Alex Curvello é advogado e presidente da Comissão de Direito Previdenciário da Subseção do Litoral Leste do Ceará @alexcurvello
As pessoas costumam tendenciar e vivenciar aquilo que conseguem fazer de melhor, muitas vezes os caminhos não nos fazem percorrer a estrada que leva para o que gostamos e sabemos, mas tem sempre aquela pessoa que vai brilhar no que sabe e faz.
No último dia 3 de setembro de 2023 paramos eu e minha esposa para assistir à estreia de um jovem chamado Matuê em um festival chamado The Town, muito por conta de que ele é sobrinho do Chef Bruthus um cara que sigo pelo Instagram aqui do Ceará e que faz uma rede social da forma que acho massa.
Assim, após o tio do Matuê dar um spoiler de como seria o show do sobrinho, em homenagem a avó que o influenciou na música e ao Nordeste que é a origem dele, chamou minha atenção e assistimos ao espetáculo.
O dom de cada um é inquestionável, tem aquele que arrasta multidões, aquele que escreve algo que você queria dizer, mas não sabe como, aquele que tem a voz inigualável, aquele que interpreta como ninguém, aquele que sabe cozinhar, aquele que cria artes com as mãos, aquele que sabe ensinar, aquele que salva vidas, aquele que transforma vidas, enfim, o dom de cada ser humano existe, aquela missão Divina, apenas temos que tentar encontrar e trilhar o caminho.
Pois bem, voltando ao show que estávamos assistindo, achei de uma criatividade e uma sensibilidade fora da curva dos dias atuais, lembrar da avó, mostrar a avó para seu público gigantesco naquele festival, “dar” voz a avó que já falecida se fez presente, mostrar o que o Nordeste representa para o mundo, foi algo que poucos artistas fazem ultimamente.
A ideia, foi absorvida e curtida por toda a plateia e imagino por quem estava assistindo, durante o show ele também homenageou Belchior, um dos maiores artistas do Nordeste, pena que o som parecia falhar para quem assistia pela televisão, ficou baixo e distorcido.
Fora a parte do estilo musical, que não é o que consumo como música, além da sensível homenagem a avó e ao Nordeste, ficou a angústia da fala distorcida de Belchior e o corte do espetáculo ou da Globo canal oficial que reproduzia o show, que simplesmente cortou o show dele para mostrar Luiza Sonza que pelo que entendi estava começando em outra parte do festival.
Ficamos eu e minha esposa sem saber o que havia acontecido, assistimos ainda um pouco do show seguinte, mas foi muito ruim esse corte do show no final para todas as partes envolvidas, deu a entender que os representantes do festival e quem reproduzia estava mais preocupado em mostrar uma sulista do que finalizar o belíssimo espetáculo do nordestino.
Foi xenofobia? Não sei. Mas beirou ao ridículo, até porque os apresentadores da TV ao que parece só se justificaram após a repercussão negativa nas redes sociais.
Ficou inquestionável a popularidade do nordestino Matuê, natural de Fortaleza no Ceará, mesmo sendo o primeiro show do dia contou com a presença de milhares de pessoas, demonstrando maturidade, serenidade, gratidão, delicadeza e sabedoria para enfrentar um sistema que ao que demonstra, permanece preconceituoso.
Mostrando que a fala da sua avó permanece viva, que os artistas do nordeste só são prestigiados quando vão para o sul e que a castanha só foi valorizada quando foi enlatada, que consigamos superar esse egoísmo de quem ainda manda nas influências artísticas do país.
Vale o registro, para parabenizar o Matuê, por sua apresentação, sua família e sua avó que mostrou que ele conseguiria, até porque um cara que tem “brasileiro” no nome, já nasceu para honrar o país que vive.