Ficção, Educação e Trânsito
Pateta e as infrações de trânsito
É um material antigo, mas com relevância ainda no contemporâneo


Professor Leonardo Campos
É surpreendente perceber que a animação Senhor Volante, produzida pelos criadores do personagem Pateta, ícone da animação clássica, ainda permanece tão atual. Dirigida por Jack Kinney e lançada em 30 de junho de 1950, sete décadas depois, a humanidade demonstrou que a aprendizagem proposta pelas campanhas de educação para o trânsito ainda não são suficientes, pois cotidianamente, nos encontramos com pedestres, condutores e demais agentes da mobilidade que se comportam tal como o lado monstruoso do personagem. É um material antigo, mas com relevância ainda no contemporâneo. Utilizada com bastante frequência em centro de formação de condutores, tenho familiares que fizeram autoescola há décadas e tiveram acesso ao vídeo em seus processos formativos. É uma referência geral sobre o que não é indicado em termos de posturas para adoção no trânsito. Nos poucos minutos de duração do episódio especial, acompanhamos o personagem criado em 1932 como duas figuras ficcionais: ele é o motorista ideal, Sr. Walker, mas também tem o condutor maligno, o Sr. Wheeler.
Nesse flerte com o clássico literário O Médico e O Monstro, temos um homem gentil que se desloca de sua casa educadamente, exalando docilidade, cumprimentando a vida e dando valor ao que é mínimo nas coisas. Ele se transforma, por sua vez, quando assume o controle de seu carro. Há uma inversão e o veículo é o elemento responsável por lhe transformar numa criatura bizarra, grosseira, sem educação alguma e com nenhuma habilidade do que conhecemos por inteligência emocional. Agressivo, impaciente e descortês, o Sr. Wheeler comete uma série de infrações do momento que liga o seu automóvel até o ponto de chegada, destino que não é selado com a morte por muito pouco. Criado com tom de didatismo, Senhor Volante pode ser complementado por Pateta na Estrada, animação de 1965, também sobre os enfrentamentos do personagem ao longo de uma travessia cheia de desafios, num ciclo rodoviário de fluxo intenso.
Quando catalogamos as incorreções de mobilidade nos dois episódios, temos algo em torno de sete infrações de trânsito, caso olhemos pela legislação contemporânea. Aos professores interessados em fazer refletir sobre o assunto, além das práticas indevidas na condução, há também debates possíveis acerca do comportamento humano diante volante, posição em muitas situações, transmite uma equivocada sensação de poder nos motoristas que se sentem superiores aos demais participantes da mobilidade, em especial, os ciclistas e pedestres, e, nalgumas abordagens, carros de menor porte. Empossado por um automóvel, o condutor despreparado pode agir de maneira imprudente e ainda ter em si a sensação de invencibilidade, pontos para reflexão, pois motivam muitos sinistros de trânsito há eras. Dentre as sugestões de uma campanha que utilizou a animação como material de sensibilização, tínhamos os seguintes conselhos: evite se atrasar, alongue-se e respire constantemente, num processo contínuo de meditação para evitar que em sua trajetória de mobilidade, o caos se estabeleça.
Aqui, percebemos que o personagem desenvolvido por Pateta age adequadamente enquanto pedestre. No volante, ele é o tipo de pessoa que pensa no semáforo como algo que representa perda de tempo, 30 segundos desperdiçados da vida. Ledo engano. Ademais, em sua concepção arrogante, ele é o tipo que se acha no direito de se comportar como observamos ao longo da história, pois paga adequadamente os seus impostos e por isso, se considera “dono da rua”. Os sons dos pássaros e a tranquilidade da abertura não demoram muito, pois logo que assume a direção, o “cidadão de bem” educado e gentil coloca para fora a sua monstruosidade, ao andar na contramão, sair de ré numa rua movimentada, dirigir sob efeito de álcool, passar por cima da calçada, arremessar água nos pedestres, ultrapassar pela direta, dirigir apenas com uma mão, dentre outras atitudes que envolvem rachas para disputar quem é mais veloz na pista, além de brigas violentas por vagas de estacionamento. Um caos que na vida real, caso devidamente fiscalizado, já teria colecionado multas grandiosas e até mesmo a suspensão da CNH.
