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Ficção, Educação e Trânsito

Turma da Mônica: Educação no trânsito não tem idade

Educando nossa turminha de hoje, formaremos grandes condutores do amanhã

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Fotos: Reprodução

Professor Leonardo Campos

Antes de iniciar a análise desta elucidativa edição da Turma da Mônica sobre educação para o trânsito, deixo um desafio para você, caro leitor, voltado aos seus conhecimentos sobre regras básicas para a conduta no trânsito, tendo em vista obedecer a legislação vigente do Código de Trânsito Brasileiro. Vamos nessa? Leia as perguntas, responda para si mesmo e no desfecho do texto, observe em que grau está o seu conhecimento sobre o assunto.

1 – De acordo com a lei, crianças devem ser conduzidas no banco traseiro?
  • a) sim.
  • b) não.
  • c) facultativo.
2 – Ao atravessar com uma criança, o adulto deve:
  • a) carregá-la no colo.
  • b) segurar firmemente o seu pulso.
  • c) deixar a criança ir na frente e acompanhar atentamente o seu deslocamento.

Agora, deixarei você com a leitura do quadrinho que é foco de nossa análise. Retornamos com reflexões no desfecho do texto, combinado?

Maurício de Sousa e o projeto sobre educação para o trânsito com a Turma da Mônica

Educando nossa turminha de hoje, formaremos grandes condutores do amanhã. Salvaguardadas as devidas proporções, é o mesmo que resgatar uma das mais brilhantes frases do filósofo e educador Paulo Freire, que nos diz “educai as crianças para não ter que punir os adultos”. Esse é o foco desta edição especial da Turma da Mônica, voltada exclusivamente para pontos básicos no campo da educação para o trânsito, numa história com situações corriqueiras e aparentemente banais, mas que se descuidadas, definem o destino dos envolvidos em algo que muitas vezes, pode ser evitado com cautela e aplicação dos princípios básicos para pedestres e condutores de qualquer modal. Com 18 páginas de história e duas seções preenchidas com passatempos sobre interpretação de placas de trânsito, acompanhamos o conteúdo dentro dos padrões estabelecidos por Maurício de Sousa e sua equipe.

Para os leitores habituais do universo de personagens que atravessou a cultura dos quadrinhos há gerações, percebemos que o intuito de ser pedagógico não altera a qualidade visual do material, mas a história é bastante simplista, cheia de conexões por coincidências e humor mais moderado que o habitual, numa demonstração de busca por exclusividade didática na concepção da proposta. O estilo mantém as cores vibrantes e intensas, costumeiramente utilizadas pela equipe criativa de Maurício de Sousa. Cenas diurnas, uso constante do vermelho para dar destaque aos pontos de maior importância e balões com onomatopeias reforçam, por meio dos sons oriundos desta figura de linguagem, os perigos vivenciados por personagens que cometem alguns atos inconsequentes e recebem as lições de aprendizagem sobre como se portar em situações de trânsito, tanto os pedestres quanto os condutores.

Basicamente, a história nos apresenta Cebolinha e Cascão indo ao jogo de futebol com outros garotos da turma, quando passam por Franjinha e conversam rapidamente. Diferente da dupla, o jovem lê uma revista sobre educação para o trânsito que entregue na escola. Os meninos negam saber mais sobre o assunto depois que o leitor oferece o material para eles também darem uma olhada. Mais adiante, antes de atravessar a rua, Cascão é questionado por Cebolinha em relação ao seu comportamento descuidado ao atravessar a rua sem olhar para todos os lados e quase sofrer um atropelamento. Nessa mesma sequência, os dois discutem sobre atravessar ou não pela faixa de pedestres e um guarda de trânsito aparece para orienta-los e falar sobre a importância de cada um dentro da dinâmica da mobilidade. O respeito aos semáforos, a criança que deve atravessar a rua com o adulto a segurar firmemente o seu pulso e evitar brincadeiras próximo aos espaços de deslocamento público de automóveis são alguns pontos de destaque.

