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Pix é usado para troca de mimos e até para reatar relacionamentos

Dar um match e flertar com o crush correm risco de virar coisa do passado. “Anota o meu Pix” passou a ser a senha para indicar que há espaço

Dar um match e flertar com o crush correm risco de virar coisa do passado. “Anota o meu Pix” passou a ser a senha para indicar que há espaço para um relacionamento. Em menos de três meses da entrada em vigor do sistema de pagamento instantâneo e transferência sem custos, o brasileiro conseguiu agregar funcionalidades ao Pix que vão muito além do imaginado pelo Banco Central (BC).

Nas redes sociais as brincadeiras envolvendo a modalidade já têm até nome: PixTinder ou PixSexual. A origem vem de outro aplicativo de sucesso, o Tinder, criado especificamente para que pessoas possam se conhecer e se relacionar de maneira íntima. Ele se converteu numa mistura de rede social, por meio da transferência de valores modestos, até na casa dos centavos.

Quem já conquistou espaço em redes sociais, convida seus seguidores a ir muito além dos likes e partir para a demonstração de apreço por meio de transferências. E há até quem troque “mimos”, que vão desde um lanche até nudes no celular, por meio da ferramenta.

A equipe do presidente do BC, Roberto Campos Neto – que já veio a público reconhecer que o Pix não foi criado como rede social –, não poderia imaginar que ele viraria até mesmo ferramenta de solução de conflito.

Chrystian Santanna, de 25 anos, e a namorada, Amanda Costa, de 24 anos, estão juntos há oito anos, mas se desentenderam. Seguindo o roteiro tradicional do ensaio do fim nos tempos atuais, Amanda cortou laços: bloqueou o namorado no WhatsApp, no Instagram e até nas ligações.

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O caminho para reconquistar o afeto contou com a bênção inadvertida do BC, por meio de uma mensagem enviada no espaço de identificação da transação por meio do Pix.

“Apareceu no celular uma notificação do aplicativo do banco e me surpreendi. Quando vi, era um Pix dele no valor de R$2. Achei engraçada a forma como ele tentou entrar em contato comigo. Na hora até passou a raiva. Mas respondi no WhatsApp: “podia ter sido um valor maior, né?” — brincou Amanda.

Para especialistas, o Pix para o relacionamento social reflete uma combinação de fatores. Entre eles, está a possibilidade de flertar ou se expressar sem ser visto ou julgado, o que abre a porta para extravasar opiniões.

“Esse fenômeno já se manifestou anteriormente no Instagram e também no Linkedin, que é uma rede social de negócios e de busca de oportunidades de trabalho. A gente já percebe que é uma característica muito forte no país: os brasileiros utilizam bastante os aplicativos para a busca de relacionamento”, afirmou Fábio Mariano Borges, professor de Sociologia do Consumo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-SP).

O BC já refutou o uso do Pix como rede social e desta vez não parece disposto a entrar no espírito de brincadeira como ocorreu no lançamento da nota de R$ 200. Na ocasião, o vira-lata caramelo, que estrelava os memes sobre a cobiçada nova cédula, foi incorporado à campanha de divulgação da nota.

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Mesmo de forma reservada, técnicos da autoridade monetária evitam comentar os novos usos da plataforma e se resumem a repetir a mensagem de que o sistema deveria ser usado apenas para pagamentos e transferências.

Para especialistas, há risco de vazamento de dados pessoais que compartilham informações sensíveis em redes, ao divulgar uma chave Pix com número de CPF, celular ou e-mail.

“O risco é ter a conta invadida, o que é um problema grave já que a pessoa teria acesso à conta e poderia fazer operações. Alguns bancos estão implementando bloqueios de certos caracteres no envio de mensagens via Pix, que poderiam facilitar o uso de links usados como meio para clonar a chave e dar acesso à conta”, afirmou Henrique Castro, professor de Finanças da FGV-EESP

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