Professor Leonardo Campos
Antes de iniciar a análise desta elucidativa edição da Turma da Mônica sobre educação para o trânsito, deixo um desafio para você, caro leitor, voltado aos seus conhecimentos sobre regras básicas para a conduta no trânsito, tendo em vista obedecer a legislação vigente do Código de Trânsito Brasileiro. Vamos nessa? Leia as perguntas, responda para si mesmo e no desfecho do texto, observe em que grau está o seu conhecimento sobre o assunto.
1 – De acordo com a lei, crianças devem ser conduzidas no banco traseiro?
- a) sim.
- b) não.
- c) facultativo.
2 – Ao atravessar com uma criança, o adulto deve:
- a) carregá-la no colo.
- b) segurar firmemente o seu pulso.
- c) deixar a criança ir na frente e acompanhar atentamente o seu deslocamento.
Agora, deixarei você com a leitura do quadrinho que é foco de nossa análise. Retornamos com reflexões no desfecho do texto, combinado?
Maurício de Sousa e o projeto sobre educação para o trânsito com a Turma da Mônica
Educando nossa turminha de hoje, formaremos grandes condutores do amanhã. Salvaguardadas as devidas proporções, é o mesmo que resgatar uma das mais brilhantes frases do filósofo e educador Paulo Freire, que nos diz “educai as crianças para não ter que punir os adultos”. Esse é o foco desta edição especial da Turma da Mônica, voltada exclusivamente para pontos básicos no campo da educação para o trânsito, numa história com situações corriqueiras e aparentemente banais, mas que se descuidadas, definem o destino dos envolvidos em algo que muitas vezes, pode ser evitado com cautela e aplicação dos princípios básicos para pedestres e condutores de qualquer modal. Com 18 páginas de história e duas seções preenchidas com passatempos sobre interpretação de placas de trânsito, acompanhamos o conteúdo dentro dos padrões estabelecidos por Maurício de Sousa e sua equipe.
Para os leitores habituais do universo de personagens que atravessou a cultura dos quadrinhos há gerações, percebemos que o intuito de ser pedagógico não altera a qualidade visual do material, mas a história é bastante simplista, cheia de conexões por coincidências e humor mais moderado que o habitual, numa demonstração de busca por exclusividade didática na concepção da proposta. O estilo mantém as cores vibrantes e intensas, costumeiramente utilizadas pela equipe criativa de Maurício de Sousa. Cenas diurnas, uso constante do vermelho para dar destaque aos pontos de maior importância e balões com onomatopeias reforçam, por meio dos sons oriundos desta figura de linguagem, os perigos vivenciados por personagens que cometem alguns atos inconsequentes e recebem as lições de aprendizagem sobre como se portar em situações de trânsito, tanto os pedestres quanto os condutores.
Basicamente, a história nos apresenta Cebolinha e Cascão indo ao jogo de futebol com outros garotos da turma, quando passam por Franjinha e conversam rapidamente. Diferente da dupla, o jovem lê uma revista sobre educação para o trânsito que entregue na escola. Os meninos negam saber mais sobre o assunto depois que o leitor oferece o material para eles também darem uma olhada. Mais adiante, antes de atravessar a rua, Cascão é questionado por Cebolinha em relação ao seu comportamento descuidado ao atravessar a rua sem olhar para todos os lados e quase sofrer um atropelamento. Nessa mesma sequência, os dois discutem sobre atravessar ou não pela faixa de pedestres e um guarda de trânsito aparece para orienta-los e falar sobre a importância de cada um dentro da dinâmica da mobilidade. O respeito aos semáforos, a criança que deve atravessar a rua com o adulto a segurar firmemente o seu pulso e evitar brincadeiras próximo aos espaços de deslocamento público de automóveis são alguns pontos de destaque.
Depois dessa empreitada inicial com os jovens pedestres, a história nos desloca para o interior do carro do pai de Magali, condutor que leva a filha e sua amiga Mônica para um passeio. Enquanto a visitante comenta a postura de seu pai na direção, Magali se comporta de maneira inadequada, sem cinto, inquieta no automóvel, postura que faz o seu responsável repreendê-la e sugerir que tenha mais cuidado para não atrapalhar a concentração do motorista que deve dirigir sem dispersões. Crianças no banco de trás e com o cinto de segurança são as informações que desfecham esse bloco, com uma breve menção aos motociclistas e o zelo necessário com capacete e outros recursos que o protejam numa possível situação de risco no trânsito. Logo mais, a história nos leva novamente para Cebolinha e Cascão e flerta com os skates e bicicletas. Neste momento, Titi, outro personagem deste universo, também é encontrado lendo a mesma revista sobre trânsito que Franjinha, lá no preâmbulo da história.