Antes de iniciar a análise desta elucidativa edição da Turma da Mônica sobre educação para o trânsito, deixo um desafio para você, caro leitor,

Depois dessa empreitada inicial com os jovens pedestres, a história nos desloca para o interior do carro do pai de Magali, condutor que leva a filha e sua amiga Mônica para um passeio. Enquanto a visitante comenta a postura de seu pai na direção, Magali se comporta de maneira inadequada, sem cinto, inquieta no automóvel, postura que faz o seu responsável repreendê-la e sugerir que tenha mais cuidado para não atrapalhar a concentração do motorista que deve dirigir sem dispersões. Crianças no banco de trás e com o cinto de segurança são as informações que desfecham esse bloco, com uma breve menção aos motociclistas e o zelo necessário com capacete e outros recursos que o protejam numa possível situação de risco no trânsito. Logo mais, a história nos leva novamente para Cebolinha e Cascão e flerta com os skates e bicicletas. Neste momento, Titi, outro personagem deste universo, também é encontrado lendo a mesma revista sobre trânsito que Franjinha, lá no preâmbulo da história.

Antes de iniciar a análise desta elucidativa edição da Turma da Mônica sobre educação para o trânsito, deixo um desafio para você, caro leitor,

Antes de ir embora, o pai de Magali dá carona para Cebolinha, criança que juntamente com Magali e Mônica, questionam a maneira cautelosa do condutor e recebem outras lições de aprendizagem para o trânsito, em especial, a questão do limite de velocidade, regra criada para dar uma margem de segurança aos que estão na direção, além de algumas dicas sobre consumo de álcool anterior e durante o processo de condução de um modal, seja carro, moto ou bicicleta. Os quadrinhos desenham bem a visão simulada de alguém alcoolizado, com visão turva e dupla, precarizada pelos efeitos da substância no organismo. Há até espaço para falar de regulagem do motor para evitar danos maiores ao meio ambiente, preocupação também voltada aos ruídos que podem favorecer a irritante poluição sonora. A lei, no desenvolvimento da história, é tratada como algo a ser conduzido com firmeza, em espaço para facilitações diante dos indivíduos que são flagrados em situações comprometedoras.

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Antes de iniciar a análise desta elucidativa edição da Turma da Mônica sobre educação para o trânsito, deixo um desafio para você, caro leitor,

Assim, no encerramento, as crianças se reúnem e decidem brincar de trânsito, alguns como personagens pedestres, outros como agentes regulamentadores do tráfego, todos integrantes de uma história encomendada pelo Detran de Pernambuco, juntamente com o Governo do Estado e a EPT (Escola Pública de Trânsito). Como já mencionado, é um material de viés didático, um compêndio para crianças e jovens adolescentes, criado com foco na educação para o trânsito por meio dos carismáticos e envolventes personagens da Turma da Mônica, universo concebido há eras por Maurício de Sousa e que ainda hoje traz histórias divertidas, com reflexões importantes, mas diluídas no tom humorado e leve das peripécias cotidianas deste grupo de figuras ficcionais bem brasileiros. Os requisitos estéticos tornam a leitura deliciosamente agradável e se aplicado num projeto para professores competentes e dedicados, pode render uma excelente produção de nível interdisciplinar, atual e necessário, afinal, a educação para o trânsito é um tema bastante relevante e trabalhado pelo viés dos quadrinhos, pode tornar mais atraente a busca por informações e o estabelecimento do aprendizado.

De volta aos questionamentos da abertura. Vamos trabalhar nas respostas?

