Equipes de resgate recuperaram mais dois corpos do mar depois que um veleiro de madeira que supostamente transportava refugiados se chocou contra rochas na costa da região da Calábria, na Itália, elevando o número de mortos para 62.
Os corpos de muitas vítimas, incluindo crianças, foram encontrados em uma praia turística em Steccato di Cutro, enquanto outros foram encontrados no mar, após a tragédia na madrugada de domingo.
Um total de 62 pessoas foram encontradas mortas até agora, ante 59 no domingo, disseram autoridades provinciais na manhã de segunda-feira (27). Oitenta pessoas foram resgatadas, das quais 20 foram levadas ao hospital.
“Alguns sobreviventes dizem que havia 120 pessoas a bordo do barco; outros dizem 200”, disse Sergio Tedesco, comandante da polícia local. “Os números são difíceis de estabelecer, só temos que esperar. Talvez quando o mar estiver mais calmo voltem mais corpos, mesmo depois de uma semana.”
Restos do barco, que teria partido em dois, estão espalhados ao longo da costa, assim como os pertences de seus passageiros, incluindo sapatos, mochilas e uma bóia de borracha infantil.
“Estamos todos em choque, não sabemos o que dizer”, disse Antonella, que caminhava pela praia na manhã de segunda-feira com sua amiga Maria. “A praia é como um cemitério. Olhe para o mar – é lindo, mas enganoso.”
Um cidadão turco foi detido por suspeita de tráfico humano, informou a polícia. Acredita-se que a embarcação tenha deixado a Turquia há cinco dias.
Shehbaz Sharif, o primeiro-ministro do Paquistão, disse na segunda-feira que se acredita que mais de duas dúzias de paquistaneses estejam entre os que se afogaram.
Acredita-se que pessoas do Afeganistão e do Irã também estivessem a bordo. O Ministério das Relações Exteriores afegão não respondeu imediatamente aos pedidos de comentários.
A Itália é um dos principais pontos de desembarque de pessoas que tentam entrar na Europa por via marítima. A chamada rota do Mediterrâneo central é conhecida como uma das mais perigosas do mundo.
No domingo, Filippo Grandi, o alto comissário da ONU para refugiados, pediu aos governos europeus que parassem de discutir e “concordassem em medidas justas, eficazes e compartilhadas para evitar mais tragédias”.
Ele twittou: “Outro naufrágio terrível no Mediterrâneo, na costa italiana. Dezenas de pessoas morreram, muitas crianças. Nós os lamentamos e nos solidarizamos com os sobreviventes”.
O presidente italiano, Sergio Mattarella, disse que “a enésima tragédia no Mediterrâneo não deve deixar ninguém indiferente”. Ele instou a UE a “finalmente assumir a responsabilidade concreta de governar o fenômeno da migração, a fim de resgatá-la dos traficantes de pessoas”.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que “temos de redobrar os nossos esforços” sobre o pacto migratório e plano de ação no Mediterrâneo central.
“Os Estados membros devem dar um passo à frente e encontrar uma solução. Agora”, escreveu ela no Twitter. “A UE precisa de regras comuns e atualizadas que nos permitam enfrentar os desafios da migração.”
Mais de 100.000 refugiados chegaram à Itália de barco em 2022. O governo nacionalista da primeira-ministra, Giorgia Meloni, que assumiu o poder em outubro, impôs medidas duras contra instituições de caridade de resgate marítimo, incluindo multas de até € 50.000 (R$ 274.500) se eles desrespeitam a exigência de solicitar um porto e navegar para ele imediatamente após realizar um resgate, em vez de permanecer no mar para resgatar pessoas de outros barcos em dificuldade.
Resgates nos últimos meses resultaram na concessão de portos aos navios no centro e norte da Itália, forçando-os a fazer viagens mais longas e, portanto, reduzindo seu tempo no mar, salvando vidas. Instituições de caridade disseram que a medida levaria a milhares de mortes.
Em comunicado, Meloni expressou sua “profunda tristeza” pelas vidas ceifadas pelos traficantes de seres humanos, ao mesmo tempo em que repetiu o compromisso de seu governo de “impedir as partidas e com elas as tragédias que se desenrolam”.
“É criminoso lançar um barco de apenas 20 metros de comprimento com até 200 pessoas a bordo em condições meteorológicas adversas”, disse ela.
Os corpos das vítimas do naufrágio de domingo, entre eles um recém-nascido, foram levados para um centro esportivo nas proximidades de Crotone. Antonio Ceraso, prefeito de Cutro, disse que os moradores da cidade prestariam homenagem com um minuto de silêncio às 11h CET.