Alex Curvello – Advogado
Acredito que talvez já tenha mencionado que muito provavelmente nasci na época errada, me refiro muito em parte do que entendo como a vida poderia ser vivida, bem como ao modo de ter um relacionamento e ao gosto musical, tenho sempre a impressão de que dificilmente teremos músicos que cantaram, encantaram e ainda encantam, mesmo com 50 anos de carreira ou mais.
Não é difícil citar músicos que parecem transcender a linha do tempo, demonstram ser atemporais e aqui não faço nenhum juízo de valor, de “A” ser melhor do que “B”, ou de “C” ser ruim em comparação com “D”, mas sim me refiro a preferências de fato, de internamente gostar de um mais do que o outro, mas sem criticar quem quer que seja.
De fato sempre tive um lado ligado a arte que parece viver eternamente dentro de mim, mas sem a intenção de se mostrar, apenas apreciar e arriscar algo que possa fazer algum sentido, a música me encanta, pinturas prendem minha atenção, o teatro/cinema é algo surreal, museus são sempre os melhores pedidos nas viagens e mais recentemente a cerâmica que minha esposa trabalha fez com que eu vivenciasse uma arte natural que me cativa todos os dias.
Por falar em música, no próximo final de semana, uma das lendas vivas da nossa arte nacional completará 80 (oitenta) anos de vida, um revolucionário, passando do exílio ao reconhecimento mundial, Caetano Veloso é um dos seres que olho e penso; “um desse não nasce mais”, do ritmo musical, as letras inovadoras e inteligentes, além das melodias que seduzem, é como se Caetano Veloso descobrisse uma alegria em viver e transformasse sua interpretação em música.
Não tenho apenas esse reconhecimento com ele, todos os seus contemporâneos e até outros anteriores a ele, fazem parte da minha lista musical diária, Dorival Caymmi, Vinícius de Moraes, Chico Buarque, Tom Jobim, Maria Bethânia, Gilberto Gil, Emílio Santiago, Belchior, Geraldo Azevedo, Benito di Paula, Cartola, Elis Regina, Raul Seixas, Paulinho da Viola, Frank Sinatra, Tim Maia, Bob Marley, John Lennon, Gal Costa, Alcione, Beth Carvalho, Jorge Aragão, dentre tantos outros. De mais a mais, não que eu não aprecie os mais “novos”, Marisa Monte, Nando Reis, Pitty, Jack Johnson, Carlinhos Borwn, Arnaldo Antunes, Adriana Calcanhoto, Vanessa Da Mata, Amy Winehouse, Marcelo D2, Maria Rita, Criolo, Marcelo Camelo, Roberta Sá, Rodrigo Amarante, etc, é que na verdade parece que os citados anteriormente fazem a arte da música considerando que um dia a geração futura entenda o que acontece hoje.
De simples entendimento para o que acabei de dizer, quando a gente lê e escuta Sampa, nós nos tele transportamos para aquela cidade, quando Caetano diz “da força da grana que ergue e destrói coisas belas”, é ao mesmo tempo uma São Paulo de 1978, ano da composição da música, uma São Paulo de 2022 e muito provavelmente uma cidade de São Paulo do futuro, onde o dinheiro acaba por destruí patrimônios naturais, bem como construir prédios exuberantes. Ou quando ele fala “É porque Narciso acha feio o que não é espelho”, fazendo uma interpretação que somos todos “Narcisos”, em parte, olhando para o mundo, criticando e apenas aceitando o “belo” daquilo que já conhecemos ou passamos a vida apreciando.
Recordo-me que quando escutei a primeira vez “Podres Poderes, acredito que era uma criança, meus pais eram proprietários de restaurantes em Salvador e a escolha musical sempre por conta de minha mãe me fazia cantarolar inúmeras músicas dos muitos que mencionei, mas sem nem saber ao certo o que estava cantando, sendo que, após um certo grau de compreensão me impactou a frase; “A incompetência da América católica Que sempre precisará de ridículos tiranos” ali, há 38 anos ele questionava e deixou claro durante toda a canção sobre a tirania de certos políticos, da desnecessidade de um clero erroneamente dominante pelo medo e nos faz pensar de como podemos melhorar a vida das pessoas, mas argui se precisará ficar repetindo aquilo por mais “zil anos”, resumindo, Caetano expõe as implicações do modo de poder da época, podendo ser feita uma analogia de como a forma abusiva do poder ainda é exercida.
Caetano Veloso ultrapassa a necessidade de significado do que é bom, é um músico, artista e ser humano de uma grandiosidade surpreendente, não o conheço, mas lendo um pouco do que ele deixou posto para a eternidade, demonstra que é de fato alguém que merece os parabéns diariamente, inclusive por fazer parte da história e da memória afetiva de muita gente.