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Síndrome de Ícaro, de José Luiz Rodrigues Neves

custou-lhe a vida. É com base neste mito que José Luiz Rodrigues Neves, Técnico em Segurança do Trabalho da Petrobras, lançou Síndrome de Ícaro

Professor Leonardo Campos

Era uma vez, no reino da mitologia, um jovem chamado Ícaro. Ele recebeu de seu pai um presente especial, isto é, um par de asas para fugir da Ilha de Creta, para alcançar a sua tão almejada liberdade. Extasiado, o jovem ignora os conselhos do pai para não voar tão alto e acaba despencando e morrendo nas águas revoltas do mar. Ao alcançar um limite que ia além da sua travessia segura, Ícaro teve nos raios de sol o obstáculo que derreteu a cera que prendia as suas asas. A sua desobediência custou-lhe a vida. É com base neste mito que José Luiz Rodrigues Neves, Técnico em Segurança do Trabalho da Petrobras, lançou Síndrome de Ícaro: A Educação Infantil e a Segurança no Trânsito Brasileiro, publicação de 2002 que traz dados e algumas concepções legais já reformuladas, mas que em suas alegorias e abordagem pedagógica, mantém um discurso coeso e ainda muito atual, afinal, os incidentes de trânsito ainda são um dos grandes problemas das interações humanas na dinâmica da mobilidade cotidiana.  A ideia do autor é simples: dar aos jovens condutores o devido direcionamento educativo, para que não se tornem vítimas fatais, com destinos semelhantes ao do personagem mitológico.

Experiente no assunto, pois sobreviveu ileso a um sinistro no passado, José Luiz Rodrigues Neves contempla os seus interesses no assunto por meio de 08 capítulos breves, dinâmicos na apresentação de teoria, gráficos, dados estatísticos e algumas sugestões de como proceder de maneira segura no trânsito. Em sua escrita fluente e objetiva, o autor destaca os problemas dos incidentes de trânsito para a economia, delineando questões como indenizações, perdas materiais, além da utilização de verba do sistema de saúde para resolução de situações evitáveis. Logo no prefácio, temos ressaltado que a proposta do livro é refletir sobre a educação pragmática, isto é, um esquema de ensino e aprendizagem que perdura, foca em outros problemas sociais, tais como miséria e meio ambiente, com propostas para melhora do cenário de letalidade no trânsito brasileiro, um dos mais violentos do mundo.

No primeiro capítulo, O Histórico, temos a descrição do sinistro envolvendo o autor, motivação para o estabelecimento de projetos sobre segurança viária, patrocinado pelas parcerias realizadas com órgãos públicos e privados. Um dos pontos de maior destaque desta parte é a análise dos seguros para automóveis no Brasil, considerados caros por causa das altas taxas de sinistros de trânsito. Basicamente, na interpretação que não é nada difícil de acompanhar e concordar, quanto mais indenizações, mais altos ficam os valores dos seguros, uma conta que cresce exponencialmente por falta de mais comportamentos adequados dos nossos condutores. No segundo capítulo, O Contexto, há uma exposição de informações importantes sobre a necessidade de inserção da educação para o trânsito na infância, para que as ações sejam mais eficazes e contemplem os indivíduos ainda em formação cidadã, antecipação para Estatísticas de 1961 a 1997, tema do terceiro capítulo, focado na análise das campanhas de bebidas, sedutoras e perigosas, a vender um imaginário de consumo e direção errôneos.

Ainda neste momento de Síndrome de Ícaro, o autor versa sobre os avanços da medicina e os equipamentos de segurança das fábricas de automóveis, responsáveis por diminuir os impactos na vida dos acidentados, algo que apesar de diminuir algumas altas taxas, não resolve os conflitos desta situação como alguns acreditam. É o capítulo com maior quantidade de gráficos para interpretação do leitor, dados que tais como já mencionado, são datados por causa do tempo de publicação do livro, mas informações para uma análise histórica deste tema. Se você, caro leitor, é professor e se interessou por trabalhar ou conhecer o texto, basta considerar as ponderações expostas e se atualizar com dados mais recentes. Em Os Piores Traumas, quarto capítulo, há uma abordagem das vítimas que não morrem, isto é, aqueles que ficam com as sequelas dos incidentes, impedidos de levar normalmente a vida, algo também problemático, pois mexe com questões psicológicas e econômicas, pois alijados do mercado de trabalho e com disfunção da renda familiar, estes sobreviventes criam lacunas em suas dinâmicas sociais.

Em Equipamentos de Segurança: Opcional ou de Fábrica, José Luiz Rodrigues Neves comenta os paradoxos da obrigatoriedade, pois considera que o Estado estabelece os equipamentos necessários para a mobilidade segura, algo que deveria ser maior preocupação do próprio condutor e de seus passageiros. Ele também crítica o esquema de fabricação de automóveis no Brasil, ao destacar que o que produzido para exportação vai com todas as demandas de segurança exigidas pelos importadores, enquanto o que é comercializado no próprio território sai cheio de restrições para o consumidor final. No ótimo capítulo Pressupostos Teórico, o oitavo da publicação, temos descrito algumas considerações sobre a Homeostase do Trânsito, tese que reflete a base comportamental complexado dos humanos que são pedestres e motoristas, pessoas que assumem riscos mesmo sem a intenção de provocar sinistros. Basicamente, a humanidade se expõe desnecessariamente aos riscos quando bebe e dirige, realiza alguma ultrapassagem perigosa ou avança o sinal vermelho, mesmo sabendo ser contra as regras. O capítulo é encerrado com alguns apontamentos sobre a importância da educação para o trânsito.

O tema continua no breve A Educação Infantil, capítulo de encerramento, antes da conclusão que resume de maneira geral os principais pontos, ofertando ao leitor algumas propostas de intervenção. O autor toca numa questão muitíssimo válida: a necessidade de ensinar a criança pelo ponto de vista do pedestre. Fala-se muito em condutor, motociclista, mas a visão para esta idade é a do comportamento adequado enquanto indivíduo que participa da mobilidade sendo pedestre, agente que também precisa assumir responsabilidades. O encerramento vem com a alegoria do mito de Ícaro, intitulador do trabalho, tema de suas palestras na ocasião de lançamento do livro, ilação entre realidade e mito que pode assumir uma função pedagógica assertiva em sala de aula, dependendo da maneira como a pessoa na posição de professor guiar as leituras e debates sobre este tema importante na formação básica de nossos condutores do futuro, agentes importantes da mudança mais que necessária no cenário do trânsito brasileiro.

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Leonardo Campos é Graduado e Mestre em Letras pela UFBA.
Crítico de Cinema, pesquisador, docente da UNIFTC e do Colégio Augusto Comte.
Autor da Trilogia do Tempo Crítico, livros publicados entre 2015 e 2018,
focados em leitura e análise da mídia: “Madonna Múltipla”,
“Como e Por Que Sou Crítico de Cinema” e “Êxodos – Travessias Críticas”.
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