nomes do Axé Music e autor de sucessos como “Milla” e “Praieiro”, para assinar a direção artística da apresentação.

“Em minhas conversas com Manno, tivemos algumas ideias muito bonitas para homenagear os 40 anos do início do Axé Music, tendo a honra de contar com nomes históricos deste gênero musical como Margareth Menezes, Gerônimo e a Banda Mel, além de celebrar os 75 anos da criação do Trio Elétrico, com a participação especial de Armandinho”, comenta Carlos Prazeres.

SOBRE O BAILE CONCERTO – Criado em 2018, o Baile Concerto se consolidou como um dos eventos mais aguardados da temporada da OSBA, conectando a música sinfônica às tradições do Carnaval baiano e brasileiro. Ao longo de suas sete edições, o projeto já prestou tributos a grandes artistas como Moraes Moreira, Gal Costa e Chico Buarque, reunindo convidados como Luiz Caldas, Bailinho de Quinta, Paulinho Boca de Cantor, Josyara, Marcia Castro, Claudia Cunha, Zé Ibarra, Moyseis Marques e Clara Buarque.

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SOBRE A OSBA – Criada em 30 de setembro de 1982, a Orquestra Sinfônica da Bahia (OSBA) é um corpo artístico do Teatro Castro Alves e teve seu processo de publicização consolidado em abril de 2017. Desde então, a Associação Amigos do Teatro Castro Alves (ATCA) – entidade sem fins lucrativos qualificada como Organização Social (OS) – realiza a gestão da OSBA, que permanece como corpo artístico público, sendo mantida com recursos diretos do Governo do Estado da Bahia, através da sua Secretaria de Cultura (SecultBA) e da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb).

SERVIÇO
22/FEV (SÁBADO) – BAILE CONCERTO | 40 ANOS DO AXÉ MUSIC & 75 ANOS DO TRIO ELÉTRICO
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Cultura

MGB continua com horário de funcionamento estendido

Em fevereiro, o Museu Geológico da Bahia funciona de terça a sexta, das 10h às 18h, nos finais de semana, das 13h às 17h

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O Museu Geológico da Bahia (MGB), órgão administrado pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE), continuará com o
Foto: Mário Marques/Ascom SDE

O Museu Geológico da Bahia (MGB), órgão administrado pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE), continuará com o funcionamento estendido em fevereiro, de terça a sexta-feira, abrindo às 10 horas e encerrando às 18 horas. Aos finais de semana, o funcionamento será mantido das 13h às 17h. O MGB está localizado na Avenida Sete de Setembro, nº 2195, Corredor da Vitória e a entrada é gratuita.

Com um dos maiores acervos de rochas, minerais, pedras preciosas e fósseis da Bahia, o MGB, que completa meio século este ano, proporciona aos seus visitantes uma viagem no tempo geológico através das suas exposições temáticas: Meteoritos, Universo/Sistema Solar, Minerais, Rochas, Recursos Minerais, Minerais e Rochas Industriais, Artesanato Mineral, Garimpo, Minerais Radioativos, Energia dos Cristais, Gemas, Petróleo, Otto Billian, Rochas Ornamentais e Fósseis.

Inaugurado em 1975, o museu é um centro de pesquisa, divulgação e preservação do patrimônio geológico da Bahia, que desenvolve projetos de cunho científico, educativo e cultural, completando meio século de funcionamento neste ano. O espaço conta ainda com um cinema e um café, de onde se pode apreciar o mural Flor de Pedras do artista plástico Juarez Paraíso.

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Carnaval 2025

Projeto Samba Vivo coloca a Beleza Negra na roda de conversa

Os desafios e bastidores do concurso que elege a Deusa do Ébano, do Bloco Ilê Aiyê, serão discutidos nesta quinta (5), no Shopping Piedade

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Beleza Negra será tema da roda de conversa que acontece nesta quinta-feira (05), às 16h30, com as presenças de Jaci Trindade,
Fotos: Arquivo pessoal

Beleza Negra será tema da roda de conversa que acontece nesta quinta-feira (05), às 16h30, com as presenças de Jaci Trindade, coordenadora de Candidatas da Noite da Beleza Negra; Daiana Ribeiro – Deusa do Ébano 2013 e Valéria Swan – Deusa do Ébano 2024

A programação da semana conta ainda com uma roda de conversa, na quarta-feira (4), também às 16h30, sobre a trajetória dos blocos afro Alvorada, QFelicidade e Bankoma, cujas raízes são manifestações culturais e transformações ao longo dos anos e a preservação das próprias identidades. Os convidados serão Valdinho França, representante do Bloco Alvorada, Carmen Eloiza – Presidente do Bloco QFelicidade e Jéssica Neves – Coordenadora do Bloco Bankoma.

Esta é 11ª edição do projeto Samba Vivo que já está na quarta semana.

Com edições anuais e gratuitas realizadas no piso L4 do Shopping Piedade, empreendimento certificado com o Selo da Diversidade Étnico-Racial, o projeto Samba Vivo começou este ano no dia 13/01 e vai até o dia 28/02.

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