Se na primeira questão, você assinalou letra A (sim), a resposta está correta. Segundo o artigo 168 do Código de Trânsito Brasileiro, em especial, no capítulo XV, conduzir crianças sem obedecer às normas de segurança é uma infração gravíssima com previsão de multa. É uma regra que dialoga com o artigo 64 que nos diz ser obrigatória a condução de crianças com idade inferior aos 10 anos no banco traseiro, salvaguardadas as exceções regulamentadas pelo CONTRAN, tais como a capacidade de passageiros for maior que o disponível no banco traseiro, quando o veículo tiver somente compartimento dianteiro, etc. Neste momento, a conduta do agente de trânsito é de suma importância, pois a sua avaliação é o que direcionará os procedimentos quando ocorrem casos do tipo.

Sobre a segunda questão, a alternativa B é a correta, uma dica mais geral e reflexiva sobre a conduta de responsáveis na travessia com crianças em vias de tráfego. Na legislação, o artigo 254 versa sobre infrações que devem ser evitadas por pedestres ao atravessar vias, mas nada específico sobre como conduzir crianças. Há, no entanto, uma questão de bom senso que envolve a situação ilustrada, pois segurar firmemente a criança pelo pulso é a alternativa para conseguir driblar qualquer adversidade na travessia, pois no colo a mobilidade é reduzida, a criança na frente pode se deslocar de surpresa e estabelecer um conflito inesperado e com resultados nada favoráveis para a vida dos envolvidos, dentre outras tantas situações que pedem cautela da pessoa que se coloca como responsável na mobilidade como pedestre com crianças.

Aos leitores, lembro que esse texto é parte da Trilogia do Semáforo, publicação que assino em parceria com Mirian Bastos, gerente de educação para o trânsito da Transalvador e coordenadora do Comitê Vida no Trânsito. Neste projeto, propomos apresentar narrativas ficcionais, documentários, revistas em quadrinhos e obras literárias que possibilitem a discussão sobre temas voltados ao trânsito na educação básica e nas instâncias do nível superior. Agendada para o maio Amarelo de 2022, a publicação dividida em três partes pretende trazer dicas e mostrar como aplicá-las por meio de sequências didáticas. Em breve, mais informações, combinado? Enquanto isso, continue agindo adequadamente no trânsito. Faça a sua parte.

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Leonardo Campos é Graduado e Mestre em Letras pela UFBA.
Crítico de Cinema, pesquisador, docente da UNIFTC e do Colégio Augusto Comte.
Autor da Trilogia do Tempo Crítico, livros publicados entre 2015 e 2018,
focados em leitura e análise da mídia: “Madonna Múltipla”,
“Como e Por Que Sou Crítico de Cinema” e “Êxodos – Travessias Críticas”.
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Ficção, Educação e Trânsito

Trânsito, Educação e Xadrez

Uma publicação interessante sobre o uso desta modalidade lúdica para o âmbito do ensino e da aprendizagem

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O xadrez é um jogo de tabuleiro que pede um jogador muito atento, inteligente e com as adversidades de uma partida. O trânsito, da mesma
Foto: Divulgação

Leonardo Campos

O xadrez é um jogo de tabuleiro que pede um jogador muito atento, inteligente e sagaz para lidar com as adversidades de uma partida. O trânsito, da mesma maneira, transforma o condutor em jogador e o coloca numa situação de atenção necessário, cuidado constante diante dos possíveis obstáculos, bem como uma postura defensiva para saber lidar com o “outro” que divide o mesmo espaço neste tabuleiro da vida. Foi com esta ideia que Eurípedes Kuhl, experiente no Serviço Militar, bem como em Administração e Segurança do Trabalho, desenvolveu Trânsito, Educação e Xadrez, uma publicação interessante sobre o uso desta modalidade lúdica para o âmbito do ensino e da aprendizagem, conteúdo que parece muito complexo em seu preâmbulo, mas que vai delineando as suas intencionalidades ao passo que cada página de leitura é avançada. Se você, caro leitor, é alguém como eu, um leigo total das estratégias do xadrez, recomendo que assista ao máximo de tutoriais que puder, leia manuais, consulte o passo a passo deste jogo de tabuleiro para que a sua dinâmica no âmbito educacional seja a mais produtiva possível, combinado?