Feito o panorama que descreve as animações, vamos observar detidamente cada infração e como Pateta descumpre a lei e coloca não apenas a sua vida, mas a existência de outros condutores em risco. Quando transita em marcha ré, ele comete uma infração grave, pois fere o artigo 194 do Código de Trânsito Brasileiro. Conduzir o carro em marcha ré é uma possibilidade apenas em pequenas distâncias ou num ajuste para estacionar ou algo do tipo. Na rua movimentada, pode causar sinistros fatais. Ao conduzir o seu automóvel ameaçando pedestres, ele infringe o artigo 170 que diz ser inadequado dirigir ameaçando a integridade de outros veículos ou pedestres transeuntes, como ocorre quando o Sr. Wheeler está no comando e intimida as pessoas na rua, até ser também intimidado por outros, reação diante de suas ações inadequadas. Caso a fiscalização identifique, o condutor pode perder a licença para dirigir e ainda ter o automóvel aprendido, pois essa infração é grave, tal como dirigir em cima da calçada, além de transitar em ciclofaixas, ilhas, refúgios, canteiros, canalizações, dentre outros espaços, atitudes que são cometidas pelo personagem, ação que pode sofrer as previsões do artigo 193 de nosso CTB, proibitivo no que concerne tais atitudes por parte dos condutores.
Arremessar água nos pedestres? O artigo 171 do mesmo código diz que é uma infração média, algo cometido pelo personagem de Pateta, figura que fica com o carro inundado como uma piscina em determinada passagem. Outra infração média cometida é a direção com apenas uma das mãos, algo que descumpre a lei e tem penalidade prevista no artigo 252 do CTB, trecho que engloba conduzir com os braços do lado de fora ou com calçado que seja comprometedor. Na animação, Pateta faz a barba enquanto dirige, ironia que reflete a crítica proposta pela condução da história que pretende educar e fazer refletir sobre posturas adequadas no trânsito. Tirar uma das mãos do volante é permitido apenas para passar a marcha ou acionar algum equipamento do veículo. Fora esses pormenores, a pessoa se encontrará infringindo a lei. Os problemas também estão ao lado daqueles que correm os sérios riscos de ultrapassagem pela direita. Essa infração prevista no artigo 199, numa ação permitida apenas quando o veículo da frente estiver numa faixa apropriada e sinalizar que vai entrar à esquerda. É uma regra que precisa ser compreendida e aplicada, algo que o personagem infelizmente não faz, mantendo-se constantemente em risco.
Por fim, dirigir alcoolizado é uma obviedade. A penalidade prevista pelo artigo 306 do nosso CTB prevê multa e outros processos, pois como sabemos, a condução sob o efeito de substâncias alcoólicas não põe em risco apenas o condutor, mas quem divide a mobilidade com ele. Esse é um dos casos mais comuns de sinistros cotidianos e mesmo com as campanhas educativas e a rigorosidade das leis, há pessoas que ainda não conseguiram se conscientizar e preferem, como bem trazem os debates da Psicologia do Trânsito, viver constantemente em risco, numa sensação de aventura constante, achando que por não ter sido multado por uma blitz, é alguém invencível, capaz de driblar a morte ou a invalidez numa situação inusitada de trânsito. Pateta sofre com o engavetamento de caminhões na animação, produto ficcional que tal como mencionado, é curto e dinâmico, mas oferta discussões importantes, mesmo com sua brevidade narrativa, ideal para alcançar as mentes inquietas e dispersas da contemporaneidade.
