Internacional
Funcionária protesta ao vivo em TV estatal russa
Ela pode enfrentar uma pena de prisão, sob uma legislação russa recém-criada, de até 15 anos
Uma funcionária da televisão estatal russa Channel One interrompeu o principal programa de notícias do canal com um protesto extraordinário contra a invasão da Ucrânia por Vladimir Putin.
Marina Ovsyannikova, editora do Channel One, invadiu o set da transmissão ao vivo do noticiário noturno na noite desta segunda-feira (14), gritando: “Pare a guerra. Não à guerra.”
Ela também segurava uma placa dizendo: “Não acredite na propaganda. Eles estão mentindo para você aqui.” Estava assinado em inglês: “Russians against the war”.
A âncora de notícias continuou a ler em seu teleprompter falando mais alto na tentativa de abafar Ovsyannikova, mas seu protesto pôde ser visto e ouvido por vários segundos antes que o canal mudasse para um segmento gravado.
Ovsyannikova também divulgou um vídeo pré-gravado por meio do grupo de direitos humanos OVD-Info, no qual expressa sua vergonha por trabalhar para o Channel One e espalhar “propaganda do Kremlin”.
Marina Ovsyannikova, the woman who ran onto a live state TV news broadcast, even recorded a message beforehand. In it, she says her father is Ukrainian. She calls for anti-war protests, says she’s ashamed about working for Kremlin propaganda, and she denounces the war absolutely. pic.twitter.com/nOpUY9bH74
— Kevin Rothrock (@KevinRothrock) March 14, 2022
“Infelizmente, por vários anos, trabalhei no Channel One e na propaganda do Kremlin, estou muito envergonhada disso agora. Vergonha por me permitirem contar mentiras na tela da televisão. Vergonha por ter permitido a zumbificação do povo russo. Ficamos em silêncio em 2014, quando isso estava apenas começando. Não saímos para protestar quando o Kremlin envenenou [o líder da oposição Alexei] Navalny”, disse ela.
“Estamos apenas observando silenciosamente esse regime anti-humano. E agora o mundo inteiro se afastou de nós e as próximas 10 gerações não poderão se limpar da vergonha desta guerra fratricida.”
Usando um colar nas cores azul e amarelo da bandeira ucraniana, Ovsyannikova disse em sua declaração em vídeo que seu pai é ucraniano e sua mãe é russa.
“O que está acontecendo na Ucrânia é um crime e a Rússia é o agressor”, disse ela. “A responsabilidade desta agressão recai sobre os ombros de apenas uma pessoa: Vladimir Putin.”
Ela exortou os russos a se juntarem aos protestos anti-guerra para pôr fim ao conflito. “Só nós temos o poder de parar toda essa loucura. Vá para os protestos. Não tenha medo de nada. Eles não podem prender todos nós.”
O protesto foi recebido pelo presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy. Em um discurso em vídeo na noite de segunda-feira, ele disse: “Sou grato àqueles russos que não param de tentar entregar a verdade, que estão lutando contra a desinformação e contam fatos reais para seus amigos e familiares, e pessoalmente àquela mulher que entrou no estúdio do Channel One com um pôster anti-guerra”.
A OVD-Info disse que Ovsyannikova foi presa logo após seu protesto e estava detida no centro de televisão Ostankino. Pavel Chikov, chefe do grupo de direitos humanos Agora, disse mais tarde que Ovsyannikova foi presa e levada para uma delegacia de polícia de Moscou.
Ela pode enfrentar pena de prisão sob uma legislação russa recém-criada que criminaliza a divulgação das chamadas “notícias falsas” sobre os militares russos. Os culpados sob a lei podem pegar até 15 anos de prisão.
Ovsyannikova também pode enfrentar consequências legais por encorajar “agitação civil” ao dizer aos russos que protestem.
Em um comunicado publicado pela agência de notícias estatal TASS, o Channel One disse que “ocorreu um incidente com uma mulher estranha sendo baleada. Uma verificação interna está sendo realizada”.
Uma fonte de aplicação da lei disse à TASS que Ovsyannikova poderia ser acusada de acordo com a legislação que proíbe atos públicos que visam “desacreditar o uso das forças armadas da Rússia”.
Sua declaração marca a primeira vez que um funcionário da mídia estatal russa denunciou publicamente a guerra, enquanto o país continua sua repressão à dissidência anti-guerra. A onda de censura atual é tão rigorosa que outros programas de notícias borraram a mensagem na placa de Ovsyannikova em seus próprios relatórios sobre o incidente.
Internacional
Brics cobra US$ 1,3 trilhão em financiamento climático até a COP30
O entendimento é de que a mobilização de recursos é responsabilidade de países desenvolvidos para com países em desenvolvimento