Em sua abertura, o autor comenta brevemente o estabelecimento do Código de Trânsito Brasileiro, dando destaque aos avanços que surgiram com os desdobramentos da aplicação desta legislação em 1997. Ele reflete, por sua vez, que as nossas ruas e rodovias estão longe de atingirem os ideais previstos pelo CTB, haja vista as suas respectivas estruturas problemáticas. Além disso, nos permite refletir que não apenas a questão geográfica da mobilidade, mas o fator humano, algo que mesmo diante das punições previstas nos artigos legais, ainda é um ideal que distante e precisa, constantemente, ser alcançando por meio de campanhas e demais ações educativas. É quando entra o xadrez. A sua apresentação da famosa partida de 1851, intitulada A Imortal, é demasiadamente vaga, não nos deixando entender o propósito de sua inserção no material. É uma passagem superficial, desnecessária e deslocada. Mas não atrapalha o andamento educativo do livro.

Logo mais, há uma explicação básica para os elementos que compõem o tabuleiro, bem como um breve percurso histórico dos significados destas posições. Considerado como uma ciência autêntica, envolto em olimpíadas com jogadores que levam as suas regras com seriedade, o xadrez possui um tabuleiro com espaços em preto e branco. São as vias de condução das peças. Neste jogo, temos o Rei, a Torre, o Bispo, a Dama, o Peão e o Cavalo, todos integrantes desta travessia que mescla atenção, sagacidade e inteligência, na busca de um dos jogadores em apanhar as peças do adversário e dar o xeque-mate. Cada movimentação do jogador envolvido, em associação com a dinâmica do trânsito, é preciso atuar com atitudes seguras, eficientes, tendo em vista evitar colisões, incorreções que não permitem erro, levando-o ao trágico, dentre outras iniciativas formidáveis quando associadas com nossa conduta na mobilidade.

Diante do exposto, como já dito, no xadrez, o grande lance de jogador é a atenção. Se você se perde, adentra numa zona de perigo, como o trânsito. Pedestres, ciclistas, motociclistas e condutores precisam manter-se atentos, sem o uso indevido do celular, distantes dos efeitos do álcool e conscientes dos limites velocidades das vias que atravessam. No trânsito, temos que colocar em prática a humanidade que nos define e atuar de maneira educada, para que as coisas fluam adequadamente para todos. Adequado, aqui, designa segurança. Cada seção há uma frase de epígrafe, logo no começo da representação do quadro, como nos exemplos destacados nestas ilustrações. Didático, o autor relaciona posturas comuns do trânsito com a ação inconsequente ou devidamente cidadã de cada jogador diante do tabuleiro. Há o rude, o afobado, o confuso, o hábil, o atrevido, em linhas gerais, as cabíveis alegorias para o que encontramos cotidianamente no cenário da mobilidade, seja como pedestre a aguardar um ônibus, passageiro em deslocamento no interior do Uber, ciclista ou motociclista numa travessia pelas pistas que cortam as nossas cidades, em suma, qualquer situação de trânsito do nosso dia.

Leonardo Campos é Graduado e Mestre em Letras pela UFBA.
Crítico de Cinema, pesquisador, docente da UNIFTC e do Colégio Augusto Comte.
Autor da Trilogia do Tempo Crítico, livros publicados entre 2015 e 2018,
focados em leitura e análise da mídia: “Madonna Múltipla”,
“Como e Por Que Sou Crítico de Cinema” e “Êxodos – Travessias Críticas”.
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Ficção, Educação e Trânsito

Rota de Colisão

Ao longo de suas 93 páginas, Rota de Colisão: A Cidade, O Trânsito e Você debate segurança e cidadania no trânsito

