A humanidade está em uma “estrada para o inferno climático”, alertou o secretário-geral da ONU, dizendo que a luta por um planeta habitável será vencida ou perdida nesta década.
António Guterres disse aos líderes mundiais na abertura da cúpula climática da ONU Cop27 no Egito na segunda-feira (7): “Estamos na luta de nossas vidas e estamos perdendo… E nosso planeta está se aproximando rapidamente de pontos de inflexão que tornarão o caos climático irreversível.
“Estamos em uma estrada para o inferno climático com o pé no acelerador.”
Ele disse que o mundo enfrentará uma escolha difícil na próxima quinzena de negociações: ou países desenvolvidos e em desenvolvimento trabalhando juntos para fazer um “pacto histórico” que reduziria as emissões de gases de efeito estufa e colocaria o mundo em um caminho de baixo carbono – ou fracasso, que traria colapso climático e catástrofe.
“Podemos assinar um pacto de solidariedade climática ou um pacto de suicídio coletivo”, acrescentou.
Ele disse que o mundo tem as ferramentas necessárias para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, em energia limpa e tecnologia de baixo carbono.
“Uma janela de oportunidade permanece aberta, mas apenas um estreito raio de luz permanece”, disse ele. “A luta climática global será vencida ou perdida nesta década crucial – sob nossa vigilância. Uma coisa é certa: quem desiste com certeza vai perder.”
Abdel Fatah al-Sisi, presidente do Egito, disse em seu discurso de abertura da cúpula que pessoas pobres e vulneráveis em todo o mundo já estavam experimentando os efeitos do clima extremo: “A intensidade e a frequência dos desastres climáticos nunca foram tão altas, em todos os quatro cantos do mundo, trazendo onda após onda de sofrimento para bilhões de pessoas. Não é hora hoje de pôr fim a este sofrimento?”
Mais de 100 chefes de Estado e de governo de todo o mundo se reuniram no resort egípcio de Sharm El-Sheikh na segunda-feira para dois dias de reuniões a portas fechadas e eventos públicos para discutir a crise climática.
Rishi Sunak, o primeiro-ministro britânico, participará por um dia, junto com Olaf Scholz da Alemanha, Emanuel Macron da França e Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia. Joe Biden, o presidente dos EUA, virá no final da semana, após as eleições de meio de mandato dos EUA.
Mia Mottley, a primeira-ministra de Barbados, apresentará uma nova iniciativa sobre financiamento climático para o mundo em desenvolvimento, e líderes africanos, incluindo William Ruto, do Quênia, Macky Sall, do Senegal, e George Weah, presidente da Libéria, estão nas negociações. O príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, também está no encontro.
A partir de quarta-feira (9), os líderes mundiais entregarão a autoridades e ministros o restante da quinzena de negociações. No entanto, a cúpula promete ser tensa e difícil, com poucas chances de um avanço.
Os países estão se reunindo à sombra da guerra na Ucrânia, uma crise mundial de energia e custo de vida e crescentes tensões globais. Países ricos e pobres estão em desacordo, pois as grandes economias não conseguiram reduzir as emissões de gases de efeito estufa com rapidez suficiente, e os países mais pobres que sofrem o impacto da crise climática estão recebendo pouco da assistência financeira de que precisam e que foi prometida.
A conferência Cop27 teve um início lento, com os negociadores gastando mais de 40 horas no fim de semana discutindo sobre o que estaria na agenda. Ao final, ficou acertado que seria discutida a polêmica questão de perdas e danos – que se refere aos piores impactos da crise climática, que são muito graves para os países se adaptarem.
Os países pobres que sofrem perdas e danos querem um mecanismo financeiro que lhes dê acesso a financiamento quando ocorrerem desastres como furacões, inundações e secas, destruindo sua infraestrutura e dilacerando seu tecido social.
Não é provável que essas conversações forneçam um acordo final sobre perdas e danos, mas os países esperam progressos nas formas de angariar e desembolsar financiamento.
Na maioria das cúpulas climáticas da ONU, ativistas e manifestantes desempenham um papel fundamental. No entanto, o Egito reprime a dissidência e suas prisões estão cheias de presos políticos. O governo de Sisi prometeu que as vozes dos ativistas climáticos serão ouvidas, mas suas atividades foram reduzidas, com os manifestantes mantidos em um local separado e obrigados a se registrar com antecedência para obter permissão até mesmo para pequenas manifestações.