A moça que cuidava de Camila me pedia indicação de filmes adultos. Colocava no carnê da patroa, junto com os infantis da menina. Eu não perguntava se havia gostado. Era normal procurar saber a opinião dos clientes. Exceto com a seção de eróticos. Um dia, junto com a fita veio um bilhete: “adorei o filme, gostaria de assistir um em sua companhia”.
Tinha um cara que sempre entrava na locadora entoando um pagode romântico, de letra esquisita que rimava fio dental com morena sensual. A babá de Camila achou que era uma indireta pra ela. Que eu talvez tivesse falado alguma coisa. Dias depois a vi passar com a sacolinha da concorrente.
O dono apareceu um dia com um sofá ensebado. Foi a deixa para que uma turma de desocupados se instalasse. Não tive mais sossego. O sofá reunia a escória do lugar. Ali se fez todo tipo de negociata espúria. De drogas a lenocínio.
Arrependido, ele jogou o sofá fora e despejou criolina no carpete. Acabou por afastar todo mundo, inclusive a clientela. Um senhor muito discreto era um dos poucos clientes que ainda apareciam. Com a locadora então vazia, ele teve coragem de perguntar pelos filmes pornôs.
Eu apontei a localização. Ele deu uma olhada e voltou. Me fez uma pergunta ambígua. Dei uma resposta que servia para qualquer uma das opções.
– sexo gay nem pensar, né?
– não.