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Os impactos dos sinistros de trânsito, fatais ou com vítimas acometidas por sequelas, tragédias que antes eram chamadas de acidentes, são apresentados por meio de um texto coeso, coerente e dinâmico em Rota de Colisão: A Cidade, O Trânsito e Você, publicação de 2007, assinada pelos especialistas Eduardo Biavati e Heloisa Martins. O termo acidente, como nós sabemos, expressa algo imprevisto, furtivo, diferente do que contemplamos com horror em nosso cenário de mobilidade cotidiano, espaço onde situações evitáveis poderiam não acontecer e ceifar tantas vidas ativas, numa celeuma que causa desordem não apenas diante dos familiares e amigos enlutados, mas também ocasiona graves crises econômicas para uma nação que deixa de realizar amplos investimentos em outras áreas para atender aos vitimados com sequelas, dependentes de aposentadorias, bem como as cifras que os sinistros custam para o SUS.  No livro, a cidade não deixa de ter a sua culpa. Zonas com infraestrutura inacabada, projetos problemáticos, assim como o comportamento humano no trânsito, carente de educação por parte de muitos condutores, pedestres e ciclistas. Focado na importância do exercício da cidadania, o conteúdo em questão é fluente, de poucas páginas e funciona como material para educar a população em geral, além de ser subsídio básico para projetos de educação para o trânsito.

Leonardo Campos

Os impactos dos sinistros de trânsito, fatais ou com vítimas acometidas por sequelas, tragédias que antes eram chamadas de acidentes, são apresentados por meio de um texto coeso, coerente e dinâmico em Rota de Colisão: A Cidade, O Trânsito e Você, publicação de 2007, assinada pelos especialistas Eduardo Biavati e Heloisa Martins. O termo acidente, como nós sabemos, expressa algo imprevisto, furtivo, diferente do que contemplamos com horror em nosso cenário de mobilidade cotidiano, espaço onde situações evitáveis poderiam não acontecer e ceifar tantas vidas ativas, numa celeuma que causa desordem não apenas diante dos familiares e amigos enlutados, mas também ocasiona graves crises econômicas para uma nação que deixa de realizar amplos investimentos em outras áreas para atender aos vitimados com sequelas, dependentes de aposentadorias, bem como as cifras que os sinistros custam para o SUS.  No livro, a cidade não deixa de ter a sua culpa. Zonas com infraestrutura inacabada, projetos problemáticos, assim como o comportamento humano no trânsito, carente de educação por parte de muitos condutores, pedestres e ciclistas. Focado na importância do exercício da cidadania, o conteúdo em questão é fluente, de poucas páginas e funciona como material para educar a população em geral, além de ser subsídio básico para projetos de educação para o trânsito.

Ao longo de suas 93 páginas, Rota de Colisão: A Cidade, O Trânsito e Você debate segurança e cidadania no trânsito em seus seis capítulos curtos, todos ilustrados e com desenvolvimento de ideias pedagogicamente dinâmicas para o entendimento de todos os públicos. Trânsito e Transitar, o primeiro capítulo, versa sobre como o movimento das ruas depende da atividade humana que acontece ao redor dos espaços de circulação, apresentando questões sobre o desenho das cidades e a solução de alargamento das pistas como uma opção que não resolve os problemas no cenário da mobilidade urbana contemporânea, algo que envolve demolição de prédios, casas, indenizações, dentre outras circunstâncias. Construir novas avenidas em zonas já estabelecidas não é algo tão tranquilo quanto se imagina. Os autores refletem a quantidade de carros na rua, a questão do meio ambiente degradado pelos combustíveis e o desinteresse da população pelos modais no deslocamento, não apenas por culpa dos usuários, mas pelas condições precárias de transporte em muitas zonas urbanas brasileiras.

No desenvolvimento de As Regras: De Quem é A Vez, o texto relaciona os espaços urbanos com regras de um jogo, onde precisamos seguis as orientações adequadamente para vencer as etapas e conquistar a linha de chegada. São alegorias importantes para transformação do que está previsto por lei em explicações pedagógicas para o grande público. Obedecer às regras é algo chato? Sim, mas estamos num espaço coletivo, por isso, temos que levar em consideração os nossos interesses, mas as vontades alheias, afinal, não somos donos da rua. Existem centenas de regras no Código de Trânsito Brasileiro, a maioria, desconhecida pela população, sendo uma delas o destaque do capítulo: a hierarquia de responsabilidades ao trafegar, espaço que tem o pedestre como elemento mais frágil diante de ciclistas, carros, caminhões e ônibus.

