Bahia Pra Você

Turma da Mônica: Segurança Rodoviária

Professor Leonardo Campos

Educar para o trânsito requer seguir os dados estatísticos e as normas estabelecidas pela lei que rege a nossa mobilidade ao longo de todo o território brasileiro, isto é, o CTB (Código de Trânsito Brasileiro), atualizado recentemente. Mantendo-se norteado pela legislação, professores da educação básica e do nível superior podem empreender projetos envolventes e ensinar, crianças e adultos, a estabelecer postura que tenha como foco, o desenvolvimento de ações que reforcem um comportamento humano consciente e preocupado com a dinâmica dos nossos deslocamentos diários. Na edição A Turma da Mônica e a Segurança Rodoviária, os idealizadores da história tomaram como ponto de partida, as preocupações que todo cidadão, na posição de condutor ou passageiro, deve ter ao realizar uma viagem, mesmo que de curta distância. Como realizado na HQ anterior, iniciarei a análise com duas perguntas básicas, para testar o conhecimento do leitor. Vamos nessa?

1 – De acordo com o CTB, os animais podem ser transportados sem gaiolas/caixas especiais, contanto que um dos passageiros o mantenha firmemente seguro em seu colo, no banco traseiro. Diante do exposto e com base em seus conhecimentos, assinale a alternativa correta.
2 – Ao viajar tendo como ponto de partida o Terminal Rodoviário de sua cidade, um grupo de pessoas pode, conforme a legislação, viajar em um veículo não regulamentado, mas com preço menos, mais acessível.

Agora, deixarei você com a leitura do quadrinho que é foco de nossa análise. Retornamos com reflexões no desfecho do texto, combinado?

Maurício de Sousa e o Projeto sobre Segurança Rodoviária Com a Turma da Mônica

Dinâmica e objetiva, Segurança Rodoviária e uma história bem curta, mais breve que a empreitada da Turma da Mônica e a Educação Para o Trânsito, entretanto, tão importante quanto no quesito conscientização sobre posturas que devemos adotar na posição de condutores e passageiros ao viajar. Muito além do que imagina parte dos leitores que associam histórias em quadrinhos ao público juvenil, a abordagem em questão pode ser reflexão para qualquer público e, distante da ideia de congelar a criatividade ou estabelecer um tom didático rígido, sem possibilidade de entretenimento, a edição aqui analisada mantém a estrutura humorada das demais narrativas do segmento criado pelos estúdios de Maurício de Sousa.

 

sem possibilidade de entretenimento, a edição aqui analisada mantém a estrutura humorada das demais narrativas do segmento criado pelos estúdios de Maurício de Sousa.

As indicações sobre trânsito não soam forçadas em nenhum momento e há um ritmo empolgante na condução do material, breve, como já mencionado, mas não menos elucidativo. A proposta, como sabemos, é educar para o trânsito. Aqui, o Sr. Cebola decide sair de férias. Inicialmente, aparentemente Cebolinha e Cascão são os únicos que vão acompanha-lo. O garoto que não gosta de banhos e teme qualquer gotícula de chuva questiona o amigo que troca o R por L e diz ser uma furada a ideia de o pai viajar e deixar o carro parado na garagem. Na lógica do jovem, também presente no pensamento de muitos condutores contemporâneos, não há motivação que consiga explicar tal postura. Se tem carro, por qual razão não viajar com mais liberdade? Essa é a lógica de Cascão, derrubada por Cebolinha logo diante, quando lhe explica os motivos de tal escolha por parte de seu pai, organizado para seguir de táxi para a rodoviária.

 

Segundo o personagem, o Sr. Cebola se encontra bastante estressado. Ele é um dos tantos condutores que vive a atual realidade da mobilidade, isto é, ruas com excesso de carros, poluição sonora, trabalho em excesso e demandas familiares. Importante destacar que esse é um grifo meu, baseado na interpretação do que é dito pelos personagens na história. Assim, o pai de Cebolinha anseia pelo momento de diversão e deseja não ter que assumir a responsabilidade grande que é dirigir na autoestrada. Feita as explicações, Mônica e Magali chegam para completar o grupo de viagem, uma delas, a garota que adora lanchar o tempo inteiro, com o seu gato Mingau numa caixa de transporte para animais domésticos. O utensílio é considerado um abuso pelos garotos, pois aparenta tomar muito espaço, mas logo o roteiro delineia a importância deste conteúdo para o acompanhamento de pets em viagens, um item obrigatório para a lei.

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Feita essa primeira exposição, todos partem para o Terminal Rodoviário, focados em viajar e curtir os momentos de lazer na Vila Abobrinha. Ao chegar, no entanto, o Sr. Cebola passa por momentos de profundo estresse, haja vista a quantidade de condutores sem licenciamento que o abordam para ofertar uma viagem financeiramente mais “em conta”. Animado com a possibilidade de economizar, o senhor em busca de descanso e paz começa a ficar irritado depois que observa as condições precárias de algumas conduções. Antes de fechar logo de cara com o primeiro, os quatro integrantes mirins da viagem apontam todos os problemas presentes no veículo: pneus “carecas”, cadeiras sem cinto, dentre outros elementos que podem parecer bobagem, mas são altamente perigosos para os passageiros numa viagem curta ou longa, para dentro da mesma cidade ou para uma região mais distante. Convencido, Sr. Cebola desiste.

