Por Leonardo Campos
Semana do Meio Ambiente. Os temas atualmente são tantos, da pandemia aos problemas que acometem os nossos solos, oceanos e espécies importantes para a manutenção de ecossistemas. Hoje, falaremos sobre um tema que dialoga diretamente conosco, seres humanos, criaturas habitantes deste planeta que a cada dia atravessa um período trevoso no que concerne aos cuidados com a sua estrutura biológica.
Abordagem reflexiva importante para 2021, o uso de agrotóxicos é o tema de nosso debate para coluna Saúde e Bem-estar. Em conversa com a bioorganizer Patrícia Seixas, elucidamos alguns pontos sobre o uso de agrotóxicos no Brasil, num diálogo com o meu texto especial para o Dia do Meio Ambiente, uma análise dos documentários O Veneno Está Na Mesa Parte 1 e Parte 2.
Preparados para a empreitada? No final da entrevista, dispomos de um elucidativo podcast para vocês. Leiam, ouçam e compartilhem, combinado?
Leonardo Campos – Professora Patrícia, ao assistir os documentários O Veneno Está na Mesa Parte I e Parte II, podemos refletir sobre a grave condição do uso de agrotóxicos em nosso país. Qual a sua impressão ao terminar as duas produções?
Patrícia Seixas – Esse é um tema quente, polêmico, inquietante. Assisti os documentários várias vezes…. São produções muito impactantes do cineasta Sílvio Tendler, que mostram os graves impactos sociais e ambientais decorrentes do uso abusivo dos agrotóxicos no nosso país, relatados por agricultores e vários especialistas, onde o cineasta defende um novo modelo de agronegócio se a gente quiser continuar vivendo e salvar o nosso planeta, eliminando o uso de agrotóxicos, eliminando o uso de transgênicos e investindo em uma agricultura orgânica, respeitando e preservando a natureza, os trabalhadores rurais e os consumidores.
LC – A sazonalidade é um dos pontos de maior destaque nos documentários e nos textos que circulam sobre o assunto. Parece que usamos a natureza, mas não deixamos que haja o tempo para que ela se restitua para usarmos novamente. Pode comentar?
PS – Os alimentos sazonais ou também conhecidos como alimentos da época ou da estação, são aqueles que são colhidos na sua época, no tempo natural de amadurecimento daquele alimento, sem intervenção tecnológica, preservando a qualidade nutricional daquele alimento. A questão é que não deixamos a natureza trabalhar no seu tempo. Para produzir vegetais fora da época e em grande escala, a agricultura utiliza agrotóxicos, pesticidas e outros compostos químicos que aceleram o amadurecimento forçado desses vegetais, muito prejudiciais ao meio ambiente e à saúde humana.
Professora Patrícia Seixas, pesquisadora constante de temas atuais em biologia e organização pessoal.
LC – Como se encontra a situação dos agrotóxicos em nosso país hoje. Os documentários ainda são atuais não é mesmo?
PS – São atuais. Desde 2008, o Brasil é o país que mais utiliza e consome agrotóxicos no mundo. Em 2019, o Brasil teve um número recorde de liberação de agrotóxicos, muitos dos quais não têm registros ou foram banidos em outros países da União Europeia e nos Estados Unidos porque muitos alimentos têm número alto de resíduos de pesticidas, o que os torna impróprios para o consumo e que são consumidos aqui, mas em outros países não são e não podem ser consumidos. Sabe, parece que existe uma contradição em relação aos agrotóxicos no nosso país: aqui, há um incentivo, um estímulo fiscal para quem utiliza agrotóxicos, gerando uma contradição entre a saúde da população e a economia do país, com privilégio de quem? Da economia do país, claro.
Infográfico do Instituto Humanitas Unisinos
LC – Um dos pontos de destaque em O Veneno está na mesa 2 é o sumiço de documentos, a perseguição aos militantes e coisas do tipo. Parece que a corrupção é um problema tão grave quanto os agrotóxicos.
