Bahia Pra Você

Os reality shows e os meus problemas

Marcus Borgón – Escritor

Outro dia um amigo me dizia que o antigo seriado “Caso Verdade” foi o pai dos reality shows. A vida de gente comum (não-celebridade) transportada para a telinha.

Na verdade, sempre era ressaltada alguma questão incomum: o drama de um jovem que ficou paralítico após uma anestesia mal aplicada; a felicidade de um rapaz que voltou a enxergar; a tragicômica história de um vendedor que pensou ter ganhado na loteria.

Alguns dos episódios beiravam os limites da realidade, ganhando ares de fabulação. Meu pai era um dos que desconfiavam da presença de novelistas emprenhando o roteiro com passagens imaginárias.

Lembro do caso de um menino vidente, que, dentre várias predições, revelou o dia da própria morte. Para confirmar seu vaticínio, fez um passarinho que voava longe pousar em seu dedo.

Teve também o episódio de uma mulher que sofria de alcoolismo, e ao se desequilibrar na sacada, ficou presa apenas pela bainha da calça. Durante o tempo em que ficou dependurada, passou a limpo toda a sua vida, fazendo reflexões profundas e determinando um novo futuro para si, caso não se esborrachasse no chão.

Há quem diga que, atualmente, ornamentar um cotidiano frívolo com invencionices e arremedos de ficção não dá mais ibope na televisão. Isso é encontrado fartamente nas redes sociais. A despeito disso, o BBB continua com audiência nas alturas. Assim ouvi dizer.

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Marcus Borgón colaborou com a revista de cultura
e literatura Verbo21. Publicou textos em jornais,
sites especializados em literatura, e coletâneas de contos.
É autor da novela ‘O Pênalti Perdido’ (P55 edições, 2016).
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