SIGA NOSSAS REDES SOCIAIS

Ficção, Educação e Trânsito

Turma da Mônica: Segurança Rodoviária

Essa edição mostra as preocupações que o condutor ou passageiro deve ter ao realizar uma viagem

Publicado

em

Turma da Mônica: Segurança Rodoviária
Foto: Reprodução

Professor Leonardo Campos

Educar para o trânsito requer seguir os dados estatísticos e as normas estabelecidas pela lei que rege a nossa mobilidade ao longo de todo o território brasileiro, isto é, o CTB (Código de Trânsito Brasileiro), atualizado recentemente. Mantendo-se norteado pela legislação, professores da educação básica e do nível superior podem empreender projetos envolventes e ensinar, crianças e adultos, a estabelecer postura que tenha como foco, o desenvolvimento de ações que reforcem um comportamento humano consciente e preocupado com a dinâmica dos nossos deslocamentos diários. Na edição A Turma da Mônica e a Segurança Rodoviária, os idealizadores da história tomaram como ponto de partida, as preocupações que todo cidadão, na posição de condutor ou passageiro, deve ter ao realizar uma viagem, mesmo que de curta distância. Como realizado na HQ anterior, iniciarei a análise com duas perguntas básicas, para testar o conhecimento do leitor. Vamos nessa?

1 – De acordo com o CTB, os animais podem ser transportados sem gaiolas/caixas especiais, contanto que um dos passageiros o mantenha firmemente seguro em seu colo, no banco traseiro. Diante do exposto e com base em seus conhecimentos, assinale a alternativa correta.
  • a) sim, o CTB reforça que os animais podem viajar desta maneira.
  • b) não, o CTB delineia que animais domésticos devem viajar dentro de uma caixa específica, tendo em vista manter a segurança de todos os passageiros.
2 – Ao viajar tendo como ponto de partida o Terminal Rodoviário de sua cidade, um grupo de pessoas pode, conforme a legislação, viajar em um veículo não regulamentado, mas com preço menos, mais acessível.
  • a) sim, os passageiros podem viajar tranquilamente, entretanto, o veículo de transporte sem licenciamento deve estar limpo, com todos os cintos de segurança e pneus calibrados.
  • b) não, por mais interessante que seja, o CTB reforça que veículos não licenciados ofertam riscos grandiosos, pois não passam por inspeções como os transportes regulamentados.

Agora, deixarei você com a leitura do quadrinho que é foco de nossa análise. Retornamos com reflexões no desfecho do texto, combinado?

Maurício de Sousa e o Projeto sobre Segurança Rodoviária Com a Turma da Mônica

Dinâmica e objetiva, Segurança Rodoviária e uma história bem curta, mais breve que a empreitada da Turma da Mônica e a Educação Para o Trânsito, entretanto, tão importante quanto no quesito conscientização sobre posturas que devemos adotar na posição de condutores e passageiros ao viajar. Muito além do que imagina parte dos leitores que associam histórias em quadrinhos ao público juvenil, a abordagem em questão pode ser reflexão para qualquer público e, distante da ideia de congelar a criatividade ou estabelecer um tom didático rígido, sem possibilidade de entretenimento, a edição aqui analisada mantém a estrutura humorada das demais narrativas do segmento criado pelos estúdios de Maurício de Sousa.

 

sem possibilidade de entretenimento, a edição aqui analisada mantém a estrutura humorada das demais narrativas do segmento criado pelos estúdios de Maurício de Sousa.

As indicações sobre trânsito não soam forçadas em nenhum momento e há um ritmo empolgante na condução do material, breve, como já mencionado, mas não menos elucidativo. A proposta, como sabemos, é educar para o trânsito. Aqui, o Sr. Cebola decide sair de férias. Inicialmente, aparentemente Cebolinha e Cascão são os únicos que vão acompanha-lo. O garoto que não gosta de banhos e teme qualquer gotícula de chuva questiona o amigo que troca o R por L e diz ser uma furada a ideia de o pai viajar e deixar o carro parado na garagem. Na lógica do jovem, também presente no pensamento de muitos condutores contemporâneos, não há motivação que consiga explicar tal postura. Se tem carro, por qual razão não viajar com mais liberdade? Essa é a lógica de Cascão, derrubada por Cebolinha logo diante, quando lhe explica os motivos de tal escolha por parte de seu pai, organizado para seguir de táxi para a rodoviária.