Por fim, aos professores que se dedicarem ao vídeo do Pateta em situações de trânsito como proposta de reflexão sobre mobilidade: não deixem de destacar o quão importante é o debate, haja vista os preocupantes dados sobre sinistros cotidianos que nos comprovam a necessidade de mais campanhas e pesquisas para refletir o assunto. Além das ações monstruosas do personagem que se comporta muito mal, é importante também inserir outros tópicos de debate. A concentração, por exemplo, pode ser uma boa opção de reflexão. Falar sobre coisas que alteram a nossa percepção e, consequentemente, podem gerar sinistros fatais, como por exemplo, usar drogas, bebidas alcoólicas, medicações que alteram ou modificam o comportamento, ter discutido ou vivido alguma situação de estresse forte e que incapacite o condutor de manter a serenidade, mesmo que por um breve momento, em seu deslocamento, ou até mesmo, ingerir alimentos muito pesados que causem sonolência ou não dormir, dormir pouco ou ter um breve e inadequado momento de sono. Tudo isso causa irritabilidade e perda da percepção necessária para que não nos comportemos como ‘Patetas’ na mobilidade, e assim, possamos preservar as nossas vidas e a integridade do outro que divide o espaço urbano cotidianamente.
Leonardo Campos é Graduado e Mestre em Letras pela UFBA.
Crítico de Cinema, pesquisador, docente da UNIFTC e do Colégio Augusto Comte.
Autor da Trilogia do Tempo Crítico, livros publicados entre 2015 e 2018,
focados em leitura e análise da mídia: “Madonna Múltipla”,
“Como e Por Que Sou Crítico de Cinema” e “Êxodos – Travessias Críticas”.
Ficção, Educação e Trânsito
Trânsito, Educação e Xadrez
Uma publicação interessante sobre o uso desta modalidade lúdica para o âmbito do ensino e da aprendizagem


Leonardo Campos
O xadrez é um jogo de tabuleiro que pede um jogador muito atento, inteligente e sagaz para lidar com as adversidades de uma partida. O trânsito, da mesma maneira, transforma o condutor em jogador e o coloca numa situação de atenção necessário, cuidado constante diante dos possíveis obstáculos, bem como uma postura defensiva para saber lidar com o “outro” que divide o mesmo espaço neste tabuleiro da vida. Foi com esta ideia que Eurípedes Kuhl, experiente no Serviço Militar, bem como em Administração e Segurança do Trabalho, desenvolveu Trânsito, Educação e Xadrez, uma publicação interessante sobre o uso desta modalidade lúdica para o âmbito do ensino e da aprendizagem, conteúdo que parece muito complexo em seu preâmbulo, mas que vai delineando as suas intencionalidades ao passo que cada página de leitura é avançada. Se você, caro leitor, é alguém como eu, um leigo total das estratégias do xadrez, recomendo que assista ao máximo de tutoriais que puder, leia manuais, consulte o passo a passo deste jogo de tabuleiro para que a sua dinâmica no âmbito educacional seja a mais produtiva possível, combinado?
Em sua abertura, o autor comenta brevemente o estabelecimento do Código de Trânsito Brasileiro, dando destaque aos avanços que surgiram com os desdobramentos da aplicação desta legislação em 1997. Ele reflete, por sua vez, que as nossas ruas e rodovias estão longe de atingirem os ideais previstos pelo CTB, haja vista as suas respectivas estruturas problemáticas. Além disso, nos permite refletir que não apenas a questão geográfica da mobilidade, mas o fator humano, algo que mesmo diante das punições previstas nos artigos legais, ainda é um ideal que distante e precisa, constantemente, ser alcançando por meio de campanhas e demais ações educativas. É quando entra o xadrez. A sua apresentação da famosa partida de 1851, intitulada A Imortal, é demasiadamente vaga, não nos deixando entender o propósito de sua inserção no material. É uma passagem superficial, desnecessária e deslocada. Mas não atrapalha o andamento educativo do livro.
Logo mais, há uma explicação básica para os elementos que compõem o tabuleiro, bem como um breve percurso histórico dos significados destas posições. Considerado como uma ciência autêntica, envolto em olimpíadas com jogadores que levam as suas regras com seriedade, o xadrez possui um tabuleiro com espaços em preto e branco. São as vias de condução das peças. Neste jogo, temos o Rei, a Torre, o Bispo, a Dama, o Peão e o Cavalo, todos integrantes desta travessia que mescla atenção, sagacidade e inteligência, na busca de um dos jogadores em apanhar as peças do adversário e dar o xeque-mate. Cada movimentação do jogador envolvido, em associação com a dinâmica do trânsito, é preciso atuar com atitudes seguras, eficientes, tendo em vista evitar colisões, incorreções que não permitem erro, levando-o ao trágico, dentre outras iniciativas formidáveis quando associadas com nossa conduta na mobilidade.
