CARLA MELO • Entrevista exclusiva
Na certidão de nascimento tem Ivan Mesquita, só que para os mais chegados, ele é ‘O Cêro’, nome que já está gravado na ‘mente’ dos baianos. Ivan ganhou ainda mais o chamego dos internautas, ou melhor, dos seus ‘cêronautas’, quando lançou um vídeo, que bombou nas redes sociais.
As histórias contadas, em seus vídeos, com as gírias e a ginga baiana fez nascer ‘O Cêro’. “A gente costuma chamar de ‘cêro’ os parceiros, que é uma gíria aqui de Salvador. E, em um dos vídeos, eu falo no final “segue o cêro”. Só que aí o povo entendeu que ‘cêro’ seria o meu nome, e aí começou a me chamar de assim e eu aproveitei essa deixa e me intitulei de ‘cêro’, mas sempre deixei claro que era uma gíria de Salvador”, explicou Ivan.
Mas, vamos fazer o seguinte, melhor do que eu falar sobre ele, que tal ‘O Cêro’ contar a sua própria história?
Carla Melo – Me conta, quem está por trás do Cêro?
Ivan Mesquita – O Cêro é o jovem popular, que fala muita gíria, que anda no meio do surf, do skate, da periferia, entende? Acho que este é o Cêro.
CM – Você como bom nordestino, traz uma representatividade muito forte em sua fala. Existe uma história dessa identidade com os bairros e as cidades por onde você já passou?
IM – Com certeza. Esse Nordeste em mim, é muito presente. Ele é o meu avô que trabalhou como fotógrafo por muito tempo para sustentar a família, é a minha mãe, é meu pai. São trabalhadores, como o povo nordestino é. Essa cultura de cordel, eu gosto muito de Bráulio Bressa, Patativa. Então eu fui me apossando das características do Nordeste. Eu dou muito valor à poesia, cordel, o forró, gosto muito de dançar forró. Então, é isso, o Nordeste foi se construindo em mim ao longo da minha vida e hoje eu consigo expressar esse Nordeste.
CM – E qual a história por trás dos seus vídeos, que em pouco tempo ganharam tanta popularidade?
IM – Esse vídeo de Maria Quitéria viralizou, mas, na verdade, o que viralizou foi um formato de vídeo, não foi um vídeo específico, e isso me ajudou bastante porque eu consigo explorar outras histórias, outros temas, sempre usando esse formato de imagem passando atrás, muita piada vem das imagens ali atrás. São imagens que o povo está acostumado a ver na internet, de figuras como Dom Pedro e tal, e aí eu mudo o nome, coloco um apelido e boto a imagem para se movimentar. Então eu desconstruo aquela imagem parada, estática que o povo geralmente tem quando pesquisa. Geralmente quando eu coloco que “Ah, Dom Pedro está agoniado”, eu o coloco para se mexer. Então isso dá uma dinâmica nos vídeos.
IM – Vieram alguns temas de alguns vídeos que viralizaram, como a Independência do Brasil, do Instituto Butantan, que às vezes eu pego alguma crítica atual e lanço para ficar subentendido no vídeo, né? Faço uma crítica política e tals. Então, foi viralizando. Veio o convite de Ivete Sangalo, ela assiste aos meus vídeos e me convidou para apresentar, junto com ela, o Prêmio Multishow e isso também me deu um boom muito grande.
CM – Qual foi a sua reação quando percebeu que seu conteúdo tinha viralizado?
IM – Eu estava muito confiante, que, em alguma hora ia rolar. Eu estava estudando muito outros blogueiros daqui de Salvador, vendo os conteúdos, e eu percebi assim, que o meu conteúdo estava legal. Aí no vídeo de Maria Quitéria, rolou e foi surpresa para mim porque eu não imaginava que ia rolar com este vídeo. E aí, foi um vídeo que eu fiz muito nas pressas e postei e no dia já estava achando estranho. Estava tendo muito compartilhamento e quando chegou no dia seguinte, eu já comecei a receber muita mensagem no celular, falando que o vídeo já estava circulando. E aí é aquela surpresa gostosa que todo criador de conteúdo gosta, né?
CM – Foi aí que você percebeu que havia encontrado o caminho?
IM – Foi muito legal isso, saber que o vídeo viralizou. E como eu te falei, mais legal ainda porque não foi um vídeo isolado, foi um formato. Assim que eu fiz, eu falei: poxa, vou fazer mais uns dois vídeos de história e continuo lançando meus conteúdos e foi o que eu fiz. Fui lançando outros conteúdos de história também, fidelizando o povo e foram começando a gostar, não só dos vídeos, mas gostar de mim mesmo, dos meus stories, da convivência comigo, então eu ganhei um carinho muito grande do público. E foi isso, estou muito feliz com o resultado disso tudo.
