Marcus Borgón
Há quem acredite que o grande vilão do serviço público é a estabilidade. Como se a competência brotasse do medo. Como se olho da rua, ao ser apontado, tornasse aquele indivíduo um autômato com altíssimo grau de eficiência e zero de emoção. Muito mais nocivos são os “cargos de confiança” preenchidos através de favorecimentos e compadrios. Além de projetarem, amiúde, pessoas desqualificadas, ainda fomentam o peleguismo e os esquemas de proteção (de alguns) e controle (da maioria).
Eu soube do caso de uma pessoa que alcançara um alto cargo de modo furtivo. Ao tomar posse, alegou experiência e cursos diversos, com ênfase no diploma de MBA. Nas reuniões, gostava de invocar termos técnicos, e abusava de clichês e frases feitas. Mas quando precisava escrever, deixava claro as imensas lacunas de sua formação. Numa época em que se privilegia a aparência, e num lugar onde a adulação supera o capital intelectual, o cargo diretivo estava, infelizmente, nas mãos mais adequadas. Para os demais, pobres mortais, a estabilidade parecia um calvário.
No livro Crossroads, Furio Lonza comenta que em meados dos anos 70, o termo “profissional” passou a ser utilizado por aqueles que faziam alguma atividade remunerada ignorando as implicações morais que poderiam vir a reboque. Assim, o advogado que defendia um estuprador de crianças estava apenas sendo “profissional”. O funcionário que se dedicava a delatar ausências e falhas dos colegas agia de modo “profissional”.
O termo “político” com o tempo também se converteu num eufemismo. Passou a ser utilizado para se referir a aquelas pessoas que agem de forma ambígua, por conveniência, ou que nunca tomam partido. Ou, ainda, aquelas que se deixam levar ao sabor dos ventos. Muito sujeito “político” sob o manto de parcimonioso e equilibrado.
D. Maria, que ganha a vida vendendo cerveja (raramente gelada) e tira-gosto (de origem e sabor duvidosos) há quarenta anos, faz da linguagem vituperiosa o segredo do seu negócio. Ela detesta rodeios e empolamentos desnecessários. Disse que conhece esse povo como puxa-saco, vaselina e baba-ovo.