A Finlândia confirmou formalmente que pretende ingressar na Otan, abandonando décadas de não alinhamento militar em uma decisão histórica desencadeada pela invasão da Ucrânia pela Rússia.
“A Finlândia está solicitando a adesão à Otan”, disse o presidente do país, Sauli Niinistö, em entrevista coletiva. “Uma Finlândia protegida está nascendo como parte de uma região nórdica estável, forte e responsável. Ganhamos segurança e também a compartilhamos. É bom ter em mente que a segurança não é um jogo de soma zero.”
A primeira-ministra, Sanna Marin, disse que a proposta agora será enviada ao parlamento para ratificação. “Nossa decisão é histórica”, disse ela. “Como membros da Otan, também seremos responsáveis pela segurança da aliança como um todo.”
Com o partido no poder da vizinha Suécia também realizando uma reunião decisiva sobre a adesão à aliança defensiva de 30 membros na próxima semana, o ataque de Moscou à Ucrânia parece inaugurar a expansão da Otan que Vladimir Putin afirmou querer impedir.
A Finlândia compartilha uma fronteira de 1.300 km com a Rússia e, como a Suécia, mantém políticas rígidas de neutralidade e não alinhamento desde o final da Segunda Guerra Mundial, vendo a adesão à Otan como uma provocação a Moscou.
No entanto, a invasão da Ucrânia por Putin em 24 de fevereiro levou a uma profunda mudança em seu pensamento, com o apoio público à adesão à Otan triplicando para cerca de 75%. As pesquisas mostram que uma maioria entre 50 e 60% também é a favor na Suécia.
Três dias depois que os líderes da Finlândia disseram que “devem solicitar a adesão à Otan sem demora”, a proposta de adesão deve ser apresentada ao parlamento para ratificação na segunda-feira.
Niinistö ligou para seu colega russo, Putin, no sábado e informou que seu país pretendia se juntar à Otan, em uma conversa que ele descreveu como “direta”. Ele acrescentou: “Evitar tensões foi considerado importante”.
A Rússia alertou repetidamente a Finlândia e a Suécia contra a adesão à Otan, dizendo que tal medida a obrigaria a “restaurar o equilíbrio militar” fortalecendo suas defesas na região do Mar Báltico, inclusive com o uso de armas nucleares.
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Putin respondeu ao apelo de Niinistö dizendo que a adesão à Otan “seria um erro, já que não há ameaça à segurança da Finlândia”, de acordo com uma leitura da ligação divulgada pelo Kremlin.
Depois que uma revisão parlamentar sueca de vários partidos na sexta-feira disse que a adesão à Otan aumentaria a segurança nacional da Suécia e ajudaria a estabilizar a região nórdica, os líderes dos social-democratas no poder no país também estavam preparados no domingo para descartar a oposição de longa data do partido à adesão à Otan.
Com uma decisão prevista para o início da noite, a mídia sueca informou que – supondo que Helsinque envie sua inscrição na segunda-feira – Estocolmo provavelmente seguirá o exemplo já na terça-feira, com a aliança pronta para lançar o processo de adesão imediatamente depois.
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse que ambos os países serão “recebidos de braços abertos” e que o processo de adesão será rápido, embora a aprovação formal por todos os membros da aliança possa levar vários meses.
No entanto, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdoğan, expressou sua oposição à medida, com base no que ele disse ser a atitude acomodatícia dos países em relação ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que está na lista de organizações terroristas da UE.
O vice-secretário-geral da Otan, Mircea Geoană, disse no domingo estar confiante de que as preocupações da Turquia sobre a adesão da Finlândia e da Suécia à aliança podem ser abordadas. “Estou confiante que, se esses países decidirem se tornar membros da Otan, seremos capazes de recebê-los para encontrar todas as condições para que o consenso seja alcançado”, disse ele.
O ministro das Relações Exteriores da Finlândia, Pekka Haavisto, também disse estar “confiante” em chegar a um acordo com a Turquia.