Essa é a lógica de Cascão, derrubada por Cebolinha logo diante, quando lhe explica os motivos de tal escolha por parte de seu pai, organizado para seguir de táxi para a rodoviária.

 

Segundo o personagem, o Sr. Cebola se encontra bastante estressado. Ele é um dos tantos condutores que vive a atual realidade da mobilidade, isto é, ruas com excesso de carros, poluição sonora, trabalho em excesso e demandas familiares. Importante destacar que esse é um grifo meu, baseado na interpretação do que é dito pelos personagens na história. Assim, o pai de Cebolinha anseia pelo momento de diversão e deseja não ter que assumir a responsabilidade grande que é dirigir na autoestrada. Feita as explicações, Mônica e Magali chegam para completar o grupo de viagem, uma delas, a garota que adora lanchar o tempo inteiro, com o seu gato Mingau numa caixa de transporte para animais domésticos. O utensílio é considerado um abuso pelos garotos, pois aparenta tomar muito espaço, mas logo o roteiro delineia a importância deste conteúdo para o acompanhamento de pets em viagens, um item obrigatório para a lei.

ANÚNCIO

Educar para o trânsito requer seguir os dados estatísticos e as normas estabelecidas pela lei que rege a nossa mobilidade ao longo de todo o

 

Feita essa primeira exposição, todos partem para o Terminal Rodoviário, focados em viajar e curtir os momentos de lazer na Vila Abobrinha. Ao chegar, no entanto, o Sr. Cebola passa por momentos de profundo estresse, haja vista a quantidade de condutores sem licenciamento que o abordam para ofertar uma viagem financeiramente mais “em conta”. Animado com a possibilidade de economizar, o senhor em busca de descanso e paz começa a ficar irritado depois que observa as condições precárias de algumas conduções. Antes de fechar logo de cara com o primeiro, os quatro integrantes mirins da viagem apontam todos os problemas presentes no veículo: pneus “carecas”, cadeiras sem cinto, dentre outros elementos que podem parecer bobagem, mas são altamente perigosos para os passageiros numa viagem curta ou longa, para dentro da mesma cidade ou para uma região mais distante. Convencido, Sr. Cebola desiste.

Educar para o trânsito requer seguir os dados estatísticos e as normas estabelecidas pela lei que rege a nossa mobilidade ao longo de todo o

Assim que se desinteressa, logo surge outro motorista com uma oferta igualmente tentadora. Todos os veículos, um pior que o outro. É quando o Sr. Cebola dá um rompante e diz que não aguenta mais tanta pressão e que viajou focado em descansar, por isso, não almeja tantos desafios antes mesmo de pegar a estrada. Um funcionário da empresa licenciada do Terminal Rodoviário aparece, faz os devidos esclarecimentos e o convida para viajar com mais segurança e tranquilidade. Didaticamente, o personagem explica a importância da vistoria legalizada dos transportes licenciados, dando destaque aos extintores de incêndio, saídas de emergência, para-brisas limpos e bem instalados, cintos de segurança sem cortes e revisados constantemente, dentre outras coisas que transformam qualquer viagem numa travessia mais confortável e com menores riscos de sinistros que recorram numa tragédia para os passageiros.

De volta aos questionamentos da abertura. Vamos trabalhar nas respostas?

O destino final da viagem de Sr. Cebola com os jovens da Turma da Mônica é a roça de Chico Bento, travessia que se tornou segura após o acompanhamento das regras de trânsito estabelecidas pelo fiscal ao ofertar as condições necessárias para o deslocamento dos personagens. Para isso, foi preciso aprender e se manter conectado com as normas do CTB. Por isso, importante que você, caro leitor, veja na leitura dos quadrinhos e desta análise, uma oportunidade para refletir e permitir que outras pessoas tenham a mesma chance. Compartilhe essas ideias, faça a sua parte e torne o trânsito mais humano e seguro. A mídia e os órgãos públicos, focados na fiscalização, engenharia e educação buscam, por meio de campanhas, colaborar com todos esses processos, mas nós, na posição de ciclistas, pedestres ou motorista, temos que cumprir devidamente os nossos papeis exercendo a cidadania, combinado?

