Bahia Pra Você

De comediante a radialista, conheça Rodrigo Villa

Por Carla Melo ♦ Jornalista

Provavelmente você já deve ter se deparado com a excêntrica Bisteca no feed do seu Instagram. Quem sabe até visto Sandra Xamã, Dirce ou a Pandora. Mas atrás dessas diferentes personagens, cada uma com sua personalidade e vivacidade, está Rodrigo Villa, “ou somente Rô para os íntimos”, um dos humoristas mais queridos de Salvador e que faz qualquer um se acabar na gargalhada. É claro de que o seu espacinho estava garantido no quadro ‘Gente da Gente’, aqui do Bahia Pra Você. Confira abaixo esse bate-papo incrível.

Carla Melo: Ator, humorista, criador de conteúdo, radialista e sempre levando alegria com muito conteúdo para todos os baianos. Afinal, quem é que está por trás de um dos humoristas mais excêntricos de Salvador?
Rodrigo Villa: Sempre fui uma criança extrovertida, do tipo que adora “se amostrar”. Era só ter um aniversário de família que lá estava eu tentando roubar a atenção de todos, seja contando piadas ou imitando tios e tias. Chegando à fase adulta, a vontade de me tornar ator cresceu tanto que não consegui mais adiar esse processo e olha que eu tentei.

Trabalhei muitos anos com vendas, atendimento ao público, me formei no curso técnico de segurança do trabalho e tentei, sem sucesso, me formar duas vezes em administração. Eu acreditava que eu deveria ter uma profissão que me assegurasse uma garantia financeira e só depois tentaria o teatro como válvula de escape. Me enganei feio.

Em 2013 fui tragado de uma vez pelo mundo das artes cênicas. Me formei no vigésimo terceiro curso livre da escola de teatro da UFBA, depois fui convidado pelo diretor Márcio Meirelles para fazer parte da nova turma do curso livre de teatro do Vila Velha e a partir daí fiz diversos trabalhos no teatro, cinema e internet e hoje faço parte da Cia Baiana de Patifaria do canal de Youtube “Na Rédea Curta”.

“Posso afirmar que ser ator não é uma coisa fácil, mas me completa como ser humano hoje”

C.M: Como surgiu essa intuição para a comédia?
R.V: Quando a gente não se encaixa num perfil pré-moldado por uma sociedade extremamente preconceituosa, é necessário criar subterfúgios para se proteger. O humor nasce em mim como uma arma de proteção. Eu precisava ser aceito no grupo, eu precisava disfarçar a minha “viadagem”, eu precisava ser “descolado”. Eu não era o mais bonito, nem o mais inteligente da escola, mas sem dúvida eu era o mais engraçado de todos.

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“E quem não quer estar do lado de alguém engraçado?”

Hoje, tendo noção exata de quem eu sou e do que quero para a minha vida, o humor ganha uma nova roupagem e passo a utiliza-lo como ferramenta de mudanças em mim e nos que me circundam. Amo a sensação de arrancar gargalhadas das pessoas, de fazer com que elas se sintam bem pelo menos por alguns momentos.

C.M: E você, se lembra do seu primeiro trabalho como humorista?

R.V: Meu primeiro trabalho como humorista foi em 2013. Eu e o ator Sulivan Bispo fomos convidados para fazer uma ação para uma operadora de celular na frente de uma plateia enorme, lá interpretamos duas senhoras loucas que estavam revoltadas com o sinal ruim das outras operadoras e acabavam arrumando confusão com a plateia toda. Morro de rir só de lembrar.

Atores Sullivan Bispo (à esquerda) e Rodrigo Villa (à direita)

C.M: Você sabe quantos personagens já passaram em sua vida?
R.V: Ao longo dos meus 8 anos de carreira já dei vida a mais de 15 personagens diferentes, com certeza.

