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Ciência, Cultura & Sociedade

Por que o Brasil consome tanto Rivotril?

O SUS está constantemente sobrecarregado, apesar de ser a salvação para muita gente. Quem pode pagar R$ 400 por uma sessão?

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No caso do uso do rivotril, há a possibilidade de que seja mais uma dessas leituras gerais, no entanto, baseadas numa realidade absurda.
Foto: Reprodução

O Brasil é um país de dimensões continentais que abriga um enorme contingente populacional. Quando algumas pesquisas tendenciosas apontam falhas no país “nesse” e “naquele” sistema é preciso estar atento aos dados, pois ao traçar comparações com outras nações, precisamos nos ater a quantidade de pessoas que habitam em nosso território, o que às vezes torna determinados rankings injustos. No caso do uso do rivotril, há a possibilidade de que seja mais uma dessas leituras gerais, no entanto, baseadas numa realidade absurda. Lembro-me muito bem que em 2010, no auge de um momento de ansiedade, lia a revista Super Interessante, edição que em sua reportagem de capa, nomeou o Brasil como a Nação Rivotril, pois segundo os dados de uma pesquisa investigada na matéria principal, os brasileiros são os maiores consumidores desta medicação em escala mundial.

Na matéria assinada pelo jornalista Bruno Versolato, o texto afirma que hoje é mais raro o refúgio dos problemas para uma praia distante, a ida ao shopping para as compras ou o consumo de um prato bastante calórico e considerado “proibido”. A “onda agora” é todo mundo tomar um “comprimidinho”. Num dos destaques do texto, Versolato aponta que ginecologistas costumam prescrever Rivotril para pacientes que sofrem crises graves de TPM. Segundo depoimento do professor Alexandre Saadeh, integrante do Instituto de Psiquiatria da USP, muitos conseguem o remédio com receita em nome de outros pacientes ou na internet. O medicamento prescrito por psiquiatras para pacientes em crise de ansiedade atualmente tem sido usado pelos brasileiros como um caminho menos tortuoso para enfrentar os problemas cotidianos que acompanham a humanidade desde sempre: insônia, os prazos no trabalho e na faculdade, os conflitos em família e nos relacionamentos amorosos, dentre outras celeumas do existir na contemporaneidade.

Com a pandemia que se arrasta desde 2020 no planeta, os gráficos demonstraram aumentos vertiginosos nestes índices já considerados alarmantes anteriormente. Muitos não sabem, apenas consomem, mas o Rivotril age em nosso organismo estimulando alguns mecanismos que equilibram o estado de tensão da pessoa ansiosa. A ansiedade tratada aqui é o transtorno, não a comum espera por uma camisa de Game of Thrones que vai chegar por Sedex ou aquele sapato caríssimo comparado numa promoção na internet. Estamos tratando do distúrbio que traz calafrios, taquicardia, tremores e uma carga de sofrimento que beira ao insuportável. O comprimido age durante 18 horas em nosso corpo, entre o início do relaxamento, o pico do efeito e a saída do organismo.

Da mesma família dos benzodiazepínicos, grupo que envolve o Lexotan, Diazepam e Lorax, o Rivotril surgiu nos idos dos anos 1950 como substituição para os barbitúricos, tipo de comprimidos responsáveis pela morte do mito hollywoodiano Marilyn Monroe. A caixa traz a tarja preta e avisa sobre o risco de dependência química ou psicológica, mas convenhamos: quem quer sofrer uma madrugada inteira de falta de ar ou derramar lágrimas pela morte de um ente querido? Um comprimido facilita as coisas. Isso, entretanto, é o que leva muita gente a fazer do medicamento parte da sua ingestão diária de sólidos. Ao contrário do que se pensa, o Rivotril mascara o problema. Ao invés de expurga-lo numa terapia, a pessoa que utiliza o comprimido vai pelo caminho mais fácil, enjaulando o problema dentro de si e procrastinando algo para resolução futura. Assim, temos uma sociedade cada vez mais doente e dependente.

Para Plínio Montagna, presidente da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, “há uma glamourização no ato de se medicar”. A caixa de Rivotril se tornou ícone da cultura pop, estampada até mesmo como capa de celular. “Emoções normais e importantes para o ser humano, como a tristeza e a ansiedade em situação de perigo são eliminadas porque incomodam”, aponta Bruno Versolato em sua matéria, já mencionada nos parágrafos de introdução desta reflexão, pois “existe a ideia de que todo mundo precisa estar feliz o tempo todo”. Assim, as pessoas estão sempre em busca de qualquer coisa que mascare uma tristeza, uma dor, um mal estar. Como ressalta a psiquiatra Annie Almand, “ninguém mais quer enfrentar a infelicidade”, e reforça, como proposta de intervenção que “nem tudo pode ser medicalizado”.

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Outro problema relacionado ao consumo é a automedicação. Muita gente o consome sem atendimento médico. Uma questão bastante complexa, pois como apontado, há o risco químico e o psicológico. No que tange aos princípios da dependência química, o processo é semelhante ao gerado pela cocaína e o álcool, pois o uso prolongado torna o cérebro dependente da droga. Já no caso da dependência psicológica, o usuário pode até deixar de tomar a medicação, mas precisa saber que ela está próxima, disponível como precaução para uma possível crise repentina de ansiedade, afinal, quem já teve uma sabe muito bem a celeuma e fica marcado para o resto da vida. Conforme aponta Anthony Wong, gestor do Centro de Assistência Toxicológica do Hospital das Clínicas, em São Paulo, a maioria das pessoas tem síndrome de abstinência quando o remédio é retirado de suas vidas repentinamente. Dessa abstinência pode vir até mesmo a necessidade de internação, acompanhada de delírios, agitação, apatia, dentre outros sintomas.

O profissional afirma que para a mudança do quadro, o paciente precisa ter interesse. É muito complicado porque é necessário enfrentar todos os fantasmas de que o usuário buscava se livrar quando buscou a medicação como resolução para os seus problemas. Recentemente uma matéria publicada apontou o Brasil como o país mais deprimido da América Latina. A depressão não está ligada diretamente ao Rivotril, mas são temas que se tangenciam. Muita gente acometida por depressão nem sequer sabe do seu problema e usa o remédio como forma de driblar os seus problemas. Há uma questão social por trás disso, importante ressaltar. O remédio é barato quando comparamos ao valor de uma consulta digna de psiquiatra. O SUS está constantemente sobrecarregado, apesar de ser a salvação para muita gente. Quem pode pagar R$ 400 por uma sessão?

Se você chega ao posto de saúde com uma crise de ansiedade, no mínimo vão aferir a sua pressão, dizer que tá tudo bem, que você precisa se acalmar e que a sua pulseira será verde, pois a médica plantonista está dando conta do rapaz que levou um tiro e da moça que foi esfaqueada pelo namorado. Foi assim que ocorreu comigo 2013, durante uma crise repentina de ansiedade. Há questões mais imediatas e em alguns casos, tais como esse que acabei de mencionar, resultam na busca mais facilitadora para dormir uma noite de sono em paz. Aos que brincam com a situação e chamam a medicação de “remédio para maluco”, muito cuidado. A desordem neurológica de uma pessoa não deve ser motivo para piadas ou brincadeiras jocosas. É uma questão muito séria e que merece bastante respeito, tamanha a gravidade, podendo ser considerada uma questão emergencial de saúde pública e que constantemente estampa matérias de destaque na mídia.