De volta aos questionamentos da abertura desta reflexão, vamos agora estabelecer os comentários. Se na primeira questão, você assinalou a alternativa (B), a sua resposta está correta. Para melhor compreensão, temos que nos ater aos artigos 169, 252 e 235 do Código de Trânsito Brasileiro. No artigo 169, o texto delineia que o condutor que viajar com o animal solto dentro do veículo abre precedentes para distrações e, com isso, comete infração leve com aplicação de multa. Já no artigo 252, temos destacado que não é permitido, sob nenhuma hipótese, que os animais fiquem soltos ou no colo dos ocupantes, tampouco no porta-malas ou na caçamba de picapes. Caso ocorra, a ação é considerada uma infração média e também sujeita ao pagamento de multa. Ademais, no artigo 235, a lei prevê retenção do veículo e multa, com penalidade grave, para os condutores que guiarem animais nas partes externas do veículo, com a cabeça de fora ou na carroceria de caminhões e caminhonetes.

ANÚNCIO

No caso dos transportes clandestinos, também temos infrações previstas por lei. Não significa que por veículos de transporte regulamentados, sinistros deixem de acontecer. Essa não é a linha de pensamento estabelecida por aqui. A ideia é que temos maiores chances de evitar problemas e tragédias quando o transporte passa por inspeções e está regido por leis constantemente. Sabemos que em nossa realidade, muita gente acaba cedendo e tomando esse tipo de condução para economizar, ganhar tempo, garantir a sua chegada ao ponto estabelecido como destino, mas é preciso maior cautela, pois ao não ser devidamente cadastrado para essa função, os meios de transporte clandestinos deixam de lado a manutenção, colocando todos os seus passageiros em risco. Segundo o nosso CTB, o transporte remunerado de pessoas é proibido, como destaca o artigo 231, salvo os casos de mototáxis, táxis e atualmente, os aplicativos Uber, 99 POP, dentre outros.

Como complemento da história em quadrinho, Turma da Mônica e a Segurança Rodoviária traz duas páginas de passatempos com diagramas, voltados aos ensinamentos sobre os principais itens de vistoria necessários para uma viagem segura, além de retratar os benefícios concedidos aos idosos e a maneira ideal para condução de animais domésticos dentro de um veículo de transporte, preocupação que vai desde o posicionamento do pet numa caixa até os cartões que confirma a vacinação atualizada, tendo em vista preservar a saúde de todos os passageiros envolvidos na viagem. Elucidativa e didática, sem deixar de ser divertida, a edição em questão educa e oferta aos professores interessados no tema, uma série de pontos de partida para discussões mais amplas, possíveis de relacionamento com dados estatísticos, trechos específicos do Código de Trânsito Brasileiro, poemas, contos, dentre outros materiais para transformar a aula numa empreitada leve, divertida e bastante pedagógica.

Leonardo Campos é Graduado e Mestre em Letras pela UFBA.
Crítico de Cinema, pesquisador, docente da UNIFTC e do Colégio Augusto Comte.
Autor da Trilogia do Tempo Crítico, livros publicados entre 2015 e 2018,
focados em leitura e análise da mídia: “Madonna Múltipla”,
“Como e Por Que Sou Crítico de Cinema” e “Êxodos – Travessias Críticas”.

Ficção, Educação e Trânsito

Trânsito, Educação e Xadrez

Uma publicação interessante sobre o uso desta modalidade lúdica para o âmbito do ensino e da aprendizagem

Publicado

em

O xadrez é um jogo de tabuleiro que pede um jogador muito atento, inteligente e com as adversidades de uma partida. O trânsito, da mesma
Foto: Divulgação