C.M: Me conta a história de criação de um que tenha sido marcante em sua vida?
R.V: A Sandra Xamã tem uma história incrível por traz da sua criação porque ela nasceu em um momento muito bacana da minha vida e com a ajuda também de pessoas queridas como meu primo Sérgio Villa e um grande amigo Alexandre Reis. Eu queria tirar sarro dessa galera que se auto declaram sensitivos e mediúnicos e acabam falando tantas baboseiras em nome dos signos e colocam a culpa nos astros por suas desventuras em vida, mas respeitando os profissionais que se dedicam ao estudo dos astros e de todas as suas vertentes.

Sandra Xamã, personagem de Rodrigo Villa

C.M: E quais foram os lugares mais incríveis que o teatro já te levou?
R.V: Sempre quis conhecer mais o meu estado. Quando comecei a fazer parte do time da Cia Baiana de Patifaria experimentei a sensação de fazer uma turnê por diversas cidades no interior, e todas elas foram maravilhosas. Confesso que a minha cidade preferida é Vitória da Conquista. Amei a cidade, o público, o clima e engordei 11 quilos lá, uma vez que a comida é maravilhosa.

Foto: Arquivo pessoal

C.M: Além de ator, você também é radialista, não é isso Rodrigo?
R.V: Sim, me descobri radialista a pouco tempo, graças ao convite do querido Rafael Lomes da Rádio Digital (antiga rádio Globo). Ele queria um ator capaz de se comunicar de forma objetiva e leve, para ser comentarista de um novo programa chamado “No Ar”.

C.M: E como é levar informação para as pessoas, em tempos de fake news e inutilidade da informação?
R.V: Eu tenho muito cuidado com o que sai da minha boca. Costumo pesquisar informações em diversas fontes diferentes até ter uma certeza de que a informação procede. Em tempos de fake news a gente engole um boi, mas se engasga com uma mosca. O resultado da disseminação de uma informação equivocada pode ser catastrófico, vide o nosso atual despresidente.

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C.M: Umas das coisas mais incríveis para mim, é me surpreender positivamente com alguém que admiramos muito. Você tem alguém como referência em sua vida?
R.V: Na minha vida, a minha maior referência é a minha mãe, que sem querer, é uma das pessoas mais engraçadas que conheço. A gente vive entre ‘tapas e beijos’, mas ela é o amor da minha vida e minha maior apoiadora.

C.M: E para a criação dos seus personagens, Rodrigo, alguém em especial?
R.V: No teatro a minha referência é o meu atual chefe e colega de cena Lelo Filho. Está para nascer uma pessoa que trabalhe tanto em prol da cultura do seu país e dos profissionais da arte. Além de ser um excelente ator, produtor, diretor, Lelo é um ser humano ímpar que se preocupa com o bem estar de toda a sua equipe dentro e fora do teatro.

C.M: Bisteca é sucesso! Qual é a história desta personagem?
R.V: Bisteca foi um presente dado a mim pelas mãos do meu irmão de alma Thiago Almasy (Junior do “Na Rédea Curta”).

Todo mundo conhece uma Bisteca. Aquele ser divertido e escrachado que conhece todo mundo do bairro e sempre tira boas gargalhadas de todo mundo. Bisteca carrega em si o peso de ser uma pessoa não binária, suburbana e que sobrevive do seu bar e de faxina. Lembrou de alguém? Pois é, eu disse que todo mundo conhece uma Bisteca.

De fato, Bisteca apronta todas, mas respeito é bom e ela gosta. Não pise no calo dela.

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Bisteca, personagem sucesso de Rodrigo Villa. Foto: Arquivo Pessoal

C.M: Ouvi certa vez, e talvez quem está nos lendo exatamente agora já deve ter escutado a seguinte frase: Não basta não sermos racistas, sejamos antirracistas, e essa frase nunca sai de moda, porque ela fala de uma problemática que persiste e cada vez mais torna-se compatível. Para Rodrigo Villa, qual é o papel do artista quanto ao racismo? Basta ser somente artista nesse cenário?
R.V: A vantagem de ser artista de certa forma é a possibilidade da sua voz ser ouvida por mais pessoas. Não só no que diz respeito ao racismo como também tantas outras questões sociais, o artista tem a obrigação de intervir e fazer o povo pensar.

