Gravações inéditas divulgadas pela colunista do UOL Juliana Dal Piva mostram que além de Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) estar no centro do escândalo das “rachadinhas”, Jair Bolsonaro adotava a mesma prática entre seus assessores, quando era deputado federal nos vários mandatos exercidos.
Além disso, a reportagem mostra que o presidente vinha sendo tratado como o “01” em troca de mensagens entre a esposa de Fabrício Queiroz, Márcia Aguiar, e sua filha, Nathalia Queiroz.
O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPF-RJ) acusa Fabrício Queiroz de ser operador do esquema enquanto Flávio era deputado estadual na Assembleia Legislativa. Queiroz foi colocado pelo presidente no gabinete do filho e seria o responsável por organizar o recebimento do dinheiro desviado de servidores reais e fantasmas e ajudar em sua lavagem.
Uma gravação obtida pela colunista Juliana Dal Piva mostra Andrea Siqueira Valle, ex-cunhada de Jair, afirmando textualmente que o então deputado federal demitiu o seu irmão porque ele deveria devolver R$ 6 mil por mês e entregava algo entre R$ 2 mil e R$ 3 mil de volta de seu salário como assessor. Segundo o áudio, ela disse que Bolsonaro falou: “Chega. Pode tirar ele porque ele nunca me devolve o dinheiro certo”.
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A reportagem também mostra o envolvimento de militares que começou muito antes de Jair se tornar presidente da República. O coronel da reserva do Exército, Guilherme dos Santos Hudson, que foi colega de Jair na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), é apontado como responsável por recolher salários da ex-cunhada quando ela era contratada como assessora do gabinete de Flávio.
Outras informações de reportagens anteriores apontam uma série de transações financeiras suspeitas de assessores do clã Bolsonaro, que sacavam mais de 70% de seus salários. A família pagava salários a 18 parentes de Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher de Jair, através de seus gabinetes contratados para atuar como servidores de Jair, Flávio e Carlos Bolsonaro. Parte deles está sendo investigada e teve sigilo quebrado pelo Ministério Público.
Ana Cristina também chefiou o gabinete do ex-enteado Carlos Bolsonaro, entre 2001 e 2008, e, por conta disso, está sendo investigada no inquérito que apura suspeitas de “rachadinha” que recaem sobre o vereador.
Depois que deixou o gabinete de Jair, Andrea foi para o de Carlos, na Câmara dos Vereadores do Rio, onde ficou no cargo por dois anos, chefiada pela irmã. E, a partir de 2008, se mudou para o gabinete de Flávio, na Alerj, permanecendo por dez anos como funcionária fantasma. É investigada pelo MP por rachadinha nesses dois últimos.
Pagamentos a cabos eleitorais de Flávio Bolsonaro também constam na quebra de sigilo bancário de Queiroz determinada pela Justiça do Rio. Foram 15 transferências da conta de Queiroz para elas, num total de R$ 12 mil, em setembro e outubro de 2018. Isso sem contar os saques em dinheiro vivo, que impossibilitam o rastreamento de seu uso.
A conta é a mesma em que, segundo o núcleo de jornalismo investigativo do UOL, ele recebia a devolução compulsória de parte dos salários dos funcionários públicos do gabinete de Flávio na Assembleia. Ou seja, além da origem problemática do dinheiro, como esses pagamentos não foram declarados à Justiça Eleitoral, também haveria caixa 2.