Diante do exposto, como já dito, no xadrez, o grande lance de jogador é a atenção. Se você se perde, adentra numa zona de perigo, como o trânsito. Pedestres, ciclistas, motociclistas e condutores precisam manter-se atentos, sem o uso indevido do celular, distantes dos efeitos do álcool e conscientes dos limites velocidades das vias que atravessam. No trânsito, temos que colocar em prática a humanidade que nos define e atuar de maneira educada, para que as coisas fluam adequadamente para todos. Adequado, aqui, designa segurança. Cada seção há uma frase de epígrafe, logo no começo da representação do quadro, como nos exemplos destacados nestas ilustrações. Didático, o autor relaciona posturas comuns do trânsito com a ação inconsequente ou devidamente cidadã de cada jogador diante do tabuleiro. Há o rude, o afobado, o confuso, o hábil, o atrevido, em linhas gerais, as cabíveis alegorias para o que encontramos cotidianamente no cenário da mobilidade, seja como pedestre a aguardar um ônibus, passageiro em deslocamento no interior do Uber, ciclista ou motociclista numa travessia pelas pistas que cortam as nossas cidades, em suma, qualquer situação de trânsito do nosso dia.
Leonardo Campos é Graduado e Mestre em Letras pela UFBA.
Crítico de Cinema, pesquisador, docente da UNIFTC e do Colégio Augusto Comte.
Autor da Trilogia do Tempo Crítico, livros publicados entre 2015 e 2018,
focados em leitura e análise da mídia: “Madonna Múltipla”,
“Como e Por Que Sou Crítico de Cinema” e “Êxodos – Travessias Críticas”.
Ficção, Educação e Trânsito
Rota de Colisão
Ao longo de suas 93 páginas, Rota de Colisão: A Cidade, O Trânsito e Você debate segurança e cidadania no trânsito


Leonardo Campos
Os impactos dos sinistros de trânsito, fatais ou com vítimas acometidas por sequelas, tragédias que antes eram chamadas de acidentes, são apresentados por meio de um texto coeso, coerente e dinâmico em Rota de Colisão: A Cidade, O Trânsito e Você, publicação de 2007, assinada pelos especialistas Eduardo Biavati e Heloisa Martins. O termo acidente, como nós sabemos, expressa algo imprevisto, furtivo, diferente do que contemplamos com horror em nosso cenário de mobilidade cotidiano, espaço onde situações evitáveis poderiam não acontecer e ceifar tantas vidas ativas, numa celeuma que causa desordem não apenas diante dos familiares e amigos enlutados, mas também ocasiona graves crises econômicas para uma nação que deixa de realizar amplos investimentos em outras áreas para atender aos vitimados com sequelas, dependentes de aposentadorias, bem como as cifras que os sinistros custam para o SUS. No livro, a cidade não deixa de ter a sua culpa. Zonas com infraestrutura inacabada, projetos problemáticos, assim como o comportamento humano no trânsito, carente de educação por parte de muitos condutores, pedestres e ciclistas. Focado na importância do exercício da cidadania, o conteúdo em questão é fluente, de poucas páginas e funciona como material para educar a população em geral, além de ser subsídio básico para projetos de educação para o trânsito.
Ao longo de suas 93 páginas, Rota de Colisão: A Cidade, O Trânsito e Você debate segurança e cidadania no trânsito em seus seis capítulos curtos, todos ilustrados e com desenvolvimento de ideias pedagogicamente dinâmicas para o entendimento de todos os públicos. Trânsito e Transitar, o primeiro capítulo, versa sobre como o movimento das ruas depende da atividade humana que acontece ao redor dos espaços de circulação, apresentando questões sobre o desenho das cidades e a solução de alargamento das pistas como uma opção que não resolve os problemas no cenário da mobilidade urbana contemporânea, algo que envolve demolição de prédios, casas, indenizações, dentre outras circunstâncias. Construir novas avenidas em zonas já estabelecidas não é algo tão tranquilo quanto se imagina. Os autores refletem a quantidade de carros na rua, a questão do meio ambiente degradado pelos combustíveis e o desinteresse da população pelos modais no deslocamento, não apenas por culpa dos usuários, mas pelas condições precárias de transporte em muitas zonas urbanas brasileiras.
