Jorge Amado, um dos escritores mais lidos do país, já dizia que a Bahia é rica em festas populares. Festas de rua, de igreja e de Candomblé. E que guardam todas elas nossa marca original de miscigenação, de nossa civilização mestiça. De fato, são muitas festas. E quem abre esse calendário de festas populares, que começa em dezembro e se estende até o Carnaval, em fevereiro, é a Festa de Santa Bárbara, uma das mais bonitas de Salvador, por estampar a cor vermelha e branca pelas ruas do Centro Histórico, pelo simbolismo da força feminina, pelo fervor das pessoas e pelo cheiro convidativo do caruru e do dendê.
Todos os anos, centenas de pessoas vestem vermelho e branco no dia 4 de dezembro; as baianas colocam os seus melhores adereços, se perfumam, e todas essas pessoas vão ao Largo do Pelourinho acompanhar a missa campal dedicada à santa.
Devota de Santa Bárbara e pesquisadora da festa, Carla Bahia a descreve com paixão. “A festa de Santa Bárbara, por si só, chama atenção. Ela é quente. Ela não é só vermelha, é vermelha, branca, rosa. Ela tem brilho, tem borboletas nos torsos. Ela tem perfume de acarajé, de dendê. Ela tem brilho nos olhos, tem pedido de: ‘Por favor, minha mãe, não me abandone’. Ela tem afeto, mas também tem humanidade. Tem gingado e um remelexo. Diz-se que a parte mais sagrada da festa é na manhã. Depois da procissão e que a santa se recolhe na igreja, seus filhos vão brincar a festa. Então, você sai do que as pessoas chamam de sagrado para o que seria profano. E tem samba, comida, pedido, e grito de Saravá, e grito de Epà Hey”, conta.
Como já ocorre por oito anos, o ato litúrgico será presidido pelo capelão, cônego Lázaro Muniz. Logo após a celebração, a imagem de Santa Bárbara segue em procissão, juntamente com as imagens de outros santos, a exemplo de São Miguel, São Jerônimo, São Cosme e São Damião, pelas Ruas Gregório de Mattos e João de Deus, passará pelo Terreiro de Jesus, Praça da Sé e descerá a Ladeira da Praça até o quartel do Corpo de Bombeiros Militar da Bahia (CBMBA), onde há um momento de saudação à padroeira da corporação.
No Corpo de Bombeiros, há uma pausa também para comer o caruru, alimento representativo da festa. Este ano, o CBMBA vai distribuir 1.500 quentinhas de caruru durante os festejos, ao meio-dia, no quartel do 1º Batalhão de Bombeiros Militar, na Barroquinha. Após a saudação, a procissão segue pela Avenida José Joaquim Seabra (Baixa dos Sapateiros), tem uma nova parada no Mercado de Santa Bárbara para saudar os filhos de Santa Bárbara e de Iansã que lá estão e depois retorna ao ponto de partida pela Rua Padre Agostinho Gomes.
Ao longo da história, a festa já foi celebrada em outros lugares: primeiro no Morgado de Santa Bárbara, no Comércio, depois na Igreja do Corpo Santo, mas também já foram celebradas missas para a santa na Basílica de Nossa Senhora da Conceição da Praia e na Igreja do Passo, no Santo Antônio Além do Carmo.