Leonardo Campos

O xadrez é um jogo de tabuleiro que pede um jogador muito atento, inteligente e sagaz para lidar com as adversidades de uma partida. O trânsito, da mesma maneira, transforma o condutor em jogador e o coloca numa situação de atenção necessário, cuidado constante diante dos possíveis obstáculos, bem como uma postura defensiva para saber lidar com o “outro” que divide o mesmo espaço neste tabuleiro da vida. Foi com esta ideia que Eurípedes Kuhl, experiente no Serviço Militar, bem como em Administração e Segurança do Trabalho, desenvolveu Trânsito, Educação e Xadrez, uma publicação interessante sobre o uso desta modalidade lúdica para o âmbito do ensino e da aprendizagem, conteúdo que parece muito complexo em seu preâmbulo, mas que vai delineando as suas intencionalidades ao passo que cada página de leitura é avançada. Se você, caro leitor, é alguém como eu, um leigo total das estratégias do xadrez, recomendo que assista ao máximo de tutoriais que puder, leia manuais, consulte o passo a passo deste jogo de tabuleiro para que a sua dinâmica no âmbito educacional seja a mais produtiva possível, combinado?

Em sua abertura, o autor comenta brevemente o estabelecimento do Código de Trânsito Brasileiro, dando destaque aos avanços que surgiram com os desdobramentos da aplicação desta legislação em 1997. Ele reflete, por sua vez, que as nossas ruas e rodovias estão longe de atingirem os ideais previstos pelo CTB, haja vista as suas respectivas estruturas problemáticas. Além disso, nos permite refletir que não apenas a questão geográfica da mobilidade, mas o fator humano, algo que mesmo diante das punições previstas nos artigos legais, ainda é um ideal que distante e precisa, constantemente, ser alcançando por meio de campanhas e demais ações educativas. É quando entra o xadrez. A sua apresentação da famosa partida de 1851, intitulada A Imortal, é demasiadamente vaga, não nos deixando entender o propósito de sua inserção no material. É uma passagem superficial, desnecessária e deslocada. Mas não atrapalha o andamento educativo do livro.

Logo mais, há uma explicação básica para os elementos que compõem o tabuleiro, bem como um breve percurso histórico dos significados destas posições. Considerado como uma ciência autêntica, envolto em olimpíadas com jogadores que levam as suas regras com seriedade, o xadrez possui um tabuleiro com espaços em preto e branco. São as vias de condução das peças. Neste jogo, temos o Rei, a Torre, o Bispo, a Dama, o Peão e o Cavalo, todos integrantes desta travessia que mescla atenção, sagacidade e inteligência, na busca de um dos jogadores em apanhar as peças do adversário e dar o xeque-mate. Cada movimentação do jogador envolvido, em associação com a dinâmica do trânsito, é preciso atuar com atitudes seguras, eficientes, tendo em vista evitar colisões, incorreções que não permitem erro, levando-o ao trágico, dentre outras iniciativas formidáveis quando associadas com nossa conduta na mobilidade.

Diante do exposto, como já dito, no xadrez, o grande lance de jogador é a atenção. Se você se perde, adentra numa zona de perigo, como o trânsito. Pedestres, ciclistas, motociclistas e condutores precisam manter-se atentos, sem o uso indevido do celular, distantes dos efeitos do álcool e conscientes dos limites velocidades das vias que atravessam. No trânsito, temos que colocar em prática a humanidade que nos define e atuar de maneira educada, para que as coisas fluam adequadamente para todos. Adequado, aqui, designa segurança. Cada seção há uma frase de epígrafe, logo no começo da representação do quadro, como nos exemplos destacados nestas ilustrações. Didático, o autor relaciona posturas comuns do trânsito com a ação inconsequente ou devidamente cidadã de cada jogador diante do tabuleiro. Há o rude, o afobado, o confuso, o hábil, o atrevido, em linhas gerais, as cabíveis alegorias para o que encontramos cotidianamente no cenário da mobilidade, seja como pedestre a aguardar um ônibus, passageiro em deslocamento no interior do Uber, ciclista ou motociclista numa travessia pelas pistas que cortam as nossas cidades, em suma, qualquer situação de trânsito do nosso dia.