Os países do Brics publicaram nesta segunda-feira (7) uma declaração conjunta em que cobram os países mais ricos a ampliarem a participação nas metas de financiamento climático. A iniciativa de captação de recursos, chamada Mapa do Caminho de Baku a Belém US$ 1,3 trilhão, destaca a importância de se chegar a esse valor até a COP30, em novembro.
“Expressamos séria preocupação com as lacunas de ambição e implementação nos esforços de mitigação dos países desenvolvidos no período anterior a 2020. Instamos esses países a suprir com urgência tais lacunas, a revisar e fortalecer as metas para 2030 em suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) e a alcançar emissões líquidas zero de GEE [gases do efeito estufa] significativamente antes de 2050, preferencialmente até 2030, e emissões líquidas negativas imediatamente após”, diz um dos trechos do documento.
A defesa do multilateralismo foi uma das principais bandeiras do grupo, reunido na Cúpula de Líderes, no Rio de Janeiro. Nesse sentido, o Brics reforça o papel da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) e o Acordo de Paris como principal canal de cooperação internacional para enfrentar a mudança do clima.
O entendimento é de que a mobilização de recursos é responsabilidade de países desenvolvidos para com países em desenvolvimento. O grupo reconhece que há interesses comuns globais, mas capacidades e responsabilidades diferenciadas entre os países.
O texto aponta a existência de capital global suficiente para lidar com os desafios climáticos, mas que estão alocados de maneira desigual. Além disso, enfatiza que o financiamento dos países mais ricos deve se basear na transferência direta e não em contrapartidas que piorem a situação econômica dos beneficiados.
“Enfatizamos que o financiamento para adaptação deve ser primariamente concessional, baseado em doações e acessível às comunidades locais, não devendo aumentar substancialmente o endividamento das economias em desenvolvimento”, ressalta o documento.
Os recursos públicos providos por países desenvolvidos teriam como destino as entidades operacionais do Mecanismo Financeiro da UNFCCC, incluindo o Fundo Verde para o Clima (GCF), o Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF), o Fundo de Adaptação, o Fundo de Resposta a Perdas e Danos (FRLD), o Fundo para Países Menos Desenvolvidos e o Fundo Especial para Mudança do Clima.
Além do envolvimento de capital público, são defendidos investimentos privados no financiamento climático, de forma a proporcionar também o uso de financiamento misto.
“Destacamos que o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), proposta para lançamento na COP30, tem potencial de ser um instrumento promissor de finanças mistas, capaz de gerar fluxos de financiamento previsíveis e de longo prazo para a conservação de florestas em pé”, diz a declaração.
Mercado de carbono
Outros destaques da declaração foram a defesa dos dispositivos sobre mercado de carbono, vistos como forma de catalisar o engajamento do setor privado. O Brics se compromete a trocar experiências e atuar em cooperação para promover iniciativas na área.
Em outro trecho do documento, é mencionado o apoio ao planejamento nacional que fundamenta as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), vistas como “principal veículo para comunicar os esforços de nossos países no enfrentamento à mudança do clima”.
Há ainda espaço para condenação e rejeição às medidas protecionistas unilaterais, tidas como punitivas e discriminatórias, que usam como pretexto as preocupações ambientais. São citados como exemplo, mecanismos unilaterais e discriminatórios de ajuste de carbono nas fronteiras (CBAMs), requisitos de diligência prévia com efeitos negativos sobre os esforços globais para deter e reverter o desmatamento, impostos e outras medidas.
Internacional
Líderes chegam para a reunião de Cúpula do Brics
A 17ª reunião de cúpula do grupo acontece neste domingo (6), no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM)

Os chefes de governo e representantes dos países que integram o Brics começaram a chegar, pouco antes das 9h30 deste domingo (6), no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM), para a 17ª reunião de cúpula do grupo. Depois do anfitrião, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o primeiro líder a chegar foi o ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Aragchi.
Até as 10h10, já haviam chegado também o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi; o primeiro-ministro egípcio, Mostafa Madbouly; o príncipe dos Emirados Árabes Unidos, Khalid Bin Mohamed Bin Zayed Al-Nahyan; o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa; e o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov.
O Brics tem, como membros permanentes, Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Irã, Indonésia, Egito, Etiópia e Emirados Árabes. Além disso, há dez nações parceiras: Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda, Uzbequistão e Vietnã.
Neste domingo e na segunda-feira (7), os líderes conversarão e farão discursos em sessões especiais. A primeira sessão, pela manhã, tratará de paz, segurança e reforma da governança global.
Estão previstas uma declaração conjunta dos líderes da cúpula e outras três declarações temáticas: sobre inteligência artificial, financiamento climático e doenças socialmente determinadas.
Internacional
Morre Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai
Ele enfrentava um câncer de esôfago e estava recolhido em seu sítio, nos arredores de Montevidéu

Morreu nesta terça-feira (13), no Uruguai, o ex-guerrilheiro, ex-presidente e ícone da esquerda latino-americana José Alberto “Pepe” Mujica Cordano, aos 89 anos. Mujica enfrentava um câncer de esôfago e estava recolhido em seu sítio, nos arredores de Montevidéu, onde cultivava flores e hortaliças.
Conhecido como “presidente mais pobre do mundo” por seu estilo de vida simples, por dirigir um fusca dos anos 1970, doar parte do salário para projetos sociais e pelas reflexões políticas com forte teor filosófico, Mujica presidiu o Uruguai de 2010 a 2015.
Defensor da integração dos países latino-americanos e caribenhos, Pepe se tornou referência da esquerda do continente durante uma época em que representantes da esquerda e centro-esquerda assumiram diversos governos da região, como Venezuela, Argentina, Equador, Bolívia e Brasil.