CM – Você sempre traz gírias baianas, o baianês que fala sobre “cêro”, “véi”, “barriado”, “boto fé”. Existe algum personagem que você tem referências para seus vídeos?
IM Existe sim. Tem alguns amigos que me inspiro e que conversam com o baianês bem puxado. Um deles o apelido é ‘Homem de Pedra’, o outro é ‘Rudhero’. Enfim, tem alguns amigos meus que conversam assim, e eu também converso assim. Como eu surfo, eu ando muito com a galera que surfa, eu falo muita gíria. É uma mistura, não sei identificar, dizer que veio dali, de tal pessoa. Mas tem pessoas que quando eu escuto, eu tenho referência. Tem o Jhordan Matheus, que é comediante que está em alta, que é uma das minhas inspirações também na forma de falar.
CM – E a mistura entre esses dois elementos importantes, como a história e o humor, você teve alguma inspiração?
IM – Eu sempre gostei muito de histórias e gosto muito de humor, então casei as duas coisas, foi ideia minha. Na verdade, eu recebi um texto, que ele falava de algo, mas eu particularmente não me identifiquei com o texto, aí eu fiz uma releitura botando um personagem. Mas, dos vídeos, unindo os dois, foi ideia minha.
CM – Como você pensa e planeja a produção dos conteúdos dos seus vídeos?
IM – O planejamento vai muito das datas comemorativas, às vezes vai de alguma ideia que surgiu. Eu faço tudo, faço a gravação, a edição, o levantamento histórico. Então é muito complexo um vídeo desses, por isso a minha demora em lançar conteúdo. Tento lançar pelo menos um por semana. Vou sondando o que está no auge, por exemplo, se tem algum assunto, tipo o do Butantan. Eu gravei o vídeo, mas logo em seguida aconteceu aquela polêmica do leite condensado, aí eu regravei, incluindo o leite condensado, fiz uma mistura louca no vídeo (risos), o que deu muito certo. O vídeo viralizou, que eu ganhei, acho que mais de, sei lá, 30, 40 mil seguidores com esse vídeo. O Mídia Ninja repostou, então me deu uma visibilidade bacana. Eu vou sondando muito o que está em alta, vou sempre estudando muito.
CM – Tem ideia da quantidade de pessoas que você consegue atingir com suas produções?
IM – Em média, hoje, acho que são 500 mil visualizações por vídeo. E eu tive um vídeo agora do cuscuz que bateu mais de 1 milhão. Mas, em média, dá isso aí, 400, 500 mil visualizações.
CM – E como o seu público, além de se divertir reage? Como é a interação com os ‘Ceronautas’?
IM – Recebo muito feedback, muita mensagem de inspiração de pessoas que estão tentando fazer alguma coisa parecida comigo e eu incentivo. Eu não sou muito de pegar no pé de plágio, entendeu? O importante é que o conhecimento se espalhe. E recebo críticas também, porque como a história diverge, tem várias linhas, então, as vezes alguma pessoa acha que eu tomei a linha errada, e me crítica, mas faz parte do processo. Sempre tento filtrar bastante e seguir melhorando nos vídeos.
IM – Eu acredito que não. Pelo contrário, desde o começo o povo me apoiou muito. Minha família, meus amigos me apoiaram muito. E assim, durou pouco tempo para o vídeo viralizar, relativamente pouco tempo. Uns dois, três meses, mais ou menos, mas sempre a galera apoiou.
CM – Você me falou sobre alguns projetos sociais que faz parte. O Cuscuz e Poesia em Libras é um deles. É um projeto seu?
IM – Eu tenho uma campanha social com o Hemoba, onde eu faço a divulgação dos projetos, eu já fiz parceria com Leo Santana. Eu sou bem engajado nesta parte social. Estive com a pessoal do Doe Aí Fera, uma instituição que começou agora e está fazendo ações de arrecadação de alimento. Tenho também um projeto importantíssimo que é o ‘Cuscuz e Poesia em Libras’, que é o meu conteúdo traduzido em sinais para surdos. Esse conteúdo vai para o meu canal do Youtube, que antes se chamava Cuscuz e Poesia, depois troquei para Ivan Mesquita. Tenho mais duas pessoas, Gabriela e Roberta, que são intérpretes de libras, que estão comigo neste projeto.
CM – E venha cá, o ‘Cêro’ tem outros projetos em mente? Ou melhor, ainda tem muita história pra contar?
IM – Tenho outros projetos, como contar história de bairros de Salvador, tenho projeto de viagem surfando e cozinhando pelo Nordeste, e o ‘Cêro’ também tem várias histórias para contar. Espero, ainda, contar muitas histórias. (risos)