Leonardo Campos é Graduado e Mestre em Letras pela UFBA.
Crítico de Cinema, pesquisador, docente da UNIFTC e do Colégio Augusto Comte.
Autor da Trilogia do Tempo Crítico, livros publicados entre 2015 e 2018,
focados em leitura e análise da mídia: “Madonna Múltipla”,
“Como e Por Que Sou Crítico de Cinema” e “Êxodos – Travessias Críticas”.
Continue Lendo

Ficção, Educação e Trânsito

Rota de Colisão

Ao longo de suas 93 páginas, Rota de Colisão: A Cidade, O Trânsito e Você debate segurança e cidadania no trânsito

Publicado

em

Os impactos dos sinistros de trânsito, fatais ou com vítimas acometidas por sequelas, tragédias que antes eram chamadas de acidentes, são apresentados por meio de um texto coeso, coerente e dinâmico em Rota de Colisão: A Cidade, O Trânsito e Você, publicação de 2007, assinada pelos especialistas Eduardo Biavati e Heloisa Martins. O termo acidente, como nós sabemos, expressa algo imprevisto, furtivo, diferente do que contemplamos com horror em nosso cenário de mobilidade cotidiano, espaço onde situações evitáveis poderiam não acontecer e ceifar tantas vidas ativas, numa celeuma que causa desordem não apenas diante dos familiares e amigos enlutados, mas também ocasiona graves crises econômicas para uma nação que deixa de realizar amplos investimentos em outras áreas para atender aos vitimados com sequelas, dependentes de aposentadorias, bem como as cifras que os sinistros custam para o SUS.  No livro, a cidade não deixa de ter a sua culpa. Zonas com infraestrutura inacabada, projetos problemáticos, assim como o comportamento humano no trânsito, carente de educação por parte de muitos condutores, pedestres e ciclistas. Focado na importância do exercício da cidadania, o conteúdo em questão é fluente, de poucas páginas e funciona como material para educar a população em geral, além de ser subsídio básico para projetos de educação para o trânsito.

Leonardo Campos

Os impactos dos sinistros de trânsito, fatais ou com vítimas acometidas por sequelas, tragédias que antes eram chamadas de acidentes, são apresentados por meio de um texto coeso, coerente e dinâmico em Rota de Colisão: A Cidade, O Trânsito e Você, publicação de 2007, assinada pelos especialistas Eduardo Biavati e Heloisa Martins. O termo acidente, como nós sabemos, expressa algo imprevisto, furtivo, diferente do que contemplamos com horror em nosso cenário de mobilidade cotidiano, espaço onde situações evitáveis poderiam não acontecer e ceifar tantas vidas ativas, numa celeuma que causa desordem não apenas diante dos familiares e amigos enlutados, mas também ocasiona graves crises econômicas para uma nação que deixa de realizar amplos investimentos em outras áreas para atender aos vitimados com sequelas, dependentes de aposentadorias, bem como as cifras que os sinistros custam para o SUS.  No livro, a cidade não deixa de ter a sua culpa. Zonas com infraestrutura inacabada, projetos problemáticos, assim como o comportamento humano no trânsito, carente de educação por parte de muitos condutores, pedestres e ciclistas. Focado na importância do exercício da cidadania, o conteúdo em questão é fluente, de poucas páginas e funciona como material para educar a população em geral, além de ser subsídio básico para projetos de educação para o trânsito.

Ao longo de suas 93 páginas, Rota de Colisão: A Cidade, O Trânsito e Você debate segurança e cidadania no trânsito em seus seis capítulos curtos, todos ilustrados e com desenvolvimento de ideias pedagogicamente dinâmicas para o entendimento de todos os públicos. Trânsito e Transitar, o primeiro capítulo, versa sobre como o movimento das ruas depende da atividade humana que acontece ao redor dos espaços de circulação, apresentando questões sobre o desenho das cidades e a solução de alargamento das pistas como uma opção que não resolve os problemas no cenário da mobilidade urbana contemporânea, algo que envolve demolição de prédios, casas, indenizações, dentre outras circunstâncias. Construir novas avenidas em zonas já estabelecidas não é algo tão tranquilo quanto se imagina. Os autores refletem a quantidade de carros na rua, a questão do meio ambiente degradado pelos combustíveis e o desinteresse da população pelos modais no deslocamento, não apenas por culpa dos usuários, mas pelas condições precárias de transporte em muitas zonas urbanas brasileiras.

