O Ministério da Saúde admitiu ter divulgado um número superestimado de vacinas contratadas contra a Covid-19. Segundo propagandas oficiais e declarações do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, a pasta diz já ter comprado mais de 560 milhões de doses. Entretanto, ao responder um questionamento do Congresso, o ministério informou que a quantidade contratada é a metade disso: 280 milhões de doses.
No dia 31, Queiroga repetiu que “o governo federal já tem contratados mais de 560 milhões de doses de vacina”, após reunião do comitê de combate à Covid. “(Mas) é claro que não dispomos dessas doses no departamento de logística do Ministério da Saúde, até porque há uma carência de vacinas a nível internacional.”
Questionada oficialmente pelo Congresso, porém, a Saúde reconheceu que a informação não procede. Na resposta, a área técnica do ministério informou que já havia 281.023.470 doses contratadas e disse que 281.889.400 estão “em fase de negociação”.
A maioria das doses em negociação é de doses da Universidade de Oxford com a farmacêutica AstraZeneca e fabricação pela Fiocruz. Segundo a pasta, são esperados 210 milhões de unidades até o fim do ano, mas até hoje não há contrato assinado que garanta toda essa produção. Apesar de não constarem na lista oficial de vacinas adquiridas, 22,5 milhões de doses dessa vacina já foram entregues para uso, segundo a Fiocruz. O ministério não informou se já houve pagamento por esses lotes.
Na lista de doses que o governo faz propaganda como já compradas, mas ainda dependem da assinatura de contrato, estão também 30 milhões de doses da Coronavac produzidas pelo Instituto Butantan e mais 41,4 milhões que serão fornecidas pelo consórcio internacional Covax Facility, liderado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
As informações chegaram ao Congresso nesta segunda-feira (3) em resposta a requerimento de informações do deputado Gustavo Fruet (PDT-PR). Na resposta, a pasta listou as vacinas já adquiridas em seis processos de compra. Os principais são CoronaVac (100 milhões de doses em dois contratos); Pfizer (pouco mais de 100 milhões); Janssen (38 milhões); Covaxin (20 milhões); AstraZeneca (12 milhões) e Sputnik V (10 milhões).Duas não têm aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa): a russa Sputnik V, e a indiana Covaxin.
Segunda dose em falta
Em parte das capitais, a oferta do reforço está totalmente suspensa. Em outras, foi preciso restabelecer a ordem de prioridades da imunização, escalonando os grupos por idade ou ordem alfabética. Pelo menos 175 mil pessoas foram afetadas pela demora nos repasses. Há problemas em Salvador, Belo Horizonte, Porto Velho, Maceió, Recife, Porto Alegre, Aracaju e Rio. Em outro levantamento do Estadão com as 27 secretarias da Saúde, ao menos nove Estados admitem ter municípios nessa mesma situação.