Em Os Acidentes: Onde Mora o Perigo, terceiro capítulo da jornada de Rota de Colisão: A Cidade, O Trânsito e Você, encontramos algumas pontuações sobre os chamados acidentes, agora sinistros de trânsito, conforme a atual legislação, eventos que não devem ser pensados como obras do destino, mas acontecimentos que podem ser evitados se todos que circulam pelas vias da cidade obedecessem ao que está disposto no CTB e também respeitasse o lugar de passagem de cada um. O grande índice de tragédias nas vias não para de crescer pelo fato de nós, agentes do processo de mobilidade cotidiana, não respeitamos adequadamente o outro, colocando-se muitas vezes como irresponsáveis. Uso de álcool, mesmo na quantidade mínima, não por o cinto de segurança e exceder a velocidade: três grandes problemas contemporâneos, somados ao mais recente de todos, o uso de celular na direção, situação que está, atualmente, entre as três mais perigosas e registradas nos casos de colisão e atropelamento no mundo.

No elucidativo Atropelamento e Lesão Cerebral, os autores falam sobre como a mídia menciona as tragédias, mas não dá o mesmo enfoque para as vítimas não fatais, figuras da tessitura cotidiana que custam muito para os cofres públicos, sejam por seus tratamentos ou processos de aposentadoria. No Brasil, a maioria dos sinistros ocorre entre sexta-feira (noite) e domingo (final da tarde). Por que será? No mundo de hoje, diríamos que é porque “sextou”. E é exatamente por isso, o que nos abre as portas para conteúdo de Álcool, óbvio e quase senso comum, mas parece que ainda não nos alertamos assertivamente para esta substância que é, ao lado do excesso de velocidade, um dos elementos responsáveis pelas tragédias no trânsito, algumas irreversíveis para os envolvidos. No desfecho, temos Colisões e Lesão Medular, uma exposição dos problemas causados em determinadas situações de sinistro. Os autores explicam o que ocorre com o nosso corpo por meio de exemplos que reforçam a pequenez dos humanos diante dos impactos da dinâmica física de uma colisão ou atropelamento. É tudo muito assustador, mas ainda assim, nos pegamos sem seguir as orientações para evitar tudo aquilo que é mostrado nos casos descritos pelo livro.  Ademais, em seu encerramento, os autores pedem reflexão e postura dos leitores, fornecendo ótimas sugestões de leitura complementar.

Leonardo Campos é Graduado e Mestre em Letras pela UFBA.
Crítico de Cinema, pesquisador, docente da UNIFTC e do Colégio Augusto Comte.
Autor da Trilogia do Tempo Crítico, livros publicados entre 2015 e 2018,
focados em leitura e análise da mídia: “Madonna Múltipla”,
“Como e Por Que Sou Crítico de Cinema” e “Êxodos – Travessias Críticas”.
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Sem data, sem assinatura

O filme uma é história de luto considerada como uma das mais atordoantes do cinema contemporâneo

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colisões, capotamentos, bem como condutores alcoolizados ou sem cinto de segurança, para o estabelecimento da catarse. Sem Data,
Foto: Divulgação