No desenvolvimento de As Regras: De Quem é A Vez, o texto relaciona os espaços urbanos com regras de um jogo, onde precisamos seguis as orientações adequadamente para vencer as etapas e conquistar a linha de chegada. São alegorias importantes para transformação do que está previsto por lei em explicações pedagógicas para o grande público. Obedecer às regras é algo chato? Sim, mas estamos num espaço coletivo, por isso, temos que levar em consideração os nossos interesses, mas as vontades alheias, afinal, não somos donos da rua. Existem centenas de regras no Código de Trânsito Brasileiro, a maioria, desconhecida pela população, sendo uma delas o destaque do capítulo: a hierarquia de responsabilidades ao trafegar, espaço que tem o pedestre como elemento mais frágil diante de ciclistas, carros, caminhões e ônibus.

Em Os Acidentes: Onde Mora o Perigo, terceiro capítulo da jornada de Rota de Colisão: A Cidade, O Trânsito e Você, encontramos algumas pontuações sobre os chamados acidentes, agora sinistros de trânsito, conforme a atual legislação, eventos que não devem ser pensados como obras do destino, mas acontecimentos que podem ser evitados se todos que circulam pelas vias da cidade obedecessem ao que está disposto no CTB e também respeitasse o lugar de passagem de cada um. O grande índice de tragédias nas vias não para de crescer pelo fato de nós, agentes do processo de mobilidade cotidiana, não respeitamos adequadamente o outro, colocando-se muitas vezes como irresponsáveis. Uso de álcool, mesmo na quantidade mínima, não por o cinto de segurança e exceder a velocidade: três grandes problemas contemporâneos, somados ao mais recente de todos, o uso de celular na direção, situação que está, atualmente, entre as três mais perigosas e registradas nos casos de colisão e atropelamento no mundo.

No elucidativo Atropelamento e Lesão Cerebral, os autores falam sobre como a mídia menciona as tragédias, mas não dá o mesmo enfoque para as vítimas não fatais, figuras da tessitura cotidiana que custam muito para os cofres públicos, sejam por seus tratamentos ou processos de aposentadoria. No Brasil, a maioria dos sinistros ocorre entre sexta-feira (noite) e domingo (final da tarde). Por que será? No mundo de hoje, diríamos que é porque “sextou”. E é exatamente por isso, o que nos abre as portas para conteúdo de Álcool, óbvio e quase senso comum, mas parece que ainda não nos alertamos assertivamente para esta substância que é, ao lado do excesso de velocidade, um dos elementos responsáveis pelas tragédias no trânsito, algumas irreversíveis para os envolvidos. No desfecho, temos Colisões e Lesão Medular, uma exposição dos problemas causados em determinadas situações de sinistro. Os autores explicam o que ocorre com o nosso corpo por meio de exemplos que reforçam a pequenez dos humanos diante dos impactos da dinâmica física de uma colisão ou atropelamento. É tudo muito assustador, mas ainda assim, nos pegamos sem seguir as orientações para evitar tudo aquilo que é mostrado nos casos descritos pelo livro.  Ademais, em seu encerramento, os autores pedem reflexão e postura dos leitores, fornecendo ótimas sugestões de leitura complementar.

Leonardo Campos é Graduado e Mestre em Letras pela UFBA.
Crítico de Cinema, pesquisador, docente da UNIFTC e do Colégio Augusto Comte.
Autor da Trilogia do Tempo Crítico, livros publicados entre 2015 e 2018,
focados em leitura e análise da mídia: “Madonna Múltipla”,
“Como e Por Que Sou Crítico de Cinema” e “Êxodos – Travessias Críticas”.
ANÚNCIO
Continue Lendo

Ficção, Educação e Trânsito

Sem data, sem assinatura

O filme uma é história de luto considerada como uma das mais atordoantes do cinema contemporâneo

Publicado

em

colisões, capotamentos, bem como condutores alcoolizados ou sem cinto de segurança, para o estabelecimento da catarse. Sem Data,
Foto: Divulgação