E assim, sem receio algum de me expor, mas desabafar uma história que também pode ser sua, caro leitor, apresento um breve relato de experiência. Na minha história com o Rivotril, por exemplo, tive a sorte de ter mais de uma epifania. Um ataque de pânico ocorrido em 2008 trouxe algumas lições, mas a história ainda se repetiria anos depois. Abandonei a medicação, mas os problemas que surgiram posteriormente foram mascarados pela facilidade que o remédio apresentava na resolução de cada situação. Em narrativas literárias, alguns heróis às vezes não tem a mesma sorte, pois recebem uma revelação e quando não a aproveita devidamente, sucumbe aos caminhos da tragédia. Certo dia, após alguns anos da inicial e agitada vida como estudante de graduação, repleta de anciões e falta de maturidade para lidar com algumas pressões, presenciei uma cena aterrorizante, desagradável, mas bastante irônica.

Uma pessoa que considerava um exemplo a ser seguido, com publicações, muitos livros, postura respeitosa na instituição que ensinava, detentora do tal “poder” para se livrar de amarras burocráticas e conseguir o que queria, a tornando um ente poderoso que muita gente queria se aliar, adentrou pela porta de uma sala de reunião, sentou, começou a falar sobre a agitação da vida e derramou copiosas lágrimas. Sem muito tato, calei-me e deixei os colegas mais íntimos acalentarem. Observei atentamente e pensei: é isso que quero para mim? Acumulação de títulos, suposto sucesso, quando na verdade a pessoa está desmoronando por dentro a ponto de dizer que “parou de tomar o vinho caro por causa do Rivotril, um remédio bem mais em conta”? Não, esse não é o caminho ideal para ninguém.

Sabemos que no bojo do capitalismo e nas relações de poderes que circulam a nossa “microfísica diária”, precisamos lutar muito, gastar energia e às vezes passar por constrangimentos e situações humilhantes em prol da conquista de um lugar privilegiado. No entanto, a pessoa precisa saber equilibrar as conquistas de uma forma que não preencha demasiadamente esta lacuna e esvazie o espaço da saúde mental e física, elementos básicos para saborear o sucesso conquistado. Há muitos que discordam desta opinião e ao lerem o texto provavelmente me chamarão de utópico e romântico, mas como detentor da experiência, digo que este é um dos melhores caminhos para testagem e possível aplicação em nossas vidas. O Rivotril apenas mascara os problemas, é nocivo para a memória e não ajudará ninguém a sair da ansiedade. Pode ser útil durante o ápice de uma crise, mas não deve ser elemento vitalício na existência de uma pessoa. Você, caro leitor, o que acha?

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Comentários

1 Comentário

  1. Tamiles Reis dos Santos Assis

    7 de abril de 2021 at 20:55

    Quando algumas pesquisas tendenciosas apontam falhas no país “nesse” e “naquele” sistema é preciso estar atento aos dados, pois ao traçar comparações com outras nações, precisamos nos ater a quantidade de pessoas que habitam em nosso território, o que às vezes torna determinados rankings injustos.
    No caso do uso do rivotril, há a possibilidade de que seja mais uma dessas leituras gerais, no entanto, baseadas numa realidade absurda.
    Lembro-me muito bem que em 2010, no auge de um momento de ansiedade, lia a revista Super Interessante, edição que em sua reportagem de capa, nomeou o Brasil como a Nação Rivotril, pois segundo os dados de uma pesquisa investigada na matéria principal, os brasileiros são os maiores consumidores desta medicação em escala mundial.
    Na matéria assinada pelo jornalista Bruno Versolato, o texto afirma que hoje é mais raro o refúgio dos problemas para uma praia distante, a ida ao shopping para as compras ou o consumo de um prato bastante calórico e considerado “proibido”.
    O medicamento prescrito por psiquiatras para pacientes em crise de ansiedade atualmente tem sido usado pelos brasileiros como um caminho menos tortuoso para enfrentar os problemas cotidianos que acompanham a humanidade desde sempre: insônia, os prazos no trabalho e na faculdade, os conflitos em família e nos relacionamentos amorosos, dentre outras celeumas do existir na contemporaneidade.
    A ansiedade tratada aqui é o transtorno, não a comum espera por uma camisa de Game of Thrones que vai chegar por Sedex ou aquele sapato caríssimo comparado numa promoção na internet.
    Da mesma família dos benzodiazepínicos, grupo que envolve o Lexotan, Diazepam e Lorax, o Rivotril surgiu nos idos dos anos 1950 como substituição para os barbitúricos, tipo de comprimidos responsáveis pela morte do mito hollywoodiano Marilyn Monroe.
    A caixa traz a tarja preta e avisa sobre o risco de dependência química ou psicológica, mas convenhamos: quem quer sofrer uma madrugada inteira de falta de ar ou derramar lágrimas pela morte de um ente querido?
    “Emoções normais e importantes para o ser humano, como a tristeza e a ansiedade em situação de perigo são eliminadas porque incomodam”, aponta Bruno Versolato em sua matéria, já mencionada nos parágrafos de introdução desta reflexão, pois “existe a ideia de que todo mundo precisa estar feliz o tempo todo”.
    No que tange aos princípios da dependência química, o processo é semelhante ao gerado pela cocaína e o álcool, pois o uso prolongado torna o cérebro dependente da droga.
    Já no caso da dependência psicológica, o usuário pode até deixar de tomar a medicação, mas precisa saber que ela está próxima, disponível como precaução para uma possível crise repentina de ansiedade, afinal, quem já teve uma sabe muito bem a celeuma e fica marcado para o resto da vida.
    Se você chega ao posto de saúde com uma crise de ansiedade, no mínimo vão aferir a sua pressão, dizer que tá tudo bem, que você precisa se acalmar e que a sua pulseira será verde, pois a médica plantonista está dando conta do rapaz que levou um tiro e da moça que foi esfaqueada pelo namorado.
    É uma questão muito séria e que merece bastante respeito, tamanha a gravidade, podendo ser considerada uma questão emergencial de saúde pública e que constantemente estampa matérias de destaque na mídia.
    Em narrativas literárias, alguns heróis às vezes não tem a mesma sorte, pois recebem uma revelação e quando não a aproveita devidamente, sucumbe aos caminhos da tragédia.
    Certo dia, após alguns anos da inicial e agitada vida como estudante de graduação, repleta de anciões e falta de maturidade para lidar com algumas pressões, presenciei uma cena aterrorizante, desagradável, mas bastante irônica.
    Uma pessoa que considerava um exemplo a ser seguido, com publicações, muitos livros, postura respeitosa na instituição que ensinava, detentora do tal “poder” para se livrar de amarras burocráticas e conseguir o que queria, a tornando um ente poderoso que muita gente queria se aliar, adentrou pela porta de uma sala de reunião, sentou, começou a falar sobre a agitação da vida e derramou copiosas lágrimas.
    Acumulação de títulos, suposto sucesso, quando na verdade a pessoa está desmoronando por dentro a ponto de dizer que “parou de tomar o vinho caro por causa do Rivotril, um remédio bem mais em conta”?
    Sabemos que no bojo do capitalismo e nas relações de poderes que circulam a nossa “microfísica diária”, precisamos lutar muito, gastar energia e às vezes passar por constrangimentos e situações humilhantes em prol da conquista de um lugar privilegiado.
    No entanto, a pessoa precisa saber equilibrar as conquistas de uma forma que não preencha demasiadamente esta lacuna e esvazie o espaço da saúde mental e física, elementos básicos para saborear o sucesso conquistado.
    Há muitos que discordam desta opinião e ao lerem o texto provavelmente me chamarão de utópico e romântico, mas como detentor da experiência, digo que este é um dos melhores caminhos para testagem e possível aplicação em nossas vidas.

  2. POLIANA

    7 de abril de 2021 at 20:56

    É mas fácil a ultilizar o medicamento que inibir a dor é sofrimento sendo imediatista que trata.

