A divulgação de que havia quase sete milhões de testes para diagnóstico do coronavírus, prestes a perder a validade, ampliou o estremecimento das relações entre o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e o presidente Jair Bolsonaro.
Antes da nova crise no governo, Pazuello já estava incomodado por ter sido desautorizado pelo presidente, que chegou a cancelar o acordo para a compra de 46 milhões de doses da vacina chinesa. Segundo o Estadão, em recente conversa com amigos, Pazuello, general da ativa, se queixou da pancadaria e disse que, se sair, sairá feliz. Depois, em tom de piada, comentou que seria bom “voltar ao quartel”.
Com o “fogo amigo” cada vez mais alto dentro e fora do Planalto, o general afirmou, nos bastidores, que via como “natural” uma possível saída do Ministério, mas foi demovido por colegas, todos auxiliares do presidente, de tomar qualquer atitude nesse sentido. A cadeira na Saúde é cobiçada por partidos do Centrão, que apoiam Bolsonaro em troca de cargos e verbas públicas.
Sua volta para o quartel traria uma situação no mínimo curiosa. É que, como general de três estrelas, depois de ter sido ministro, Pazuello poderia enfrentar contratempos para encontrar um posto. Se retornar para o trabalho nas Forças Armadas, a tendência é que ocupe uma função na burocracia do Exército, sem qualquer notoriedade.
Ainda no domingo, quando a notícia dos testes prestes a vencer foi divulgada, Pazuello recebeu uma mensagem do presidente com um pedido de explicação. O Estadão apurou que o ministro justificou que o material havia sido enviado a Estados e municípios. Governadores e prefeitos, portanto, deveriam dar justificativas sobre o motivo de não terem usado os kits.
A informação não estava correta e, ao reproduzi-la nas suas redes sociais, Bolsonaro acabou virando alvo no lugar do ministro. Na verdade, quase sete milhões de testes estão encalhados num galpão do governo federal em Guarulhos, na Grande São Paulo. Do total, 6,8 milhões perdem a validade entre dezembro e janeiro de 2021.