Professor Leonardo Campos
Um terror para quem não gosta de ler. Um deleite para quem busca sempre se atualizar com novos conhecimentos. Assim é o mapeamento bibliográfico, uma das mais importantes etapas no desenvolvimento de uma pesquisa científica. Basicamente, este é o momento de levantamento sobre o que se tem publicado sobre o tema, tendo em vista dar um direcionamento ao pesquisar sobre o “estado da arte” do que pretende estudar e, concomitantemente, especializá-lo na temática em questão. Ser meticuloso, ter um protocolo de revisão e exercer a paciência para transformar o macro no micro: eis as habilidades necessárias para a pessoa que deseja ser pesquisadora. Para quem deseja uma abordagem mais teórica, deixo como sugestão se aprofundar num bom livro de Metodologia da Pesquisa. O foco aqui é funcionar de maneira mais prática e conectada com os elementos de um tutorial mais fluido, combinado?
Em linhas gerais, no mapeamento bibliográfico, também conhecido por revisão de literatura, planejamos, conduzimos e reportamos aquilo que foi encontrado para averiguação. Quando realizado a fase de planejamento, a pessoa pesquisadora deve observar a maturidade da área que deseja adentrar, tendo em vista compreender se revisará muitos trabalhos já publicados ou se ajudará a pavimentar um novo caminho teórico desafiador e, assim, permitir que pesquisadores posteriores referenciem as suas investigações. Os estudos na esfera virtual são opções viáveis e possíveis, mas torna-se interessante o autor do empreendimento científico buscar outros canais, como livros impressos, artigos de revistas, dentre outros, indo além de blogs e canais nem sempre com discurso legitimado. Há uma tendência contemporânea, algo que observo com base nas últimas bancas de TCC, de leitura muito superficial, erroneamente chamada de dinâmica pelos pesquisadores, com embasamento cheio de lacunas e, com isso, comprometedores para o desenvolvimento da pesquisa. Mapear é procurar, e depois, ler.
Demonstração de revisão sistemática, uma das modalidades de mapeamento bibliográfico
E, muito importante, não deixar de esquematizar as leituras, para saber como se direcionar na produção textual. Quando o pesquisador já definiu as suas questões de pesquisa, isto é, pontos que deseja responder com a revisão, o trabalho tem mais chances de ser assertivo. Outro detalhe que precisa ser levado em consideração é a produção de palavras-chave, ideais para encontrar os textos mais detalhados sobre o tema que procura, descritores com função norteadora do processo. Alguns estudantes são erroneamente direcionados por seus orientadores a não valorizar revisões de literatura anteriores, uma falha que coloca em xeque a questão da ciência, pois a ideia não é criar um campo investigativo e crítico forte? Por isso, esqueça essas bobagens. Quando desenvolvi minha dissertação de mestrado no Instituto de Letras da UFBA, entre 2012 e 2015, antes de iniciar as leituras dos teóricos mais tradicionais, fiz uma varredura nas plataformas digitais de todos os TCCS, dissertações, artigos e teses sobre meu tema de pesquisa. Após o recolhimento, imprimi, li, sistematizei com fichamentos e o primeiro capítulo da pesquisa surgiu.
É sobre isso: compreendi o estado da arte da crítica de cinema no Brasil, o meu tópico temático, além de entender e aprender os diversos modos de produção acadêmica, tendo a escrita e a pesquisa de outros pares como direcionamento. Uma experiência transformadora e com desdobramentos em minha pratica atual de pesquisa e escrita. Para realiza-la, indico a criação de uma tabela com todos os textos programados e o cronograma de execução, haja vista a articulação da sua pesquisa com outras atividades cotidianas. Na etapa seguinte, de condução do mapeamento bibliográfico, você deve identificar os estudos que subsidiarão sua empreitada. Na busca por estes estudos primários, há a pesquisa manual, realizada em sites de busca ou em bibliotecas presenciais, a pesquisa automática, busca digital com palavras-chave norteadoras, e uma prática chamada de snow-balling, também muito válida, escolha que compreender listar as referências dos textos lidos para ampliar criticamente os eixos de sua investigação. Antes de irmos para o próximo tópico, uma dica: pesquise sempre em mais de uma biblioteca, física ou virtual.
Lembre-se: o referencial é importante para a sustentação da tese que você pretender defender, não apenas uma etapa burocrática para se preencher de qualquer jeito, sem a devida articulação, tampouco a abordagem sem qualquer traço de crítica. Leia, compreenda, analise e reflita sobre o embasamento teórico levantado, sem cair nas armadilhas do copia e cola e transforma em citação direta, algo bastante corriqueiro não apenas no terreno das monografias, mas em muitos artigos acadêmicos e até mesmo trabalhos avançados, como dissertações e teses. Crie uma estrutura de pesquisa, estabeleça os descritores, faça observações críticas ao referencial. E mais: tenha cuidado com o plágio mosaico, aquele que se utiliza de trechos de outras obras e autores, com apenas algumas modificações, sem dar o devido crédito aos autores, uma falha imperdoável para o pesquisador, algo que denota falta de ética e compromete a pesquisa, tornando-a corrupta e inadequada ao emular ideias alheias, palavras furtadas que te pertencem.
No próximo texto, complementaremos a ideia de referencial com detalhes sobre citações. Para complementar, faça uma breve pesquisa sobre os três tipos de revisão de literatura: revisão sistemática, narrativa e integrativa. Qual a modalidade mais dialoga com o seu projeto?