  3. Emilly Oliveira

    7 de abril de 2021 at 20:59

    Artigo muito interessante, rico em informações e pesquisa. As informações trazidas importantes para a visão hoje do Brasil, onde há uma grande necessidade de drogas e entre ela o Rivotril. O pais se encontra hoje em um mundo patológico, onde indivíduos sofrem de questões emocionais, com isso para reduzir sintomas, utiliza medicamentos. Muito bom tema para ser discutido.

  4. Tamiles Reis dos Santos Assis

    7 de abril de 2021 at 21:03

    Os indivíduos que abusam de benzodiazepínicos, rivotril, geralmente o fazem para lidar com as reações, por exemplo, ao estresse devido ao luto, desemprego, etc.
    Com a expectativa de que tais medicações podem ajudá-los a resolverem os seus próprios problemas, ou então, simplesmente buscam os seus efeitos agradáveis, tais como a euforia, a excitação e o aumento do estado motivacional para a realização de suas atividades cotidianas (HANSON;
    Quando os pacientes adquirem tolerância a algum desses efeitos tendem a procurar um médico com o objetivo de persuadi-lo a prescrever um benzodiazepínico, rivotril, ou então, compram de forma ilegal a medicação (HANSON;
    O Diazepam e um dos fármacos que possuem tais propriedades, o que leva a produzir efeitos acumulativos com o uso de outras drogas, e consequentemente podem levar ao aparecimento de efeitos adversos como sedação, sonolência e ataxia.
    Reações com menor frequência, 18 incluem vertigem, confusão / depressão mental, cefaleia, diminuição da libido, tremores, disartria, diplopia, distúrbios gastrointestinais, amnesia, salivação, retenção ou incontinência urinária.

  5. Vanessa dos Santos Martins

    7 de abril de 2021 at 21:13

    Um dos casos mais delicados, de uma tristeza muito grande onde existe o lado das consultas caras, outro da facilidade que existe da compra de tais remédios. Uma das tristezas é quando a ansiedade não é tão vista quanto uma bala perdida a gravidade de uma crise de ansiedade que tb pode levar a uma pessoa a morte. É bem mais fácil a prática o uso do Rivotril, mais rápido na solução porém se torna deprimente toda essa questão de dependência onde o Brasil se encontra.

  6. Mirely Santos Bonfim

    7 de abril de 2021 at 21:17

    O brasileiro tem uma cultura antiga de auto medicação. Que vem do medicamentos “simples” como a dipirona, tylenol, etc, como tambem o medicamento citado no texto, como o rivotril. Chegando em farmácias, pode-se observar remédios que estão de fácil acesso aos clientes, e os que não estão de fácil acesso costumam ser vendidos sem prescrição médica. Ou seja temos imprudência de quem se auto medica e da industria farmacêutica que quer muito vender. Se tratando do Rivotril em específico, pode-se ir para algo além da imprudência da auto medicação, mas também o imediatismo das pessoas que vivem nesse tempo. Ter um medicamento como esse em mãos, traz alívio, para sintomas que as vezes nem estão presente no corpo da pessoa que o consome. O que é perigoso, porque isso evidencia uma dependência, tanto física, como psicológica. Medicamentos como este, mexem com o físico e emocional e se não consumido da maneira correta, pela pessoa correta pode causar efeitos colaterais indesejáveis (como qualquer outro remédio ingerido irresponsavelmente, inclusive a dipirona).

  7. Tamiles Reis dos Santos Assis

    7 de abril de 2021 at 21:18

    Os indivíduos que abusam de benzodiazepínicos, rivotril, geralmente o fazem para lidar com as reações, por exemplo, ao estresse devido ao luto, desemprego, etc.
    Com a expectativa de que tais medicações podem ajudá-los a resolverem os seus próprios problemas, ou então, simplesmente buscam os seus efeitos agradáveis, tais como a euforia, a excitação e o aumento do estado motivacional para a realização de suas atividades cotidianas (HANSON;
    Quando os pacientes adquirem tolerância a algum desses efeitos tendem a procurar um médico com o objetivo de persuadi-lo a prescrever um benzodiazepínico, rivotril, ou então, compram de forma ilegal a medicação (HANSON;
    O Diazepam e um dos fármacos que possuem tais propriedades, o que leva a produzir efeitos acumulativos com o uso de outras drogas, e consequentemente podem levar ao aparecimento de efeitos adversos como sedação, sonolência e ataxia.
    Reações com menor frequência, 18 incluem vertigem, confusão / depressão mental, cefaleia, diminuição da libido, tremores, disartria, diplopia, distúrbios gastrointestinais, amnesia, salivação, retenção ou incontinência urinária.
    O uso excessivo, injustificado e crônico é observado em vários países, 6, 7, 13, 14, 15 independente do grau de desenvolvimento econômico e cultural.
    1,7,9,14,15 10 Estudo de base populacional desenvolvido na Cidade de Bambuí – MG apresentou a prevalência alta do consumo de benzodiazepínicos entre os idosos (27,1%), valores próximos aos observados em países desenvolvidos.
    8 Durante análise dos estudos para a elaboração deste projeto, os mesmos citam os benefícios inferiores aos riscos, especialmente se utilizados por longo tempo 3 devido às consequências danosas.
    maior utilização de BZD em pacientes idosos é inadequada, em especial aqueles de meia vida longa, pois produzem sedação prolongada, aumentando o risco de quedas e, consequentemente, de fraturas do quadril.
    1,6,13,14 Considerando a população idosa mais vulnerável aos efeitos tóxicos devido alterações fisiológicas e possíveis interações medicamentosas, recomendam-se aqueles de ação intermediária ou curta, mesmo assim, em doses mais baixas e por pouco tempo.

  8. Vitor Dos Santos Aragão

    7 de abril de 2021 at 21:20

    Existem inúmeros fatores que se correlacionam para o Brasil ter uma das populações que mais faz uso de medicamentos psiquiátricos do mundo e em especial o Rivotril, dentre eles, pode-se pontuar uma questão cultural, na cultura do nosso país existe uma desvalorização da saúde mental. As pessoas não são ensinadas sobre a importância de falar sobre o que sentem, são apenas ensinadas a reprimirem os sentimentos considerados negativos e atuarem como se tudo estivesse bem, não faz parte da cultura brasileira valorizar profissionais que cuidam da saúde mental, tais como os psicólogos e psiquiatras. Pode-se pontuar que por ser uma sociedade imediatista, as opções medicamentosas oferecem resultados mais rápidos e “eficazes”.
    Entretanto, embora o uso dos medicamentos possa disfarçar e tentar encobrir esses sentimentos, eles continuam intactos, soterrados sob uma espessa camada de química e tal química embora por muitos possa ser considerada quase milagrosa, a mesma pode ser também perigosa, alguns dos efeitos colaterais do Rivotril incluem: cansaço, depressão, irritabilidade, insônia e concentração prejudicada. Podendo inclusive causar efeitos de abstinência ao parar o uso do remédio.

  9. Carmen Queiroz

    7 de abril de 2021 at 21:28

    A venda de medicação controlada sem receita e acompanhamento médico é crime, previsto em lei, e considerado como tráfico de drogas.
    Entre os fatores motivacionais que levam brasileiros a este tipo de consumo podemos ressaltar a crise do sistema de saúde. Demora no atendimento, falta de médicos, de remédios, de material entre outros. As farmácias pequenas, por sua vez, impossibilitadas de concorrer no mesmo pé de igualdade com as grandes redes farmacêuticas, encontram ai uma brecha para vender mais. Vendem medicamentos controlados e se encarregam de providenciar as receitas para ficarem quites com a Vigilância sanitária. Neste ponto, atendem também aos dependentes químicos e a pessoas que buscam solução rápida para seus problemas e que passam a correr o isco de se tornarem dependentes das drogas que adquirem.
    Em relação aos benzodiazepínicos, o uso prolongado e principalmente descontrolado, causa impacto na sociedade e na economia, visto que podem causar dependência química vários outros efeitos colaterais.