Antes de ir embora, o pai de Magali dá carona para Cebolinha, criança que juntamente com Magali e Mônica, questionam a maneira cautelosa do condutor e recebem outras lições de aprendizagem para o trânsito, em especial, a questão do limite de velocidade, regra criada para dar uma margem de segurança aos que estão na direção, além de algumas dicas sobre consumo de álcool anterior e durante o processo de condução de um modal, seja carro, moto ou bicicleta. Os quadrinhos desenham bem a visão simulada de alguém alcoolizado, com visão turva e dupla, precarizada pelos efeitos da substância no organismo. Há até espaço para falar de regulagem do motor para evitar danos maiores ao meio ambiente, preocupação também voltada aos ruídos que podem favorecer a irritante poluição sonora. A lei, no desenvolvimento da história, é tratada como algo a ser conduzido com firmeza, em espaço para facilitações diante dos indivíduos que são flagrados em situações comprometedoras.
Assim, no encerramento, as crianças se reúnem e decidem brincar de trânsito, alguns como personagens pedestres, outros como agentes regulamentadores do tráfego, todos integrantes de uma história encomendada pelo Detran de Pernambuco, juntamente com o Governo do Estado e a EPT (Escola Pública de Trânsito). Como já mencionado, é um material de viés didático, um compêndio para crianças e jovens adolescentes, criado com foco na educação para o trânsito por meio dos carismáticos e envolventes personagens da Turma da Mônica, universo concebido há eras por Maurício de Sousa e que ainda hoje traz histórias divertidas, com reflexões importantes, mas diluídas no tom humorado e leve das peripécias cotidianas deste grupo de figuras ficcionais bem brasileiros. Os requisitos estéticos tornam a leitura deliciosamente agradável e se aplicado num projeto para professores competentes e dedicados, pode render uma excelente produção de nível interdisciplinar, atual e necessário, afinal, a educação para o trânsito é um tema bastante relevante e trabalhado pelo viés dos quadrinhos, pode tornar mais atraente a busca por informações e o estabelecimento do aprendizado.
De volta aos questionamentos da abertura. Vamos trabalhar nas respostas?
Se na primeira questão, você assinalou letra A (sim), a resposta está correta. Segundo o artigo 168 do Código de Trânsito Brasileiro, em especial, no capítulo XV, conduzir crianças sem obedecer às normas de segurança é uma infração gravíssima com previsão de multa. É uma regra que dialoga com o artigo 64 que nos diz ser obrigatória a condução de crianças com idade inferior aos 10 anos no banco traseiro, salvaguardadas as exceções regulamentadas pelo CONTRAN, tais como a capacidade de passageiros for maior que o disponível no banco traseiro, quando o veículo tiver somente compartimento dianteiro, etc. Neste momento, a conduta do agente de trânsito é de suma importância, pois a sua avaliação é o que direcionará os procedimentos quando ocorrem casos do tipo.
Sobre a segunda questão, a alternativa B é a correta, uma dica mais geral e reflexiva sobre a conduta de responsáveis na travessia com crianças em vias de tráfego. Na legislação, o artigo 254 versa sobre infrações que devem ser evitadas por pedestres ao atravessar vias, mas nada específico sobre como conduzir crianças. Há, no entanto, uma questão de bom senso que envolve a situação ilustrada, pois segurar firmemente a criança pelo pulso é a alternativa para conseguir driblar qualquer adversidade na travessia, pois no colo a mobilidade é reduzida, a criança na frente pode se deslocar de surpresa e estabelecer um conflito inesperado e com resultados nada favoráveis para a vida dos envolvidos, dentre outras tantas situações que pedem cautela da pessoa que se coloca como responsável na mobilidade como pedestre com crianças.
Aos leitores, lembro que esse texto é parte da Trilogia do Semáforo, publicação que assino em parceria com Mirian Bastos, gerente de educação para o trânsito da Transalvador e coordenadora do Comitê Vida no Trânsito. Neste projeto, propomos apresentar narrativas ficcionais, documentários, revistas em quadrinhos e obras literárias que possibilitem a discussão sobre temas voltados ao trânsito na educação básica e nas instâncias do nível superior. Agendada para o maio Amarelo de 2022, a publicação dividida em três partes pretende trazer dicas e mostrar como aplicá-las por meio de sequências didáticas. Em breve, mais informações, combinado? Enquanto isso, continue agindo adequadamente no trânsito. Faça a sua parte.