Alex Curvello é advogado e presidente da Comissão de Direito Previdenciário da Subseção do Litoral Leste do Ceará @alexcurvello
A população em sua grande maioria não sabe, não deseja saber ou quando sabem, muitos não aplicam de maneira justa o bem-estar social para a população.
Nunca tive muito entusiasmo para saber de determinadas coisas, em especial daquilo que considerava não fazer parte da minha vida, um egoísmo que tento superar.
Lembro que certa vez, trabalhando em um hotel, ao sair do trabalho para ir pra casa, pela primeira vez na vida vi alguém rasgar um lixo e colocar na boca o que encontrara, aquilo me impactou bastante, mas como disse no início do texto e até por um certo egoísmo, como não fazia parte da minha vida, fui relativizando.
Nosso sistema é muito cruel, vai muito além da política, vem do próprio ser humano, quando percebemos que programas televisivos enaltecem o horror, quando temos bilhões de pessoas ao redor do mundo inebriados com uma abertura de olimpíada e poucos realmente vivenciando a dor diária dos mais necessitados, isso denota nossa falha como seres humanos.
Ainda mais quando aceitamos absurdos diários que até pouco tempo não existiam, grades nas residências, câmeras que filmam a tudo e a todos, porta giratória em bancos dizendo “você é um assaltante até que prove o contrário”, desrespeito de filho em relação aos pais e muitas outras situações extremamente absurdas que nós em sua maioria “normalizamos”.
Atualmente venho desempenhando um serviço na secretaria de ação social no município de Aracati no Ceará, que não posso falar de assuntos específicos do cargo, até pela preservação aos “assistidos” da instituição, mas posso relatar o quanto minha vida vem mudando diariamente.
Passei a perceber que existe um mundo completamente invisível da maioria, aliás, da grande maioria das pessoas, fui impactado com uma situação além do que imaginava e que em muitas vezes, apenas uma palavra do pouco conhecimento que temos, pode salvar uma vida.
Quando andamos na rua e um ser humano pede “dez centavos” e proporcionamos esse valor, acreditamos que aquilo irá ajudar, isso dificilmente ajudará alguém, entretanto, saber como aquela pessoa chegou aquela situação, explicar algum direito que ela possa ter e como ela poderá conseguir, equivale a um prêmio, o brilho no olhar de quem recebe uma informação que não sabia que podia é valioso, para quem proporciona e para quem recebe.
Todas as nossas instituições, Ministério Público, Defensoria Pública, Judiciário, OAB, Políticas em geral mereciam vivenciar ajudar alguém de maneira desinteressada, do fundo do coração, amparar o ser humano de maneira justa.
O Próprio Jesus ensinou; “Quando deres esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua mão direita”. “Ficai atentos para não praticar a vossa justiça na frente dos homens, só para serdes vistos por eles.”
Quem sabe um dia teremos uma humanidade menos interessada em TVs e/ou mídias e mais preocupada com os menos favorecidos socialmente.
Deixando bem claro, o texto não se refere a nenhuma ideologia política, mas sim ao comportamento humano, que supera qualquer ideia, vem da essência, de procurar o justo, como foi dito por Eduardo Juan Couture; “Teu dever é lutar pelo Direito, mas se um dia encontrares o Direito em conflito com a Justiça, lute pela Justiça”.
Por diversos momentos sinto aquela coisa quebrando no meu peito por vivenciar a desigualdade e desinformação das pessoas no nosso país, é um estardalhaço que só eu consigo ouvir, mas ao mesmo tempo vem a luz do que deve ser feito.