  10. Denise

    7 de abril de 2021 at 21:28

    Os brasileiros têm algumas motivações que os levam a consumir medicação controlada sem receita e acompanhamento médico. Dentre as principais estão as questões sociais no que tangem, tanto o lado financeiro (é mais barato comprar esse medicamento do que pagar uma consulta médica) e a sobrecarga do SUS, o qual acaba não validando quem vai por uma crise de ansiedade, já que há muitos com sangue exposto, correndo risco de vida; quanto a falsa ilusão de que o Rivotril, por exemplo, irá resolver os dias estressantes causados pela pandemia, como insônia, prazos e conflitos familiares. Contudo, além da medicação controlada, em especial, dos benzodiazepínicos, apenas mascararem os problemas e não resolvê-los, eles podem gerar impactos negativos na saúde da população brasileira, pois há riscos de dependência química e psicológica, com o uso indiscriminado dessas substâncias (perigos da automedicação). Portanto, não se deve recorrer a esses medicamentos, sem orientação e indicação médicas, pois eles causam dependência e não resolvem as questões problemáticas que estão afetando a vida dos brasileiros. Muitas dessas questões necessitam de processos terapêuticos, para se chegar ao cerne delas, e assim, aprender a lidar com os problemas, atuais e vindouros, de forma funcional e saudável.

  11. Melissa Magalhaes

    7 de abril de 2021 at 21:30

    Com tantas dificuldades, cada dia mais, o brasileiro tem sido um povo ansioso devido a constante situações de sofrimento e falta de condições de vida. O custo de sobrevivência tem sido cada vez maior. Devido a falta de condições básicas de sobrevivência, seja de saúde, de condições de trabalho e por fim com a chegada da Pandemia, as pessoas tem adoecido cada dia mais. Sem suporte de saúde mental, na verdade sem suporte em sua saúde física, as preocupações com o futuro, sem saber o como será o amanhã, tem criado muito estresse e o crescimento continuo da ansiedade.
    Como fuga, e sem condições de suporte e acolhimento, os médicos têm receitado cada vez mais medicação controlada, em especial, dos benzodiazepínicos, para a população brasileira. Com isso as pessoas vivem na ilusão do bem estar, onde na verdade só busca um conforto para sobreviver e criar seus filhos com saúde e o mínimo de estrutura.
    Tem muita gente dependente dos benzodiazepínicos, vivem em função da medicação como forma de viver bem. Sem saída para resolver seus problemas, muitas vezes, se afundam.

  12. Francisca Adriene Pinheiro

    7 de abril de 2021 at 21:32

    É Triste e assustador a quantidade de pessoas dependentes dessas medicações e com problemas psicológicos. E com a pandemia da covid agravou mais ainda o uso descontrolado desses ansiolíticos. Dentre as diversas patologias, a ansiedade e depressão são mais presente na população. Visto que a medicação só mascara o problema e deixa o individuo mais suscetível a outros problemas de saúde. Existem outros tipos de saídas para controlar essa ansiedade e depressão, como procurar terapias, fazer atividades físicas, e buscar meios de bem estar de ordem física e emocional.

  13. Moniqueberg Santana

    7 de abril de 2021 at 21:34

    De acordo com os dados apresentados o consumo de medicamentos controlados como os benzodiazepínicos, tem aumentando nos últimos anos. E por causa da pandemia do Covid-19, esse consumo não para de crescer. O que pode justificar esse consumo, seria o aumento da instabilidade psíquica dos brasileiros, picos de ansiedades que tem sido vivenciado com maior frequência. Além, de que os ansiolíticos tem propriedade de fazer relaxar, e diante do momento que estamos vivendo é o que muitas pessoas procuram. Por outro lado, o uso inadequado desse tipo de medicação, além de provocar a dependência, causa dificuldade de concentração e perda de memória. Isso se, usado sem indicação medica e ou usado de forma incorreta e não controlada.

  14. Fabiana Liberato

    7 de abril de 2021 at 21:35

    A falta de entendimento das questões de saúde mental e os efeitos da automedicação fazem com que a população brasileira estejam imersas num ciclo vicioso de irem até as farmácias próximas e com valores abaixo de uma mensalidade de academia, aula de natação, outro esporte ou alguma atividade física que lhes proporcionem prazer e sejam como válvula de escape, comprarem a ilusória tranquilidade, entretanto neste contexto a banalização de transtornos causam maiores danos ao sistema de saúde pública SUS.
    Assim como outras drogas, em especial os benzodiazepínicos, tem alta possibilidade de dependência química, onde outro dano é causado para a tratativa com demanda terapêutica na tentativa de diminuir a inserção de outras drogas.

  15. Catia Pontes

    7 de abril de 2021 at 21:37

    O Brasil vive no processo de medicalização em vários aspectos do corpo social, e com a mudança de comportamento dos brasileiros, com os seus ritmos mais acelerados por motivos diversos como: acadêmico, laboral e outros, o nível estressor, crise e ansiedade estão cada vez mais frequentes nos indivíduos contemporâneo. No entanto, a facilidade das comercializações dos fármacos e dos mercados ilícitos, ajudam os brasileiros obterem os medicamentos sem um controle mais restritivos, e assim, aumentando o uso dos fármacos, principalmente do Rivotril. Sobretudo, os impactos são terríveis, tanto físicos quanto psíquicos e até mesmo em alguns casos com o enfrentamento em dependência da substância psicoativa. Por tanto, uma forma de combater esse crescimento em uso acerbados é uma conscientização preventiva, informando para população os riscos do uso indevido e sem um acompanhamento de um profissional.

  16. Lidiane costa

    7 de abril de 2021 at 21:53

    Quem pensou que ao celebrar a chegada de 2020 com suas lindas vestes brancas, fogos de artifícios, banho de mar e demais simbolismos, iria estar diante de um ano tão dramático e inesperado? ouvia-se falar em pandemia, porém, parecia tão longe! lá na China! É somente uma gripe! Exclamou o presidente. Brasileiro, é forte!nada o derruba jamais, não desiste nunca!
    O povo brasileiro tem enfrentado muitas adversidades desde o descobrimento, fôra invasões, roubo de riquezas, desrespeito a cultura, escravidão dentre outras. Que povo forte! Temos que concordar com o presidente. Mas, o que se esconde por detrás de tanta fortaleza? Incertezas, misérias, fome, prostituição, violências, feminicidios e racismo estrutural. O que nos falta? Como enfrentar tudo isso? Tem-se que acordar de manhã para mais um dia de enfrentamentos; ônibus cheio,Trabalho,Escravidão do capital!
    “Não temos tempo!”Tempo para a família, para cuidar da saúde mental, estamos muito ocupados. Meditar? Como assim? Se o consumismo nos consome porque se não consumismo, sumimos! precisamos estar a altura nem que para isto tenha que dividir em doze vezes no cartão de crédito. Consequência disto!? Não dormimos e a cabeça dói, preocupação;este é o brasileiro!
    O que fazer? Correr lá na farmácia aí está a solução temporária, a porta da farmácia está sempre aberta não fechou na pandemia pois é serviço essencial. Compra-se um Revoltril,precisa de receita, no entanto, a moça da farmácia da um jeitinho;Jeitinho brasileiro! Aí sim, o sorriso volta ao rosto, realidade mascarada, segui-se assim; usando máscaras, o vizinho precisa saber que sou feliz, um vencedor que, “não desiste jamais!”.
    Faz-se necessário, ouvir o presidente! Não? Acho que o governador! Não? O prefeito. Não? O que precisa o brasileiro mesmo? É comer todos os dias, comprar o gás, pagar conta de luz e água, aluguel. Como pagar uma consulta no psiquiatra ou no psicólogo? Nunca sobra dinheiro para isso, ir para o SUS nem pensar é tempo demais para marcar consulta e eu? Brasileiro? Não tenho tempo, tenho que trabalhar porque o trabalho dignifica o homem.