Leonardo Campos

Pode ser diferente em cada região do planeta, mas a constante taxa de sinistros de trânsito envolvendo vítimas fatais é uma realidade contemporânea que infelizmente devasta não apenas países economicamente desfavorecidos, mas também os lugares considerados de “primeiro mundo”. O cinema, sabiamente, já trabalhou diversas vezes com atropelamentos, colisões, capotamentos, bem como condutores alcoolizados ou sem cinto de segurança, para o estabelecimento da catarse. Sem Data, Sem Assinatura, um apurado exemplar do cinema iraniano recente, é uma destas narrativas arrebatadoras sobre os desdobramentos de uma situação evitável na vida daqueles que perderam alguém e na trajetória daqueles sufocados pela angústia e culpa, isto é, indivíduos que precisam lidar com as consequências de seus erros, numa punição que pode ser até ser mais severa que a aplicação de algo previsto na legislação, afinal, ser preso ou responder processo pode ser tão doloroso quanto acordar e dormir todos os dias pensando na vida do outro que você destruiu após agir de maneira indevida no trânsito.

Lançado em 2017, a produção dirigida por Vahid Jalilvand, também responsável pelo roteiro, escrito ao lado de Ali Zarnegar, é uma lição de drama assertivo. Em seus 104 minutos, acompanhamos a saga de um homem devidamente equilibrado em sociedade, aquele tipo de personagem que goza dos privilégios de sua profissão, numa existência confortável e tranquila, tendo os habituais altos e baixos que qualquer ser humano enfrenta cotidianamente, mas que não precisa lidar com dificuldades mais extremas para garantir a sua sobrevivência. Ele é o catalisador das reflexões sobre ética em Sem Data, Sem Assinatura, uma história de luto considerada como uma das mais atordoantes do cinema contemporâneo. Na trama, seguimos os passos de Kaveh (Amir Aghave), um médico que colide com uma moto numa situação inesperada durante uma de duas travessias diárias. Ele não comete aquilo que geralmente contemplamos horrorizados nos telejornais e em muitos filmes: a omissão de socorro.

O médico percebe que o filho do condutor, machucado no pescoço, sofreu as consequências da forte colisão, mas não teve a vida ceifada. Tranquilo, ele propõe ajuda e o encaminha para o atendimento hospitalar. O susto, no entanto, surge no dia seguinte, quando chega ao ponto de trabalho para mais um plantão. Descobre que o menino morto é a vítima do acidente. Na autopsia, a pessoa responsável pelo perito identificou um problema de intoxicação alimentar, mas Kaveh acredita que o motivo real tenha sido a pancada durante o sinistro de trânsito. E agora? Como lidar com essa dúvida corrosiva, acompanhada de um sentimento de culpa devastador? É assim que ele não fica quieto e resolve investigar as causas da morte do garoto. Será mesmo que ele deve se sentir responsável pelo falecimento? Aqui, o espectador é colocado diante de uma trama instigante sobre atos irrisórios que mudam para sempre as nossas vidas, escolhas do presente que determinam tacitamente o nosso futuro.

Nada é tão fácil quanto o esperado, talvez mais mastigado e melodramático se fosse uma narrativa de estrutura estadunidense. Sem Data, Sem Assinatura trabalha em torno de clichês, mas propõe uma abordagem mais complexa de sua proposta. Com muitas cenas no interior de carros, satisfatoriamente concebidas pela ótima direção de fotografia, o filme reflete a realidade iraniana da falta de liberdade de expressão, algo curiosamente destacado na divulgação da produção em sua época de lançamento, escolha narrativa que também dialoga com o que está designado como tema do filme, isto é, a travessia de personagens pela vida, os embates entre as pessoas, em colisões cotidianas repletas de tensões, a maioria psicológicas, mas também físicas, como a tragédia que envolve o médico Kaveh e Moosa (Navid Mohammadzadeh), pai do garoto que perde a vida, talvez pelo sinistro ou quem sabe, pela intoxicação alimentar.

Leonardo Campos é Graduado e Mestre em Letras pela UFBA.
Crítico de Cinema, pesquisador, docente da UNIFTC e do Colégio Augusto Comte.
Autor da Trilogia do Tempo Crítico, livros publicados entre 2015 e 2018,
focados em leitura e análise da mídia: “Madonna Múltipla”,
“Como e Por Que Sou Crítico de Cinema” e “Êxodos – Travessias Críticas”.
Continue Lendo

Mais Lidas