Bahia Pra Você

O fim da palavra 

Por: Iza França @sou_izafranca

Vivemos um tempo em que tudo se diz, mas pouco se cumpre. As palavras perderam o peso que um dia tiveram. São lançadas com a mesma leveza com que se posta uma foto: com filtro, emoção momentânea e nenhuma consequência. O discurso virou performance, e a verdade, produto de ocasião. 

De promessas políticas a notas corporativas, de juras de amor a compromissos sociais, a palavra anda barata. E quando o verbo se desvaloriza, a confiança entra em crise. Já não basta falar bonito — é preciso sustentar o que se diz quando o palco se apaga. 

No ambiente corporativo, multiplicam-se os manifestos, os “propósitos”, os “valores inegociáveis”. Mas o eco se perde quando a prática desmente o discurso. E assim, a palavra morre mais uma vez — agora não pela mentira, mas pela incoerência. 

No campo pessoal, a lógica se repete. Prometemos presença e entregamos distração. Dizemos “estou aqui” enquanto olhamos o celular. Juramos amor, mas fugimos do compromisso. Falamos de empatia, mas reagimos com indiferença. O vocabulário da emoção virou moeda inflacionada. 

O fim da palavra não é o silêncio — é o ruído. É a saturação de vozes que não dizem nada. E talvez a maior revolução do nosso tempo seja devolver às palavras o que lhes pertence: verdade, intenção e consequência. 

Porque quando a palavra perde o valor, tudo o que resta é o barulho. E barulho não constrói nada. 

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Iza França é jornalista, relações públicas e gestora de comunicação com mais de 20 anos de experiência em comunicação corporativa, atuou em grandes empresas e liderou agências que atendem marcas de diferentes setores. Hoje, compartilha reflexões sobre reputação, liderança feminina, carreira e gestão e o propósito e o papel humano da comunicação no mundo digital. @sou_izafranca
 
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