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Registros de um cego: a história do paratleta e fotógrafo Dêivide Monteiro

Por Carla Melo

Há oito anos, Dêivide Monteiro dos Santos (37) não imaginava, mas começaria a enxergar a vida com outros olhos. De superação? Sim. Mas também com muita garra e força de vontade. O paratleta, fotógrafo, comunicólogo e outras coisitas mais, foi diagnosticado aos 14 anos com retinose pigmentar que o deixaria cego entre o final de 2012 e início de 2013. Desde então, carrega na mala da vida, uma incrível história que ganha um espaço especial no Bahia Pra Você.

Quando parou de enxergar, Dêivide participava do projeto Diálogo no Escuro, em Salvador. Segundo ele, era o que mais enxergava e menos fazia as coisas (é mole?) decidiu parar tudo e começar uma nova jornada através dos estudos.

Experimentou curso de massoterapia. Percebeu de cara que não era sua praia. Se jogou no curso de auxiliar administrativo, trabalhou por dois anos no Senai Cimatec e ao mesmo tempo no Hospital Português. Trabalhando em dois lugares, ele também dava conta de ser estudante técnico em Rádio e TV. Até que em meados de 2015, abriu mão dos dois empregos para se jogar de vez nos estudos.

Graduando em jornalismo no 8º semestre, Dêivide é audio descritor consultor, fotógrafo e ainda carrega o peso de ser paratleta de Jiu-Jitsu, com diversas premiações. Achou pouco? Nascido em Salvador, Dêivide agora compartilha sua história com a sua mais nova companheira de vida, “o amor da sua vida”, sua filha Helloisa Cristyna, de cinco meses de idade.

Atleta

Em 2016, Dêivide, que já praticava exercícios físicos, foi apresentado ao Jiu-Jitsu. Ele não perdeu tempo e levou o esporte para Associação Baiana de Cegos, que iniciou o projeto em uma academia inicialmente com cinco mulheres e somente ele de homem, mas o projeto durou apenas cinco meses.

Um ano longe do esporte, eis que o reencontro com o tatame finalmente rolou. Deu macht! Dêivide voltou a praticar o esporte. Hoje, o paratleta não arrega para ninguém e possui títulos de vice-campeonatos pela Federação Baiana de Jiu Jitsu e MMA (FBJJMMA), conquistou o terceiro lugar em seu primeiro campeonato na UAE Federação Mundial de Jiu Jitsu, já disputou o campeonato na Federação Nacional de Jiu Jitsu (FBJJ), foi campeão pela Confederação Brasileira de Lutas Profissionais (CBLP) e um dos mais importantes para ele, ganhou a medalha de ouro de Rei do Tatame e simbolicamente a entregou para seu professor.

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Matando leões

Os preconceitos também fizeram parte da jornada de Dêivide, que diz sempre matar um leão diferente ao colocar os pés do lado de fora de casa. O jovem diz que as pessoas sempre enxergam a deficiência antes da pessoa que a possui, e que sentiu, no esporte, dificuldades, preconceitos e dúvidas quanto a sua capacidade. Mas, apesar das adversidades, Dêivide enfrenta “de uma forma extrovertida a sua patologia para quebrar o preconceito das pessoas”.

As dificuldades que pessoas com deficiência enfrentam ainda são inúmeras e a falta de inclusão é gritante. É isso o que ele também luta para ser ainda mais conhecido e combatido, mas ele enxerga que o seu trabalho, ainda assim, “é de formiguinha”, já que PCD’s ainda ocupam posições minoritárias, o que dificulta o combate à falta de inclusão e a quebra do preconceito.

Um mundo colorido em cliques

O mais novo e incrível desafio de Dêivide Monteiro é a fotografia. Ele, que sempre gostou de ver e tirar foto, “gostava de apertar o botão da câmera”, agora vai com tudo no projeto ‘Registros de um Cego’.

Inspirado em João Maia, o primeiro fotógrafo brasileiro cego a fotografar uma paraolimpíada no Rio, em 2016, Dêivide, desde então, alimentou a vontade de ser tornar fotógrafo, ainda mais, após conhecê-lo pessoalmente. Ele entrou para a faculdade de Jornalismo e fez um curso na Faculdade Baiana de Fotografia, para aprimorar ainda mais o seu trabalho, que faz questão de exibir em seu Instagram (@registrode1cego).

A fotografia tornou-se tão grande para Dêivide que fará parte do seu trabalho de conclusão de curso (TCC) de jornalismo através da temática “Memórias afetivas de um deficiente visual para com a sua cidade”, levando a fotografia como ferramenta para registrar sua visão afetiva sobre Salvador.

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Os projetos de Dêivide não param. Ele pensa muito mais longe. Além de se entregar aos seus trabalhos na fotografia, o seu sonho é tornar-se faixa preta no Jiu-Jitsu e montar um projeto social voltado às crianças com deficiência.

 

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