Iza França
Há quem viaje para longe para se encontrar, e há quem só precise olhar com calma para o próprio reflexo no espelho.
Nos últimos anos, falar de autoconhecimento virou tendência, mas na essência continua sendo o mesmo convite antigo: silenciar o barulho de fora para escutar o som de dentro. O curioso é que muitos de nós embarcam rumo a lugares exóticos tentando decifrar o que sempre esteve em casa – o que nos move, o que nos falta, o que ainda somos.
A Bahia, com sua mistura de fé, mar e música, tem algo de místico que se parece com Bali. Ambas têm o poder de curar sem prometer, de acolher sem exigir, de inspirar sem esforço. Em uma, o cheiro do dendê; na outra, o perfume do incenso. E em ambas, um mesmo pedido: desacelere.
Talvez por isso, tantas pessoas busquem destinos paradisíacos quando o que realmente precisam é reaprender a respirar. Em tempos de urgência e performance, viajar virou também um jeito de adiar pausas. Só que, mais cedo ou mais tarde, o corpo e a alma pedem passagem – e o bilhete é interno.
O que você procura em Bali pode estar em Itacaré. O que espera encontrar em templos sagrados talvez more num pôr do sol em Salvador. A diferença é que, quando a gente muda o olhar, o destino muda de cor – mesmo que o CEP continue o mesmo.
Descobri que o recomeço não exige passaporte. Ele acontece quando a gente aceita que não vai mais caber em algumas rotas antigas. E que está tudo bem. Às vezes, o verdadeiro voo é aquele que não tem foto, carimbo nem bagagem – apenas uma alma decidida a voltar para casa, mesmo que essa casa seja dentro de si.
Entre o azul da Bahia e o pôr do sol de Bali, existe uma linha que atravessa a alma de quem aprende que paz não é um lugar – é uma escolha diária.
E, se for pra recomeçar, que seja onde o coração respira em paz.
Seja Bali. Seja Bahia. Sempre Dentro de si.