Leonardo Campos

Pode ser diferente em cada região do planeta, mas a constante taxa de sinistros de trânsito envolvendo vítimas fatais é uma realidade contemporânea que infelizmente devasta não apenas países economicamente desfavorecidos, mas também os lugares considerados de “primeiro mundo”. O cinema, sabiamente, já trabalhou diversas vezes com atropelamentos, colisões, capotamentos, bem como condutores alcoolizados ou sem cinto de segurança, para o estabelecimento da catarse. Sem Data, Sem Assinatura, um apurado exemplar do cinema iraniano recente, é uma destas narrativas arrebatadoras sobre os desdobramentos de uma situação evitável na vida daqueles que perderam alguém e na trajetória daqueles sufocados pela angústia e culpa, isto é, indivíduos que precisam lidar com as consequências de seus erros, numa punição que pode ser até ser mais severa que a aplicação de algo previsto na legislação, afinal, ser preso ou responder processo pode ser tão doloroso quanto acordar e dormir todos os dias pensando na vida do outro que você destruiu após agir de maneira indevida no trânsito.

Lançado em 2017, a produção dirigida por Vahid Jalilvand, também responsável pelo roteiro, escrito ao lado de Ali Zarnegar, é uma lição de drama assertivo. Em seus 104 minutos, acompanhamos a saga de um homem devidamente equilibrado em sociedade, aquele tipo de personagem que goza dos privilégios de sua profissão, numa existência confortável e tranquila, tendo os habituais altos e baixos que qualquer ser humano enfrenta cotidianamente, mas que não precisa lidar com dificuldades mais extremas para garantir a sua sobrevivência. Ele é o catalisador das reflexões sobre ética em Sem Data, Sem Assinatura, uma história de luto considerada como uma das mais atordoantes do cinema contemporâneo. Na trama, seguimos os passos de Kaveh (Amir Aghave), um médico que colide com uma moto numa situação inesperada durante uma de duas travessias diárias. Ele não comete aquilo que geralmente contemplamos horrorizados nos telejornais e em muitos filmes: a omissão de socorro.

O médico percebe que o filho do condutor, machucado no pescoço, sofreu as consequências da forte colisão, mas não teve a vida ceifada. Tranquilo, ele propõe ajuda e o encaminha para o atendimento hospitalar. O susto, no entanto, surge no dia seguinte, quando chega ao ponto de trabalho para mais um plantão. Descobre que o menino morto é a vítima do acidente. Na autopsia, a pessoa responsável pelo perito identificou um problema de intoxicação alimentar, mas Kaveh acredita que o motivo real tenha sido a pancada durante o sinistro de trânsito. E agora? Como lidar com essa dúvida corrosiva, acompanhada de um sentimento de culpa devastador? É assim que ele não fica quieto e resolve investigar as causas da morte do garoto. Será mesmo que ele deve se sentir responsável pelo falecimento? Aqui, o espectador é colocado diante de uma trama instigante sobre atos irrisórios que mudam para sempre as nossas vidas, escolhas do presente que determinam tacitamente o nosso futuro.

Nada é tão fácil quanto o esperado, talvez mais mastigado e melodramático se fosse uma narrativa de estrutura estadunidense. Sem Data, Sem Assinatura trabalha em torno de clichês, mas propõe uma abordagem mais complexa de sua proposta. Com muitas cenas no interior de carros, satisfatoriamente concebidas pela ótima direção de fotografia, o filme reflete a realidade iraniana da falta de liberdade de expressão, algo curiosamente destacado na divulgação da produção em sua época de lançamento, escolha narrativa que também dialoga com o que está designado como tema do filme, isto é, a travessia de personagens pela vida, os embates entre as pessoas, em colisões cotidianas repletas de tensões, a maioria psicológicas, mas também físicas, como a tragédia que envolve o médico Kaveh e Moosa (Navid Mohammadzadeh), pai do garoto que perde a vida, talvez pelo sinistro ou quem sabe, pela intoxicação alimentar.

Leonardo Campos é Graduado e Mestre em Letras pela UFBA.
Crítico de Cinema, pesquisador, docente da UNIFTC e do Colégio Augusto Comte.
Autor da Trilogia do Tempo Crítico, livros publicados entre 2015 e 2018,
focados em leitura e análise da mídia: “Madonna Múltipla”,
“Como e Por Que Sou Crítico de Cinema” e “Êxodos – Travessias Críticas”.
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