O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta segunda-feira, após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberar o uso emergencial de duas vacinas contra a Covid-19, que a vacina é “do Brasil, não é de nenhum governador”.
A fala foi um recado velado ao governador de São Paulo, João Doria, que iniciou a vacinação ainda no domingo, sem esperar a distribuição do Ministério da Saúde — ato classificado pelo ministro Eduardo Pazuello como ilegal. O próprio presidente, no entanto, já vinculou diversas vezes a CoronaVac ao governador, chamando o imunizante inclusive de “vacina chinesa do João Doria”.
O presidente Bolsonaro, que colocou a eficácia dos imunizantes em dúvida diversas vezes, também afirmou que após a aprovação da Anvisa “não tem o que discutir mais”.
“Apesar da vacina… Apesar, não. A Anvisa aprovou, não tem o que discutir mais. Agora, havendo disponibilidade no mercado, a gente vai comprar e vai atrás de contratos que fizemos também, que era para ter chegado aqui. Então, está liberada a aplicação no Brasil. E a vacina é do Brasil, não é de nenhum governador, não”, disse Bolsonaro a apoiadores, no Palácio da Alvorada.
Frases do presidente Bolsonaro contra a CoronaVac
1 – ‘Não é daquele outro país’
Inicialmente, Bolsonaro começou a ironizar a CoronaVac de forma velada, exaltando o acordo feito pelo governo com a Universidade de Oxford. Em julho, durante uma transmissão ao vivo, ressaltou que o imunizante comprado não era “daquele outro país”:
“Se fala muito da vacina da Covid-19. Nós entramos naquele consórcio lá de Oxford. Pelo que tudo indica, vai dar certo e 100 milhões de unidades chegarão para nós. Não é daquele outro país não, tá ok, pessoal? É de Oxford aí”, disse o presidente.
2 – ‘Diferente daquela outra’
Em agosto, durante uma cerimônia no Palácio do Planalto, voltou a exaltar o acordo da Fiocruz e minimizar o do Butantan, dizendo que o primeiro envolvia a transferência de tecnologia:
“E o que é mais importante nessa vacina, diferente daquela outra que um governador resolveu acertar com outro país, vem a tecnologia pra nós”.
3 – ‘Não será comprada’
O tom subiu em outubro, quando o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, anunciou um acordo para a compra de 46 milhões de doses da CoronaVac. No dia seguinte, em um comentário no Facebook, Bolsonaro chamou o imunizante de “vacina chinesa de João Dória” e afirmou que não seria comprado.
4 – ‘Mandei cancelar’
No mesmo dia, durante evento em São Paulo, reforçou que havia mandado cancelar o acordo.
“Já mandei cancelar, o presidente sou eu, não abro mão da minha autoridade”, disse Bolsonaro.
Para prestigiar o ministro Pazuello, que havia sido desautorizado publicamente, o presidente visitou o ministro, que na época estava infectado com a Covid-19. Pazuello minimizou o desentendimento e disse que “um manda, o outro obedece”.
5 – ‘Descrédito muito grande’
A justificativa de Bolsonaro para se opor ao acordo era de que o governo não poderia comprar uma vacina antes do registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) porque a população brasileira não seria “cobaia de ninguém”. Entretanto, um dia depois de determinar o cancelamento, o presidente chegou a afirmar, em uma entrevista, que não compraria nenhuma vacina com origem na China, porque o país teria um “descrédito muito grande”.
“A da China nós não compraremos, é decisão minha. Eu não acredito que ela transmita segurança suficiente para a população”, disse. “A China, lamentavelmente, já existe um descrédito muito grande por parte da população, até porque, como muitos dizem, esse vírus teria nascido por lá”.
6 – ‘Procura outro para pagar’
No fim do mês, dirigiu-se a Doria durante uma transmissão e disse a ele para procurar “outro para pagar a tua vacina”:
“Ninguém vai tomar a sua vacina na marra não, tá ok? Procura outro. E eu, que sou governo, o dinheiro não é meu, é do povo, não vai comprar a vacina também não, tá ok? Procura outro para pagar a tua vacina aí”.
7 – ‘Mais uma que Jair Bolsonaro ganha’
Em novembro, a disputa política continuou e Bolsonaro chegou a comemorar quando os testes da CoronaVac no Brasil foram suspensos, após a morte de um dos voluntários. Mesmo sem detalhes sobre a circunstância da morte – a Anvisa posteriormente concluiu que não havia relação com os testes –, Bolsonaro afirmou que a vacina poderia causar “morte, invalidez, anomalia” e disse que era uma vitória sua.
“Morte, invalidez, anomalia. Esta é a vacina que o Dória queria obrigar a todos os paulistanos tomá-la. O Presidente disse que a vacina jamais poderia ser obrigatória. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha”, escreveu.
8 – ‘Eficácia lá embaixo’
Com a conclusão dos testes, em dezembro, o alvo do presidente passou a ser a eficácia da vacina. Antes do Instituto Butantan divulgar os dados, Bolsonaro afirmou, em uma transmissão, que “a eficácia daquela vacina em São Paulo parece que está lá embaixo”.
9 – ‘Essa de 50% uma boa?’
Em janeiro, mesmo após o Ministério da Saúde ter assinado um contrato de compra da CoronaVac, Bolsonaro seguiu o ironizando o imunizante. Depois do Instituto Butantan divulgar que a taxa de eficácia era de 50,38%, o presidente disse a um apoiador:
“Essa de 50% é uma boa?”
10 – ‘Baixa taxa de sucesso’
Na sexta-feira, minutos antes do Ministério da Saúde requisitar ao governo de São Paulo todas as doses da CoronaVac, o presidente afirmou em uma entrevista que João Doria estava “desmoralizado pela baixa taxa de sucesso na sua vacina”.