Assim que se desinteressa, logo surge outro motorista com uma oferta igualmente tentadora. Todos os veículos, um pior que o outro. É quando o Sr. Cebola dá um rompante e diz que não aguenta mais tanta pressão e que viajou focado em descansar, por isso, não almeja tantos desafios antes mesmo de pegar a estrada. Um funcionário da empresa licenciada do Terminal Rodoviário aparece, faz os devidos esclarecimentos e o convida para viajar com mais segurança e tranquilidade. Didaticamente, o personagem explica a importância da vistoria legalizada dos transportes licenciados, dando destaque aos extintores de incêndio, saídas de emergência, para-brisas limpos e bem instalados, cintos de segurança sem cortes e revisados constantemente, dentre outras coisas que transformam qualquer viagem numa travessia mais confortável e com menores riscos de sinistros que recorram numa tragédia para os passageiros.

De volta aos questionamentos da abertura. Vamos trabalhar nas respostas?

O destino final da viagem de Sr. Cebola com os jovens da Turma da Mônica é a roça de Chico Bento, travessia que se tornou segura após o acompanhamento das regras de trânsito estabelecidas pelo fiscal ao ofertar as condições necessárias para o deslocamento dos personagens. Para isso, foi preciso aprender e se manter conectado com as normas do CTB. Por isso, importante que você, caro leitor, veja na leitura dos quadrinhos e desta análise, uma oportunidade para refletir e permitir que outras pessoas tenham a mesma chance. Compartilhe essas ideias, faça a sua parte e torne o trânsito mais humano e seguro. A mídia e os órgãos públicos, focados na fiscalização, engenharia e educação buscam, por meio de campanhas, colaborar com todos esses processos, mas nós, na posição de ciclistas, pedestres ou motorista, temos que cumprir devidamente os nossos papeis exercendo a cidadania, combinado?

De volta aos questionamentos da abertura desta reflexão, vamos agora estabelecer os comentários. Se na primeira questão, você assinalou a alternativa (B), a sua resposta está correta. Para melhor compreensão, temos que nos ater aos artigos 169, 252 e 235 do Código de Trânsito Brasileiro. No artigo 169, o texto delineia que o condutor que viajar com o animal solto dentro do veículo abre precedentes para distrações e, com isso, comete infração leve com aplicação de multa. Já no artigo 252, temos destacado que não é permitido, sob nenhuma hipótese, que os animais fiquem soltos ou no colo dos ocupantes, tampouco no porta-malas ou na caçamba de picapes. Caso ocorra, a ação é considerada uma infração média e também sujeita ao pagamento de multa. Ademais, no artigo 235, a lei prevê retenção do veículo e multa, com penalidade grave, para os condutores que guiarem animais nas partes externas do veículo, com a cabeça de fora ou na carroceria de caminhões e caminhonetes.

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No caso dos transportes clandestinos, também temos infrações previstas por lei. Não significa que por veículos de transporte regulamentados, sinistros deixem de acontecer. Essa não é a linha de pensamento estabelecida por aqui. A ideia é que temos maiores chances de evitar problemas e tragédias quando o transporte passa por inspeções e está regido por leis constantemente. Sabemos que em nossa realidade, muita gente acaba cedendo e tomando esse tipo de condução para economizar, ganhar tempo, garantir a sua chegada ao ponto estabelecido como destino, mas é preciso maior cautela, pois ao não ser devidamente cadastrado para essa função, os meios de transporte clandestinos deixam de lado a manutenção, colocando todos os seus passageiros em risco. Segundo o nosso CTB, o transporte remunerado de pessoas é proibido, como destaca o artigo 231, salvo os casos de mototáxis, táxis e atualmente, os aplicativos Uber, 99 POP, dentre outros.

Como complemento da história em quadrinho, Turma da Mônica e a Segurança Rodoviária traz duas páginas de passatempos com diagramas, voltados aos ensinamentos sobre os principais itens de vistoria necessários para uma viagem segura, além de retratar os benefícios concedidos aos idosos e a maneira ideal para condução de animais domésticos dentro de um veículo de transporte, preocupação que vai desde o posicionamento do pet numa caixa até os cartões que confirma a vacinação atualizada, tendo em vista preservar a saúde de todos os passageiros envolvidos na viagem. Elucidativa e didática, sem deixar de ser divertida, a edição em questão educa e oferta aos professores interessados no tema, uma série de pontos de partida para discussões mais amplas, possíveis de relacionamento com dados estatísticos, trechos específicos do Código de Trânsito Brasileiro, poemas, contos, dentre outros materiais para transformar a aula numa empreitada leve, divertida e bastante pedagógica.

Leonardo Campos é Graduado e Mestre em Letras pela UFBA.
Crítico de Cinema, pesquisador, docente da UNIFTC e do Colégio Augusto Comte.
Autor da Trilogia do Tempo Crítico, livros publicados entre 2015 e 2018,
focados em leitura e análise da mídia: “Madonna Múltipla”,
“Como e Por Que Sou Crítico de Cinema” e “Êxodos – Travessias Críticas”.
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