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Margareth Dalcolmo é a Personalidade 2020 do Prêmio Faz Diferença

A médica pneumologista e pesquisadora da Fiocruz Margareth Maria Pretti Dalcolmo, de 66 anos, foi escolhida como Personalidade 2020 pelo Prêmio Faz Diferença. A colunista do Globo e coordenadora de estudos importantes na área, desenvolveu um entendimento sobre a Covid-19 e se tornou uma voz de esclarecimento para a população, através da mídia.

“Para nós, naquele momento, a Covid-19 parecia ser mais uma virose respiratória que iria aparecer e desaparecer, como foram outras coronaviroses anteriores, a SARS-1 e a MERS”, conta. “O que deixou claro para nós que não iria ser assim foi a entrada da doença na Europa, no fim de janeiro, quando começaram a aparecer os casos na Itália, morrendo muita gente.”

Dalcolmo já tinha participado de comitês de preparação para outras epidemias e era cientista de renome em tuberculose. Por isso, foi chamada para compor o grupo de especialistas que daria suporte ao ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta. Trabalhou ali com Júlio Croda, então diretor do Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis, seu colega e amigo de longa data.

“Os primeiros pacientes que eu tratei tinham ido a desfiles de escola de samba, e logo ficou claro que a gente estava lidando com uma doença de grande capacidade de transmissão”, conta. “Rapidamente, aprendemos que a Covid-19 era uma doença sistêmica, e vimos que alguns dos pacientes morreram no inicio da epidemia não só por pneumonia, mas por doença trombótica.

Quando percebeu que o coronavírus era capaz de provocar dano neural e, sobretudo, nos vasos sanguíneos, Dalcolmo e outros colegas influenciaram a comunidade médica brasileira a mudar o protocolo de tratamento da doença. A nova abordagem era mais atenta para danos em outros sistemas vitais dos pacientes, e introduziu o uso de corticoides para conter problemas vasculares.

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Com a demissão do ministro Mandetta, o grupo de cientistas se viu impedido de aconselhar a nova gestão da pasta. Dalcolmo buscou contribuir para políticas públicas na resposta à pandemia então no Estado do Rio. Na ausência de uma campanha federal para educação pública sobre Covid-19, a médica colaborou com jornalistas para fazer o público entender a importância de medidas como o distanciamento social, o uso de máscaras e a busca pela vacina.

Apesar da rotina de pesquisa e clínica, Dalcolmo só deixou de colaborar em alguns dias de maio, devido a contaminação com a Covid-19. Após testar negativo, voltou às entrevistas e à rotina clínica de atender de oito a dez pacientes por dia.

Como tinha sido contaminada antes, não pôde participar como voluntária dos testes da vacina no segundo semestre de 2020, e só veio a receber o imunizante em janeiro deste ano. A Fiocruz lhe concedeu a honra de ser a primeira profissional de saúde a receber a vacina de Oxford.

Hoje, junto com Croda, que deixou o ministério, a pesquisadora conduz os últimos estágios da pesquisa que avalia a influência da vacina BCG na imunidade de Covid-19. O infectologista também é seu parceiro no estudo clínico de fase 3 do antiviral molnupiravir.

“Durante toda a pandemia, Margareth foi incansável” conta Croda. “O trabalho dela de traduzir o que a ciência recomenda para o combate à pandemia foi importantíssimo num momento difícil que vivemos, com um vácuo deixado pelo Ministério da Saúde, que não se comunica adequadamente com a população.”

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“Margareth é a embaixadora da ciência no Brasil”diz o infectologista Marcus Lacerda, da Fiocruz Amazonas. “Ela suaviza temas polêmicos e é dura na hora de enfrentar a desinformação, sempre com diplomacia e solidez. Consegue falar sobre a incerteza com certeza. Foi um bálsamo durante um período tão sofrido.”

Jurados

Alan Gripp (diretor de Redação do GLOBO); Ancelmo Gois, Lauro Jardim, Merval Pereira, Míriam Leitão (colunistas); e Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira (presidente da Firjan).

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