  17. Jhonnys Mendes Santos

    7 de abril de 2021 at 21:58

    Na contemporaneidade, a sociedade, demasiadamente hedonista, é dividida em papéis sociais e o sistema capitalista estimula a competitividade e a busca desenfreada de status, reconhecimento profissional e pessoal, títulos, o desejo do corpo perfeito e da felicidade imediata a todo o tempo, os sujeitos sociais acumulam sobrecarga emocional e se tornam vulneráveis à transtornos psíquicos. Sendo assim, o imediatismo para se obter uma solução que amenize ou proporcione um falso equilíbrio entre aspectos emocionais e a vida pública-privada, faz com que muitos brasileiros recorram a medicamentos psiquiátricos como o Rivotril.
    A dificuldade em lidar, em especial, com uma crise socioeconômica somada a pandemia do Covid-19, em que provocou medo da contaminação, perda de entes queridos, isolamento e distanciamento social, também é um fator que impulsiona o aumento da busca pelos benzodiazepínicos. No entanto, a questão a ser tratada é outra. O indivíduo usuário do Rivotril, por exemplo, busca por uma solução rápida para um problema que continuará existindo e é mais complexo de ser resolvido.
    Ao consumir benzodiazepínicos de forma irresponsável, sem acompanhamento ou recomendação médica, sem avaliar o problema de cada paciente e da necessidade do uso de forma criteriosa e minuciosa, pode provocar dois outros problemas: a dependência química e a patologização dos sentimentos e comportamentos. Esta não é a solução. É preciso diferenciar um sentimento comum a todos os humanos e que faz parte do existir de cada pessoa, do transtorno psíquico causador de sofrimento. Vale ressaltar que o mais apropriado é promover o fortalecimento do individuo para que ele possa lidar de maneira adaptativa e funcional às questões difíceis em seu cotidiano. Outro ponto, a dependência química, retira a autonomia do sujeito, que condicionado a um modo de viver controlado pela substancia ativa da droga.
    Levando em consideração todos esses elementos acima citados, a psicoterapia tem eficácia cientificamente comprovada no tratamento de transtornos psicológicos ao promover estratégias de enfrentamento de problemas, para que o individuo obtenha saúde mental, equilíbrio emocional e, consequentemente, mais qualidade de vida. Por outro lado, a sociedade vigente precisa rever a forma como estão organizadas as instituições, os espaços, a divisão de trabalho e as desigualdades sociais e econômicas que são variáveis que desempenham papéis importantes para o aumento ou uso excessivos dos benzodiazepínicos.

  18. Joanice de Souza Barbosa

    7 de abril de 2021 at 21:59

    As motivações que levam os brasileiros a tomarem os medicamentos sem receita e acompanhamento medico, são fatores que crescem tanto aqui no Brasil como em outros países. Ir a farmácia representa a primeira opção procurada para resolver um problema de saúde, e a maior parte dos medicamentos consumidos pela população é vendida sem receita médica, vários medicamentos de uso mais simples e comuns estão disponíveis em farmácias, drogarias ou supermercados, e podem ser obtidos sem necessidade de receita médica.
    Os impactos dos benzodiazepínicos é que são substancias psicoativas que atuam no Sistema Nervoso Central (SNC), sendo capazes de produzir alterações e dependência e sua utilização tem sido relacionada às causas de intoxicação e a abusos.

  19. Lidiane costa

    7 de abril de 2021 at 21:59

    Quem pensou que ao celebrar a chegada de 2020 com suas lindas vestes brancas, fogos de artifícios, banho de mar e demais simbolismos, iria estar diante de um ano tão dramático e inesperado? ouvia-se falar em pandemia, porém, parecia tão longe! lá na China! É somente uma gripe! Exclamou o presidente. Brasileiro, é forte!nada o derruba jamais, não desiste nunca!
    O povo brasileiro tem enfrentado muitas adversidades desde o descobrimento, fôra invasões, roubo de riquezas, desrespeito a cultura, escravidão dentre outras. Que povo forte! Temos que concordar com o presidente. Mas, o que se esconde por detrás de tanta fortaleza? Incertezas, misérias, fome, prostituição, violências, feminicidios e racismo estrutural. O que nos falta? Como enfrentar tudo isso? Tem-se que acordar de manhã para mais um dia de enfrentamentos; ônibus cheio,Trabalho,Escravidão do capital!
    “Não temos tempo!”Tempo para a família, para cuidar da saúde mental, estamos muito ocupados. Meditar? Como assim? Se o consumismo nos consome porque se não consumismo, sumimos! precisamos estar a altura nem que para isto tenha que dividir em doze vezes no cartão de crédito. Consequência disto!? Não dormimos e a cabeça dói, preocupação;este é o brasileiro!
    O que fazer? Correr lá na farmácia aí está a solução temporária, a porta da farmácia está sempre aberta não fechou na pandemia pois é serviço essencial. Compra-se um Revoltril,precisa de receita, no entanto, a moça da farmácia da um jeitinho;Jeitinho brasileiro! Aí sim, o sorriso volta ao rosto, realidade mascarada, segui-se assim; usando máscaras, o vizinho precisa saber que sou feliz, um vencedor que, “não desiste jamais!”.
    Faz-se necessário, ouvir o presidente! Não? Acho que o governador! Não? O prefeito. Não? O que precisa o brasileiro mesmo? É comer todos os dias, comprar o gás, pagar conta de luz e água, aluguel. Como pagar uma consulta no psiquiatra ou no psicólogo? Nunca sobra dinheiro para isso, ir para o SUS nem pensar é tempo demais para marcar consulta e eu? Brasileiro? Não tenho tempo, tenho que trabalhar porque o trabalho dignifica o homem.

    Lidiane Santana Costa.
    Psicologia 9° semestre.

  20. Mércia Aguiar

    7 de abril de 2021 at 23:01

    Esse texto nos leva a varias reflexões, pois nos remete a pensar no sistema capitalista em que vivemos, esse que de maneira violenta adoece o biopsicossocial da população. Em decorrência disto, a grande massa adoecida, para alivio de suas dores buscam por meios “rápidos” em todos os sentidos para resolver suas angustias independente se elas são no aspecto psiquiátrico ou psicológico, mesmo alienados dos efeitos colaterais, o usuário e/ou a pessoa em adoecimento mental quer uma solução, seja ela por qual via for, já que economicamente ir por conta própria é mais acessível. Outro ponto é sobre a falta das politicas publicas que criem serviços que deem acesso a questões pertinentes como essas de saúde publica, visto que as psicopatologias estão em alta. Sendo assim, é bem mais fácil resolver logo esses problemas tomando um “remedinho para dormir,” não importa se conseguiu com a vizinha, ou na farmácia do amigo, não tem “problema” o que importa é resolver o agora sem pensar nos danos futuros que podem causar essas drogas, alguns apenas por não saber mesmo que estrago virá. É triste um sistema politico capitalista que quer acabar com os Centros de Atenção Psicossocial, isso é um, dos vários outros fatores reforçadores da automedicação, motivando de forma direta o sujeito ao consumo da medicação controlada sem a supervisão médica adequada, acompanhamento psicológico, terapias de grupo, parece que estão gritando: se a farmácia vende e movimenta a economia, parece estar tudo bem para esse sistema.

    Lamentável!

