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Missa em memória de Mãe Bernadete marca um ano de morte

Uma missa na sede da Associação Muzanzu, no Quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho, marcou, neste sábado (17), um ano da morte de Mãe Bernadete Pacífico, matriarca do quilombo, que foi assassinada no dia 17 de agosto de 2023, dentro de casa, onde estava acompanhada de seus três netos. Mãe Bernadete comandava a Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq) e uma liderança do seu território, reconhecida nacional e internacionalmente. A secretária das Mulheres do Estado, Neusa Cadore, e a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, participaram da celebração conduzida pelo padre Lázaro Muniz.  

A data marcou a inauguração do “Museu Rústico Mãe Bernardete”, construído dentro do quilombo, que abriga os pertences de Mãe Bernardete e  do seu filho Binho do Quilombo, que também foi assassinado. O museu é considerado pela família como uma memória viva e um lugar sagrado. Também aconteceu o anúncio do Prêmio Mãe Bernadete Pacífico, que, em sua primeira edição, reconhecerá personalidades negras, cujo trabalho ou ações são voltados para valorizar e estimular a cultura e a ancestralidade no Brasil. 

A secretária Neusa Cadore ressaltou o mais profundo respeito aos familiares de mãe Bernadete e o compromisso da Secretaria das Mulheres com a garantia dos direitos das comunidades tradicionais. Ela fez referência ao Agosto Lilás, mês dedicado à conscientização e prevenção à violência contra a mulher, além de citar o nome de lideranças femininas representativas que, assim como mãe Bernardete, também lutaram contra injustiças e tiveram seu sangue derramado. “A gente veio trazer a nossa solidariedade e dizer que essa luta nos honra. No mês de julho, lembramos de Tereza de Benguela e de mulheres como mãe Bernardete que representam a resistência tão fundamental para a nossa história. E hoje, neste dia, nos encontramos nesse território de resistência que é o Quilombo Pitanga dos Palmares, terra onde tombou a mãe Bernadete, uma líder não só da Bahia, mas uma líder nacional da luta quilombola e dos direitos das mulheres, para homenagear essa grande liderança. Reafirmamos o nosso respeito e compromisso com as mulheres quilombolas e com as comunidades tradicionais que resistem a tudo com muita força e não se calam”, concluiu. 

A ministra Cida Gonçalves se solidarizou com a família, destacou a importância da mobilização nacional do Governo Federal na campanha “Feminicídio Zero – Nenhuma violência contra a mulher deve ser tolerada” lançada, neste mês, e categorizou a morte de mãe Bernadete como um feminicídio político. “Estar presente aqui tem um motivo. A morte de mãe Bernadete foi um feminicídio político. Não foi só pela luta, mas sim porque Bernardete era uma mulher forte, era uma mulher que resistia, uma educadora da sua comunidade, uma educadora dos seus povos, era uma mulher que fazia a diferença no quilombo e no Brasil. Ela fez a diferença também como uma mulher que lutou pela vida, pela dignidade das mulheres brasileiras e das mulheres quilombolas. Portanto, a morte dela não pode ser tratada apenas como uma questão regional”, avaliou a ministra que também colocou o ministério à disposição na luta pela titulação das terras do quilombo. 

O filho de mãe Bernardete, Jurandir Pacífico, que segue sob a proteção do Estado, também falou sobre o legado da mãe. “Eu não vou desistir, porque minha mãe não desistiu. É um dia muito forte para nós, de grande dor. Mas a única certeza é que, mesmo sendo ameaçado de ser o próximo a morrer, eu vou continuar lutando de forma permanente para que a morte de minha mãe e do meu irmão Binho não sejam em vão”, afirmou. 

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A comunidade começou a ser povoada no século XIX e atualmente é reconhecida como remanescente de quilombo pela Fundação Cultural Palmares e pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Atualmente, o quilombo é habitado por 566 famílias, dentre as quais a de dona Crispiniana Conceição. Emocionada, ela relembrou a liderança de mãe Bernardete, lamentou a morte inesperada e disse que jamais sairá do solo sagrado. “Apesar de mãe Bernardete não estar mais neste quilombo conosco, o seu legado permanece vivo. Sou nascida e criada aqui no quilombo e minha filha foi batizada por mãe Bernardete. Ela continua sendo a nossa principal referência de grande defensora das nossas crianças e mulheres. Vamos continuar dizendo quem somos e como estamos resistindo à sua ausência neste solo sagrado”, disse. 

O evento foi finalizado com o toque de Ijexá para celebrar a bandeira da paz, do amor, do acolhimento e da força ancestral. Após as celebrações programadas para a manhã deste sábado, as autoridades visitaram as ruas do quilombo e o espaço de cuidado e acolhimento para as mulheres vítimas de violência “Mamita Valdina Zimewanga”. A secretária Neusa Cadore e a ministra das mulheres Cida Gonçalves seguiram para uma agenda programada pelo Ministério das Mulheres com o Movimento das Mulheres na sede da Sociedade Protetora dos Desvalidos, no Centro Histórico de Salvador. 

Festival faz homenagem a Mãe Bernardete 

Com o tema “Mãe Bernadete, o legado continua”, está sendo realizado o 7º Festival de Cultura e Arte Quilombola, de 16 a 18 de agosto, no Quilombo Pitanga dos Palmares, reunindo manifestações culturais de oito comunidades quilombolas da Bahia. As atividades são gratuitas e incluem apresentações culturais; uma feira da agricultura familiar, com 25 mestres e mestras artesãs das comunidades quilombolas; uma visita guiada pelo local; a Caminhada da Diversidade Cultural; e uma grande celebração pelo pedido de paz, de tolerância religiosa e respeito às diversidades culturais.  

O encontro reúne 50 mulheres de quilombos de todo o Brasil, que participaram também de uma oficina com o tema Resistência Quilombola. 

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