Por: Iza França @sou_izafranca
No remake de Vale Tudo, o mistério sobre quem matou Odete Roitman volta a prender o país diante da tela. Mas a pergunta que ecoa fora da ficção talvez seja outra: quem matou a ética?
A novela é um retrato atemporal de uma sociedade disposta a negociar valores em nome do sucesso e o que mudou desde 1988? Mudamos o cenário, o figurino, as hashtags. Mas a trama permanece, ainda confundimos esperteza com inteligência, influência com credibilidade e imagem com essência.
Nas empresas, o roteiro se repete. Há quem vista o discurso da integridade como um personagem, enquanto, nos bastidores, age conforme a conveniência. Há quem terceirize a moral, quem silencie diante de erros, quem normalize pequenas corrupções e condutas disfarçadas de “jeitinho” brasileiro que vez e outra mostra sua cara.
O assassinato simbólico da ética acontece todos os dias, discretamente, nas escolhas que fazemos e nas omissões que sustentamos. A diferença é que, na vida real, não há vilão isolado. O crime é coletivo.
Quando uma marca mente, alguém escreveu o texto. Quando uma liderança disfarça o abuso de “estilo”, alguém aceitou o enredo. Quando o propósito é só campanha, alguém apertou o play.
O país se pergunta há décadas quem matou Odete Roitman. Talvez seja hora de nos perguntarmos quem matou a ética e se ainda dá tempo de reescrever um novo final.