PS – São muitas as denúncias e pesquisas relatando que vários alimentos que consumimos têm excesso de agrotóxicos e problemas de higiene e que estão nas prateleiras sendo vendidos para consumo. Existe uma lei federal de agrotóxicos e que não é cumprida. A fiscalização comprova os absurdos, mas a impunidade continua e nós continuamos consumindo alimentos contaminados. Ai, você me pergunta. Mas, por que isto acontece? Porque as fraudes geram grandes lucros e a impunidade é praticamente certa. Somos lesados, roubados e feitos de bobos por aqueles inescrupulosos que têm poder, que enriquecem descumprindo as leis e as áreas do governo responsáveis pela fiscalização são complacentes, porque aqui no nosso país, reina a impunidade e parece que o crime compensa.
LC – Para nós, consumidores finais de muitos produtos prejudicados por agrotóxicos, como podemos diminuir os impactos em nossa higienização de alimentos?
PS – Infelizmente não é possível fazer muita coisa. O agrotóxico sistêmico, aquele que foi colocado no solo, não tem como tirar. Já o jateado, aquele colocado na superfície do vegetal, podemos reduzir uma boa quantidade lavando com uma bucha em água corrente e depois mergulhar o alimento em uma vasilha com 1 litro de água para 2 colheres de sopa de bicarbonato de sódio por 15 mim, enxaguar em água corrente e depois colocar no hipoclorito para eliminar os microrganismos, como já falamos em uma matéria anterior. Observem que são procedimentos diferentes para funções diferentes. Bicarbonato para reduzir quantidade de agrotóxicos e o hipoclorito para eliminar microrganismos.
LC – Professora Patrícia, pode comentar as propostas sobre agroflorestas? Qual a sua opinião?
PS – A agrofloresta ou sistema agroflorestal é uma prática muito antiga, porém seu conceito surgiu na década de 70. São combinações do plantio de espécies arbóreas com culturas agrícolas e/ou criação de animais, em um determinado espaço, onde todos os componentes do sistema interagem ecológica e/ou economicamente. É considerada uma das melhores alternativas para garantir a diversidade na agricultura. Ela considera a terra um ser vivo onde todas as vidas dependem dessa vida, dessa TERRA. É um sistema de agricultura em florestas onde se aprende tudo com e na natureza. Sua maior característica é produzir muitos alimentos ao mesmo tempo e em constância, trazendo inúmeras vantagens para o solo, ar e água, as quais refletem na qualidade de vida dos agricultores e até dos consumidores dos alimentos provenientes de agroflorestas. É uma proposta, sem dúvida alguma, extraordinária que cuida da natureza em sua totalidade.
LC – De volta ao processo de higienização de alimentos: quais são os alimentos que consumimos que mais são prejudicados pelos agrotóxicos?
PS – Sim… Quando se fala em agrotóxicos, a primeira coisa que vem à mente são os vegetais, certo? Porém, eles estão em outros alimentos como na soja, no trigo, no arroz, pães, leite e carnes. Provavelmente, são as carnes de animais e derivados e não os vegetais os que são mais prejudicados pelos agrotóxicos. Mas, como no Brasil, as análises sobre o teor de resíduos de agrotóxicos em alimentos são realizadas somente em vegetais, isso nos causa a falsa impressão de que os alimentos de origem animal estão livres de agrotóxicos. Mas, falando dos vegetais, os que mais são prejudicados pelos agrotóxicos são os consumidos in natura, como pepino, pimentão, morango, abacaxi, tomate, uva, alface, cenoura, laranja, mamão e maçã.
Infográfico do Instituto Humanitas Unisinos
A forma de produção deles onde são colhidos com um pequeno ou nenhum intervalo de segurança entre a aplicação do agrotóxico e a colheita, gera produtos com inconformidades acima do limite permitido pela regulamentação ou por uso de agrotóxicos proibidos. Posso dar algumas dicas? Se possível, procure consumir alimentos orgânicos, com o selo de certificação. As feiras livres também oferecem alimentos de hortas e sítios de produtores locais com menos agrotóxicos. Compre alimentos frescos e da época, porque eles são mais baratos, mais saborosos e com menos agrotóxicos.
Na próxima semana, dialogaremos sobre o lado biológico do amor, haja vista o Dia dos Namorados aqui no Brasil. Aguardamos vocês na próxima semana, combinado?