  21. Tiago Santos da Cruz

    8 de abril de 2021 at 03:37

    -Respondendo a questão um; segundo texto diz que muitos fazem o uso de medicamentos controlados pois eles equilibram o estado de tensão da pessoa ansiosa. O texto também revela através da revista escrita por jornalista Bruno Versolato, afirma que hoje é mais raro o refúgio dos problemas para uma praia distante de tudo, idas aos shoppings ou para as compras ou o consumo de um prato bastante calórico, pois é considerado “proibido”. E por essas e outras tomar um comprimido pra relaxar tem sido recorrente.

    – O comprimido ele tem efeito de duração 18 horas em nosso corpo, entre o início do relaxamento, o pico do efeito e a saída do organismo. A caixa contém escrito a tarja preta e avisa sobre o risco de dependência química ou psicológica de quem tem o uso constante (aqueles que usam geralmente são pessoas que perderam alguém significativo em sua vida, terminos de relacionamento entre outros).
    Leonardo Campos tras em um dos seus paragrafos que muitas pessoas que utilizam os comprimidos, vão pelo caminho mais fácil, enjaulando o problema dentro de si e procrastinando algo para resolução futura. E de fato é decorrente o crescimento do uso dos benzodiazepínicos no nosso pais a cada ano aumentam as vendas como é mostrados nos graficos acima do R7 pesquisa feita em 2015.

  22. PAULA MARIA GRAVE MUSSER

    8 de abril de 2021 at 17:50

    Rivotril é o remédio mais vendido que os paracetamol, antigripais e inclusive a pomada Hipoglós, muito utilizada para problemas relacionados para assaduras ou prevenção delas. Tornou-se o remédio mais utilizado para maioria das pessoas ansiosas ou simplesmente com insônia tornou-se o queridinho e indispensável no mercado farmacêutico. Com o controle de vendas por ser um remédio de tarja preta, onde só é possível adquirir a partir da retenção da receita médica, ainda existe o questionamento, então, qual o motivo ainda desse medicamento ser o mais vendido no Brasil?
    Muito utilizado pelos executivos para atenuar as tensões do dia-a-dia em sua vida extremamente movimentada e cheia de altos e baixos, fazer uma caminhada, uma corrida ou qualquer outro esporte torna-se obsoleto, inclusive seria considerado por eles como perda de tempo, visto que “tempo é dinheiro” o grande aforismo da categoria, consequentemente o Rivotril aparece como uma grande cartada, prometendo paz, descanso e sono tranquilo. Drogas da composição dos benzodiazepínicos utilizados com frequência, afetam diretamente o humor e a mente dos que a consomem, causando respostas motoras e de cognição atenuadas, se assim podemos chamar.
    A dependência no entanto é o maior risco, a própria bula do medicamento já chama a atenção para o fato. Há um risco de dependência , inclusive para quem utiliza o Rivotril sob orientação médica, no desmame acompanhado, pode incorrer crises de abstinência que certamente se tornarão verdadeiros problemas na vida da pessoa, tais como aparecimento do distúrbios do sono,algumas psicoses e diversos tipos de transtornos incluindo o transtorno de humor, e a contradição disso, é que a pessoas recorre a essa medicação justamente para fugir desses sintomas e, se veem com o agravamento destes quando deixam de usar.
    Não há consenso entre os profissionais quanto a dosagem de forma segura para que se possa evitar a dependência, neste caso o uso vai sendo testado e ou ajustado a cada consulta.
    Estamos vivenciando um momento muito crítico tanto a nível nacional como mundial, má distribuição de renda, colapso na saúde, crises diversas, o que tem colaborado para o uso discriminado da medicação, o cenário da pandemia intensificou as vendas, e, embora o consumo desse medicamento já seja apontado como preocupante, com a pandemia ele tornou-se indispensável para controle de ansiedade e das diversas síndrome de decorrem dela.

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Ciência, Cultura & Sociedade

Gattaca: Experiência Genética

A trama se situa num futuro não exatamente muito distante, contexto onde vigora uma ditadura da genética

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Candidato ao posto de clássico moderno e referência nos meandros da metodologia da pesquisa, Gattaca: A Experiência Genética é uma narrativa sobre os limites da ciência e seus aspectos sociais, políticos e econômicos
Foto: Divulgação

Leonardo Campos

Candidato ao posto de clássico moderno e referência nos meandros da metodologia da pesquisa, Gattaca: A Experiência Genética é uma narrativa sobre os limites da ciência e seus aspectos sociais, políticos e econômicos, um campo cheio de regras, axiomas, leis e teoremas, estabelecidos para que os responsáveis por suas manipulações sigam fielmente os direcionamentos, nalgumas vezes, transbordados quando há vantagens que nem sempre dialogam com aquilo que se convencionou a chamar de postura ética do pesquisador. Ao longo de seus envolventes 106 minutos, contemplamos uma trama que reflete os impactos da intervenção genética em nosso mundo, na produção Gattaca, dividido entre os seres humanos gerados biologicamente e aqueles concebidos graças ao advento das evoluções científicas. Neste cenário sombrio, temos um eficiente debate sobre o papel da ciência em nosso cotidiano, em especial, o desenvolvimento da genética na dinâmica dos seres vivos, numa reflexão sobre bioética e seus desdobramentos, afinal, por mais positiva que seja o avanço tecnológico neste campo, estamos lidando com a perigosa eugenia, algo que nas mãos da humanidade conflituosa, pode gerar caos.

A trama Gattaca se situa num futuro não exatamente muito distante, contexto onde vigora uma ditadura da genética. Numa espécie de processo eugênico, a ciência faz a separação dos indivíduos válidos e inválidos, sendo os primeiros os dominantes nas relações sociais.  O cineasta Andrew Niccol adentra pelo viés das narrativas sobre o lado vilanesco da ciência, sabiamente trabalhado em ao longo da história do cinema, em filmes como Metrópolis, de Fritz Lang, dentre outros. Aqui, ele demonstra o quão a sociedade fictícia se encontra submissa aos ditames de um discurso científico opressivo, numa existência onde os seres humanos artificiais ocupam melhores posições e os considerados inferiores, isto é, com probabilidades de problemas genético, os espaços de menor favorecimento social. Em Gattaca: A Experiência Genética, o espectador é apresentado ao mundo dos filhos da fé e dos filhos da ciência. Ao nascer, o individuo que antes tinha o destino nas mãos da vontade divina agora pode ter o seu perfil delineado pela engenharia genética. Logo em seu nascimento, apenas uma gota de seu sangue permite a impressão de um diagnóstico que conduzirá toda a sua vida, num processo que flerta com todas as etapas de uma tradicional investigação científica, da introdução da proposta ao estabelecimento dos objetivos, da justificativa, do desenho antecipado do problema e da hipótese, aos métodos selecionados e os desdobramentos das análises que tem como destino, o encontro de respostas assertivas.

Nestes cálculos, as probabilidades definem as suas qualidades genéticas, psicológicas, físicas e possíveis doenças e até o desenvolvimento da causa de morte no futuro das pessoas. Diante do exposto, conhecemos o adulto Vincent Freeman (Ethan Hawke), interpretado por Mason Gamble na infância e por Chad Christ na adolescência, um homem que é filho de Deus, ou seja, nasceu com as seguintes porcentagens nas chances para desenvolvimento de problemas: 60% para questões neurológicas, 42% para depressão, 89% de capacidade de se concentrar e 92% para a possibilidade de desenvolver distúrbios cardíacos. Desde a sua infância, ele sonha em ingressar no projeto Gattaca, uma agência que treina os melhores astronautas para missões espaciais exploratórias. O grande conflito é que a sua ficha é taxativa: ele não possui os requisitos para alcançar uma vaga, pois é um filho de Deus, portanto, possui elementos que o tornam uma figura enfraquecida diante das vantagens físicas dos filhos da ciência. Além disso, psicologicamente ele é um personagem circunspecto, desanimado, haja vista a sua trajetória em família.