No desenvolvimento de As Regras: De Quem é A Vez, o texto relaciona os espaços urbanos com regras de um jogo, onde precisamos seguis as orientações adequadamente para vencer as etapas e conquistar a linha de chegada. São alegorias importantes para transformação do que está previsto por lei em explicações pedagógicas para o grande público. Obedecer às regras é algo chato? Sim, mas estamos num espaço coletivo, por isso, temos que levar em consideração os nossos interesses, mas as vontades alheias, afinal, não somos donos da rua. Existem centenas de regras no Código de Trânsito Brasileiro, a maioria, desconhecida pela população, sendo uma delas o destaque do capítulo: a hierarquia de responsabilidades ao trafegar, espaço que tem o pedestre como elemento mais frágil diante de ciclistas, carros, caminhões e ônibus.
Em Os Acidentes: Onde Mora o Perigo, terceiro capítulo da jornada de Rota de Colisão: A Cidade, O Trânsito e Você, encontramos algumas pontuações sobre os chamados acidentes, agora sinistros de trânsito, conforme a atual legislação, eventos que não devem ser pensados como obras do destino, mas acontecimentos que podem ser evitados se todos que circulam pelas vias da cidade obedecessem ao que está disposto no CTB e também respeitasse o lugar de passagem de cada um. O grande índice de tragédias nas vias não para de crescer pelo fato de nós, agentes do processo de mobilidade cotidiana, não respeitamos adequadamente o outro, colocando-se muitas vezes como irresponsáveis. Uso de álcool, mesmo na quantidade mínima, não por o cinto de segurança e exceder a velocidade: três grandes problemas contemporâneos, somados ao mais recente de todos, o uso de celular na direção, situação que está, atualmente, entre as três mais perigosas e registradas nos casos de colisão e atropelamento no mundo.
No elucidativo Atropelamento e Lesão Cerebral, os autores falam sobre como a mídia menciona as tragédias, mas não dá o mesmo enfoque para as vítimas não fatais, figuras da tessitura cotidiana que custam muito para os cofres públicos, sejam por seus tratamentos ou processos de aposentadoria. No Brasil, a maioria dos sinistros ocorre entre sexta-feira (noite) e domingo (final da tarde). Por que será? No mundo de hoje, diríamos que é porque “sextou”. E é exatamente por isso, o que nos abre as portas para conteúdo de Álcool, óbvio e quase senso comum, mas parece que ainda não nos alertamos assertivamente para esta substância que é, ao lado do excesso de velocidade, um dos elementos responsáveis pelas tragédias no trânsito, algumas irreversíveis para os envolvidos. No desfecho, temos Colisões e Lesão Medular, uma exposição dos problemas causados em determinadas situações de sinistro. Os autores explicam o que ocorre com o nosso corpo por meio de exemplos que reforçam a pequenez dos humanos diante dos impactos da dinâmica física de uma colisão ou atropelamento. É tudo muito assustador, mas ainda assim, nos pegamos sem seguir as orientações para evitar tudo aquilo que é mostrado nos casos descritos pelo livro. Ademais, em seu encerramento, os autores pedem reflexão e postura dos leitores, fornecendo ótimas sugestões de leitura complementar.
Leonardo Campos é Graduado e Mestre em Letras pela UFBA.
Crítico de Cinema, pesquisador, docente da UNIFTC e do Colégio Augusto Comte.
Autor da Trilogia do Tempo Crítico, livros publicados entre 2015 e 2018,
focados em leitura e análise da mídia: “Madonna Múltipla”,
“Como e Por Que Sou Crítico de Cinema” e “Êxodos – Travessias Críticas”.