“Sou antirracista nos palcos e na vida, não dá mais para aceitar nenhum tipo de preconceito calado, é preciso agir e não somente reagir. Mudanças extremas exigem atitudes extremas às vezes.”

C.M: No mês passado tivemos o mês do Orgulho LGBTQIA+, mas sabemos o quão é necessário levantar essa bandeira todos os dias, porque diariamente somos impactados com notícias deploráveis de LGBTfobia, violência contra a comunidade e muito mais. Como artista, comunicólogo, como você tenta levar a importância disso?
R.V: Por onde passo eu deixo muito claro a minha sexualidade e a minha opinião contrária a tudo que nos coloca como seres menores ou de menor valor. Sou militante da causa da minha comunidade, de modo que todos os meus trabalhos estão regados desse discurso.

C.M: Já enfrentou algo desagradável em sua vida profissional?
R.V: Enquanto homossexual, convivo com o preconceito diariamente, mas agora já consigo de certa forma me blindar de situações desagradáveis que envolvam homofobia. Em geral sou muito político com quem pensa diferente, mas se me causar danos físicos ou a alguém que eu amo, parto para a porrada literalmente.

C.M: Quanto tempo durou até que seus personagens viralizassem na internet?
R.V: Minha carreira como humorista começou nos palcos de Salvador com a Cia. Baiana de Patifaria. Digamos que comecei a ficar conhecido por conta das minhas personagens no espetáculo “A Bofetada”, que já possui um público cativo de 31 anos de história.

A personagem que realmente fez sucesso no ambiente digital foi a Bisteca, que já nasceu dentro desse aspecto de vídeos para Youtube, visualizações e compartilhamentos. Hoje “Talita” a minha mais nova personagem está dando os primeiros passos nas redes sociais. Em verdade não me preocupo muito com a ideia de viralizar, apenas quero ser feliz com o que escolhi como profissão e poder também me sustentar financeiramente.

C.M: Você se lembra de algum momento marcante durante a sua vida artística e que leva no coração?
R.V: Um dos momentos mais marcantes da minha carreira aconteceu em Camaçari, no teatro Cidade do Saber. Estávamos em cartaz com “A Bofetada” e eu estava na cidade pela primeira vez. Entrei em cena e paralisei quando percebi que o teatro, que é gigantesco, estava lotado. A energia que troquei com o público e os aplausos que duraram mais de cinco minutos me marcaram até hoje.

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Foto: Arquivo pessoal

C.M: Mas conta para mim, e o coração? Morrendo de saudades dos palcos?
R.V: Eu costumo dizer que a pandemia quebrou a minha alma. Quase perco meu pai por conta desse vírus maldito, me afastei de todos os que amo e fiquei longe dos palcos. Saudade é pouco para descrever o que estou sentindo não só dos palcos, mas da vida normal em geral.

Contudo, de certa forma, voltarei aos palcos com mais certeza de que amo o que faço e que é isso que quero para o resto da minha vida.

C.M: Rodrigo, como eu disse: você foi sucesso na caixinha de perguntas!! Muita gente te acompanha e ama o seu trabalho. Qual o recadinho você pode deixar para essas pessoas que tanto o admiram?
R.V: Fiquei muito feliz quando soube que fui citado tantas vezes na caixinha de perguntas de vocês. Isso é reflexo de um trabalho muito duro e muita dedicação.

Em primeiro lugar eu quero agradecer ao carinho e amor que recebo todos os dias por todos que admiram meu trabalho. Vocês não sabem o quão são importantes para mim. Para o ano que vem, prometo novos projetos, o retorno os palcos e outras novidades que ainda não posso contar. Desejo que tudo isso passe logo e que em breve a gente possa se abraçar e se encontrar nos teatros, nas praças, nas festas, nos carnavais. Vacina para todos, viva o SUS e fora Bolsonaro!

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