Quando pequeno, seus pais tiveram outro filho, Anton Freeman (Loren Dean), uma criança oriunda da ciência, socialmente com mais credibilidade que Vincent. Assim, a repressão advinda do campo científico não se mantém emaranhado em sua vida apenas na fase adulta, mas ao longo de toda a sua formação. Contemplamos tudo isso ao longo da narração em primeira pessoa do filme, com flashbacks explicativos para a postura do protagonista Vincent, figura que rouba a identidade de um nadador desabilitado após um acidente que o deixou tetraplégico, falsificação utilizada para adentrar no espaço de seu tão sonhado projeto de vida, algo que, no entanto, o coloca em risco. Após um assassinato, as coisas mudam e mesmo após a transformação física do personagem, bem como alguns ajustes de ordem comportamental, todos se tornam alvo de uma investigação que pode desmascará-lo. Ao tentar driblar o sistema e subverter uma ordem que delineia destinos predeterminados pela manipulação do DNA para a fabricação de organismos “melhorados”, Vincent também põe em risco a sua vida, numa perigosa e empolgante jornada que funciona como entretenimento de qualidade, bem como reflexões filosóficas intrigantes sobre a relação da humanidade com os próprios pilares tecnológicos que cria.

Na composição da estrutura cinematográfica de Gattaca: A Experiência Genética, o cineasta Andrew Niccol contou com uma eficiente equipe técnica, responsável pelo assertivo estabelecimento da materialidade fílmica em prol do tema debatido nos diálogos e situações do texto dramático. A textura percussiva de Michael Nyman, imersiva, acompanha as cenas que se passam pelos cenários devidamente dirigidos artisticamente pelo design de produção assinado por Jan Roells, setor que cria ambientes equilibrados, próximos do realismo de nosso mundo contemporâneo, mas com elementos que emulam as fascinantes ficções com teor científicos, conhecidas por delinear em cena, traços estéticos que nos remetem ao “futurismo”. Ademais, na direção de fotografia, Slawomir Idziak cria ângulos que nos permitem sentir a vulnerabilidade de alguns personagens, com planos que reforçam o contexto de tensão no qual as figuras ficcionais estão espalhadas, uma malha narrativa onde a ditadura da engenharia genética reforça preconceitos e fixa um amontado de castas sociais conflituosas, imersas num angustiante lugar de controle social e determinismo genético, retrato da nossa realidade, alegorizado por meio do brilhante tema desenvolvido nesta trama sobre a ciência e seus impactos positivos e negativos para a humanidade, afinal, as redes sociais e as novas tecnologias estão ai para nos mostrar que apesar de dominarmos aquilo que pode melhorar a nossa vida, também nos tornamos reféns de seus efeitos colaterais, não é mesmo?

Leonardo Campos é Graduado e Mestre em Letras pela UFBA.
Crítico de Cinema, pesquisador, docente da UNIFTC e do Colégio Augusto Comte.
Autor da Trilogia do Tempo Crítico, livros publicados entre 2015 e 2018,
focados em leitura e análise da mídia: “Madonna Múltipla”,
“Como e Por Que Sou Crítico de Cinema” e “Êxodos – Travessias Críticas”.
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Ciência, Cultura & Sociedade

Introdução: A Porta de Entrada de Seu Projeto de Pesquisa

Este é um momento importante para fisgar o leitor e garantir interesse na continuidade da leitura de sua empreitada científica

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Todas as etapas de um projeto de pesquisa são importantes. Com a introdução, não seria diferente, correto, caro leitor? Em nosso breve e

Leonardo Campos

Todas as etapas de um projeto de pesquisa são importantes. Com a introdução, não seria diferente, correto, caro leitor? Em nosso breve e elucidativo artigo com toques de tutorial, explanarei sobre os principais passos para adoção durante a elaboração da parte introdutória de seu projeto, um momento importante para fisgar o leitor e garantir interesse na continuidade da leitura de sua empreitada científica. Como porta de entrada, o seu texto deve ser limpo, atraente, coeso, coerente, fornecer subsídios para comprovação da relevância social de seu tema, bem como segurança diante da proposta escolhida para trabalho. Sendo o primeiro contato com as perspectivas de seu processo investigativo, é na introdução que você expõe a questão da sua pesquisa, o desenvolvimento do problema e a pertinência de sua hipótese, num cartão de visitas que precisa convencer os leitores sobre a significância de sua jornada.

Observe este infográfico. Leia. Faça uma análise e depois reflita sobre os pontos abordados. Foi produzido para um curso de Enfermagem, mas pode ser pensado para qualquer outra área do conhecimento. Ademais, não precisa ser seguido fidedignamente, mas adaptado para a sua realidade de pesquisa.

Observou. Descreverei mais detalhadamente sobre os pontos adiante. Sigamos.

O número de páginas para a introdução é relativo e depende das normas dispostas nos editais da instituição na qual você desenvolve a pesquisa. O seu tema deve ocupar o maior espaço do texto, numa escrita que pode (e deve) contemplar os principais conceitos, um percurso histórico do tema, dados de outras pesquisas (quando houver) realizadas anteriormente, num processo explicativo do autor (você) para o leitor, tendo como uma das principais preocupações, a determinação da abrangência da pesquisa. Recentemente, uma estudante de Jornalismo me abordou para uma orientação que se referia ao fenômeno da Cultura do Cancelamento. Na proposta introdutória, ela não especificava qual era o seu recorte temporal, bem como o seu objeto. Se este fosse um projeto esboçado para um edital de seleção para mestrado, doutorado ou adentrar numa iniciação científica, provavelmente o material seria descartado, com a reprovação divulgada nos resultados posteriormente. Explico os motivos.

Mesmo que o título forneça pistas, o texto introdutório precisa evidenciar a natureza do trabalho de maneira mais elucidativa possível. Deve atravessar, talvez indiretamente, os objetivos, a finalidade da pesquisa e a justificativa. Lembre-se, caro leitor: é na introdução que fisgamos o leitor, neste caso, os avaliadores. É um texto onde teremos uma ideia geral do projeto, parte onde o autor diz por quais motivos escolheu o assunto, tendo em vista delinear a importância de seu conteúdo. Somente na justificativa foi possível compreender que a estudante em final de curso se referia ao cancelamento por meio de uma observação detida aos participantes do reality show Big Brother Brasil, numa análise pertinente sobre os desdobramentos das opiniões destes indivíduos durante a participação no programa, culminando na aceitação ou ojeriza do público em relação aos seus posicionamentos, no linchamento virtual das redes sociais e afins. Observe que uma temática interessante quase deixou de ser levada adiante por falta de comprometimento com o texto de abertura, um trecho valioso, tal como o preâmbulo de filme, série ou romance que prende a nossa atenção e mesmo que decepcione, nos leva adiante em sua jornada.

Assim é com a introdução se sua pesquisa. É o momento de contextualização dos caminhos pavimentados em sua proposta. Precisa ser atrativa, motivar a continuidade do interesse de quem lê (e avalia), bem como traçar as contribuições advindas do tema recortado na jornada que você pretende trilhar em seu projeto. O texto? Claro, conciso e “preciso”. Como já mencionado, demonstrar os antecedentes de sua abordagem, “produzir um design” para que o leitor compreenda quão pertinente é a sua linha de raciocínio para a investigação escolhida, numa escrita que deve prezar pelo tom persuasivo e, num movimento questionador, levantar indagações sobre a temática, numa conexão assertiva com as partes subsequentes, isto é, um ritmo empolgante na abertura, para que os objetivos, justificativas, hipóteses, problemas, metodologias, mapeamento bibliográfico, orçamento e cronograma, bem como os anexos e referências consultadas no formato solicitado pela ABNT estejam organicamente unificados como partes constituintes de uma tessitura alinhada, coesa e coerente com os seus propósitos.