Ficção, Educação e Trânsito
Sem data, sem assinatura
O filme uma é história de luto considerada como uma das mais atordoantes do cinema contemporâneo


Leonardo Campos
Pode ser diferente em cada região do planeta, mas a constante taxa de sinistros de trânsito envolvendo vítimas fatais é uma realidade contemporânea que infelizmente devasta não apenas países economicamente desfavorecidos, mas também os lugares considerados de “primeiro mundo”. O cinema, sabiamente, já trabalhou diversas vezes com atropelamentos, colisões, capotamentos, bem como condutores alcoolizados ou sem cinto de segurança, para o estabelecimento da catarse. Sem Data, Sem Assinatura, um apurado exemplar do cinema iraniano recente, é uma destas narrativas arrebatadoras sobre os desdobramentos de uma situação evitável na vida daqueles que perderam alguém e na trajetória daqueles sufocados pela angústia e culpa, isto é, indivíduos que precisam lidar com as consequências de seus erros, numa punição que pode ser até ser mais severa que a aplicação de algo previsto na legislação, afinal, ser preso ou responder processo pode ser tão doloroso quanto acordar e dormir todos os dias pensando na vida do outro que você destruiu após agir de maneira indevida no trânsito.
Lançado em 2017, a produção dirigida por Vahid Jalilvand, também responsável pelo roteiro, escrito ao lado de Ali Zarnegar, é uma lição de drama assertivo. Em seus 104 minutos, acompanhamos a saga de um homem devidamente equilibrado em sociedade, aquele tipo de personagem que goza dos privilégios de sua profissão, numa existência confortável e tranquila, tendo os habituais altos e baixos que qualquer ser humano enfrenta cotidianamente, mas que não precisa lidar com dificuldades mais extremas para garantir a sua sobrevivência. Ele é o catalisador das reflexões sobre ética em Sem Data, Sem Assinatura, uma história de luto considerada como uma das mais atordoantes do cinema contemporâneo. Na trama, seguimos os passos de Kaveh (Amir Aghave), um médico que colide com uma moto numa situação inesperada durante uma de duas travessias diárias. Ele não comete aquilo que geralmente contemplamos horrorizados nos telejornais e em muitos filmes: a omissão de socorro.
O médico percebe que o filho do condutor, machucado no pescoço, sofreu as consequências da forte colisão, mas não teve a vida ceifada. Tranquilo, ele propõe ajuda e o encaminha para o atendimento hospitalar. O susto, no entanto, surge no dia seguinte, quando chega ao ponto de trabalho para mais um plantão. Descobre que o menino morto é a vítima do acidente. Na autopsia, a pessoa responsável pelo perito identificou um problema de intoxicação alimentar, mas Kaveh acredita que o motivo real tenha sido a pancada durante o sinistro de trânsito. E agora? Como lidar com essa dúvida corrosiva, acompanhada de um sentimento de culpa devastador? É assim que ele não fica quieto e resolve investigar as causas da morte do garoto. Será mesmo que ele deve se sentir responsável pelo falecimento? Aqui, o espectador é colocado diante de uma trama instigante sobre atos irrisórios que mudam para sempre as nossas vidas, escolhas do presente que determinam tacitamente o nosso futuro.
Nada é tão fácil quanto o esperado, talvez mais mastigado e melodramático se fosse uma narrativa de estrutura estadunidense. Sem Data, Sem Assinatura trabalha em torno de clichês, mas propõe uma abordagem mais complexa de sua proposta. Com muitas cenas no interior de carros, satisfatoriamente concebidas pela ótima direção de fotografia, o filme reflete a realidade iraniana da falta de liberdade de expressão, algo curiosamente destacado na divulgação da produção em sua época de lançamento, escolha narrativa que também dialoga com o que está designado como tema do filme, isto é, a travessia de personagens pela vida, os embates entre as pessoas, em colisões cotidianas repletas de tensões, a maioria psicológicas, mas também físicas, como a tragédia que envolve o médico Kaveh e Moosa (Navid Mohammadzadeh), pai do garoto que perde a vida, talvez pelo sinistro ou quem sabe, pela intoxicação alimentar.
Leonardo Campos é Graduado e Mestre em Letras pela UFBA.
Crítico de Cinema, pesquisador, docente da UNIFTC e do Colégio Augusto Comte.
Autor da Trilogia do Tempo Crítico, livros publicados entre 2015 e 2018,
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