Marcus Borgón
O estudante desce as quebradas do Centro Histórico. Leva a reboque, a nova namoradinha. Está em busca do mocó da velhinha. Quer fazer uma trilha pelos meandros paradisíacos do inconsciente.
– Dona Edite, salve-me do tédio dessa city!
Ele quer impressionar a menina, mostrar que tem moral na maloca. Dona Edite abre aquele sorriso. Nem de longe parece uma pessoa com tantas tribulações no curriculum vitae. Um filho assassinado. Outro na detenção. Duas filhas sumidas no mundo. Para ela ficou a companhia de sete netinhos. Sete boquinhas pra alimentar. E uma boca pra dar conta. Algum malandro sagaz colocou a velha como testa-de-ferro. Sabe que a meganha não vai colocá-la no saco. Muito menos dar choque, pau-de-arara. Nada disso. Ela aprendeu desde pequena que trairagem é coisa do cão, de Judas Iscariotes. E este é malhado no sábado de Aleluia. No máximo, ela leva um sabão da delegada e logo está de volta. Tem que dar o mingau dos pequenos. E atender a freguesia.
– Essa tá mofada, vou lá dentro buscar da mais nova.
A namorada, com um medo mal disfarçado, dá um sorrisinho amarelo e olha para o relógio. E logo retorna Dona Edite, a portadora da alegria. Ela sabe como valorizar sua mercadoria e fidelizar a clientela. Quer dizer…
– Você é namorada dele? É um menino bom, estudante de advocacia. Dê uns conselhos pra ele, pra ver se coloca a cabecinha no lugar. Essas “coisa errada” não dão camisa pra ninguém. Tenho mais de setenta, eu bem sei.