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Boa escrita!

Leonardo Campos é Graduado e Mestre em Letras pela UFBA.
Crítico de Cinema, pesquisador, docente da UNIFTC e do Colégio Augusto Comte.
Autor da Trilogia do Tempo Crítico, livros publicados entre 2015 e 2018,
focados em leitura e análise da mídia: “Madonna Múltipla”,
“Como e Por Que Sou Crítico de Cinema” e “Êxodos – Travessias Críticas”.
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Ciência, Cultura & Sociedade

Os tipos de conhecimento em `Quase Deuses`

A narrativa traz para a cena os impasses de personagens em buscar explicações para as investigações científicas que empreendem

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Uma jornada pelos caminhos do conhecimento. Eis uma definição possível para Quase Deuses, telefilme dirigido por Joseph Sargent, cineasta
Fotos: Divulgação

Leonardo Campos

Uma jornada pelos caminhos do conhecimento. Eis uma definição possível para Quase Deuses, telefilme dirigido por Joseph Sargent, cineasta que se baseia no roteiro de Robert Caswell e Peter Silverman para nos contar uma edificante história de superação lançada em 2004, uma saga de dedicação e empreendedorismo que atualmente é bastante mencionada em aulas de projeto de vida, cursos de metodologia da pesquisa, dentre outras áreas da aprendizagem humana. Tocante, sem apelar para um tom novelesco excessivo, algo comum na seara das produções cinematográficas para televisão, a narrativa traz para a cena os impasses de personagens mergulhados no interesse crítico para buscar explicações para as investigações científicas que empreendem, tendo o campo da medicina como espaço de desenvolvimento dos conflitos dramáticos internos, isto é, situados num caso específico de análise, bem como os externos, conectados com os desafios pessoais na vida destas figuras ficcionais com vidas atribuladas e cheias de obstáculos, mas focadas em encontrar as soluções que escreveriam os seus nomes para a eternidade, haja vista a inspiração numa história real para a concepção do filme.

Ao longo dos 110 minutos de Quase Deuses, nos deparamos com o cotidiano de Vivien Thomas (Yassin Bey) e Alfred Blalock (Alan Rickman), o primeiro, um homem negro, pobre, desacreditado diante da possibilidade de saída do determinismo que o sufoca, sendo o segundo, um médico renomado da Universidade de Vanderbilt, em Nashville, ambos situados na década de 1940, uma era de conflitos bélicos mundiais e muitas mudanças de paradigmas sociais.  A relação deles começa depois que Vivien consegue uma vaga de faxineiro na universidade. Curioso, ele sempre executa os seus serviços observando como as coisas funcionam ao redor, numa postura de pesquisador. O rapaz não quer apenas limpar e receber o seu salário no final do período, mas conhecer como se desdobram os processos por onde passa. Ele tem faro de investigador, posicionamento inicial que o fará ir tão longe, mais que o esperado, tornando-se um renomado cientista e médico, ganhador do Honoris Causa, em 1976. Acompanhamos cada passo seu com a trilha sonora emotiva de Christopher Young, importante para o impacto dramático de cada passagem transformadora na vida destes personagens que aprendem muito entre si.

Voltemos ao contato entre a dupla. Ao perceber que Vivien Thomas é um homem interessado e curioso, o Dr. Alfred começa a lhe garantir algumas oportunidades adicionais. Há momentos de observação de experimentos, contemplação de procedimentos, numa jornada que permite ao faxineiro sair da posição fixa importante, mas redutora, levando-o como auxiliar para o Hospital John Hopkins, numa época em que se relacionar com pessoas negras era tabu, tempo conflituoso que exigir ceder o lugar para os brancos num transporte público ou ter banheiros diferentes para cada grupo, em linhas gerais, uma tenebrosa fase da história humana que de vez em quando, se repete na contemporaneidade, por mais que afirmemos que passamos por consideráveis mudanças sociais. A esposa de Vivien, sempre preocupada, teme que as experiências do marido sejam ousadas demais e os deixem numa posição comprometedora futuramente. Ele, persistente, segue o seu sonho e consegue convencer a todos de sua competência, num trunfo belíssimo.

Sua trajetória é de superação sem aderir aos milagres ou religiosidade. Vivien Thomas é técnico no que faz, focado na metodologia, humilde quando os caminhos não levam para o esperado e consciente da necessidade de recomeçar quando percebe que realizou uma escolha equivocada. Em sua pesquisa com animais, faz procedimentos e experimenta muito, antes de chegar aos resultados finais, uma aula para a juventude contemporânea impaciente e obcecada pelo Google como via exclusiva para as suas respostas. É na exatidão científica que o personagem prospera, numa era de tantas dispersões e dificuldades como qualquer outra, marcada pela recessão econômica, desdobramento da Crise de 1929, época de taxas altíssimas de desemprego e miséria, queda do poder de compra e da renda, bem como da produção industrial em escala mundial. Sem falar na já mencionada segregação racial, um impasse que poderia ter acabado de vez com os primeiros passos galgados por Vivien Thomas, ao lado do Dr. Alfred, seu mentor, figuras unificadas para a resolução da Síndrome do Bebê Azul, um problema cardiológico que foi resolvido depois de muito trabalho, leitura, investigação e testes laboratoriais, em suma, após uma jornada exaustiva, mas necessária, de pesquisa embasada por métodos sérios.

Eles precisam descobrir como resolver a cianose provocada pela deficiência no transporte de oxigênio no sangue do bebê que desenvolve o problema quando nasce, nalguns casos, logo quando pequeno, uma condição que o deixa com a pela azulada ou arroxeada, cor que pode ser efeito da junção de sangue oxigenado com o não oxigenado, problema de saúde oriundo de má formação congênita. É uma situação raríssima que encontrou respostas significativas na empreitada do médico e de seu auxiliar. Nós contemplamos estas passagens com a direção de fotografia de Donald M. Morgan, eficiente na captação dos momentos de duelo entre os investigadores e a sociedade, personagens que atravessem os cenários do design de produção de Vincent Peranio, também assertivo ao emular com cautela as décadas por onde a trama se passa, além de construir um espaço de trabalho para a dupla que é simples, mas imersivo no que tange aos aspectos visuais de um local para experimentos científicos. Ademais, Quase Deuses também é uma narrativa para reflexão sobre os diversos tipos de conhecimento, sabia?

Nos momentos em que os dois homens debatem sobre como descobrir a cura para a cura do bebê e assim, explicar tal fenômeno, nós temos pontos de articulação com o conhecimento filosófico, obtido na lógica e na construção de conceitos. Após numerosas tentativas com animais que não dão certo, os testes acabam levando Vivien para o seu objetivo, num diálogo com o que chamamos de conhecimento sensível, aquele obtido através dos sentidos, neste caso, pelo olhar atento do personagem. Quando um representante religioso deseja intervir na cirurgia, alegando que os médicos querem interceder diante da vontade divina, temos impregnado o conhecimento religioso. No caso do conhecimento científico, podemos contemplar a sua passagem em diversos momentos de Quase Deuses, em especial, quando Vivien Thomas se apaixona pelos estudos na área de medicina e começa a devorar todos os livros possíveis sobre o assunto, numa busca por problemas, hipóteses, respostas por meio de experimentos e investigação.

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Leonardo Campos é Graduado e Mestre em Letras pela UFBA.
Crítico de Cinema, pesquisador, docente da UNIFTC e do Colégio Augusto Comte.
Autor da Trilogia do Tempo Crítico, livros publicados entre 2015 e 2018,
focados em leitura e análise da mídia: “Madonna Múltipla”,
“Como e Por Que Sou Crítico de Cinema” e “Êxodos – Travessias Críticas”.
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