A Alvarez & Marsal, empresa que contratou o presidenciável Sergio Moro (Podemos) em 2020, após o ex-juiz ter deixado o Ministério da Justiça, faturou ao menos R$ 42,5 milhões, de 2013 até o ano passado, de empresas investigadas e que fizeram acordos de leniência na operação Lava Jato. As informações são do Poder360.
Esses dados estavam em segredo, mas o ministro Bruno Dantas, do Tribunal de Contas da União (TCU), derrubou o sigilo nesta sexta-feira (21), sobre o processo que investiga se houve conflito de interesses no contrato entre Moro – ex-juiz da operação em Curitiba – e a empresa norte-americana.
O ministro Bruno Dantas atendeu o pedido do Ministério Público no começo de dezembro de 2021. De acordo o MP, era necessário apurar as circunstâncias de o ex-juiz ter “proferido decisões judiciais e orientado condições para celebração de acordos de leniência da Odebrecht e, logo em seguida, ter ido trabalhar para a consultoria que faz a administração da recuperação judicial da mesma empresa”.
Na prestação de contas, a A&M lista 23 empresas em processo de recuperação judicial ou falência. Dessas, ao menos 6 estiveram envolvidas na Lava Jato: Odebrecht/Atvos, Banco BVA, Grupo OAS, Queiroz Galvão, Enseada e Agroserra.
De acordo com o Poder360, o TCU acredita que a Alvarez & Marsal tenta dificultar o acesso aos valores pagos ao ex-juiz Moro. O Tribunal, no entanto, deve pressionar a consultoria até que a informação seja divulgada.
Dos R$ 42,5 milhões, a A&M recebia mensalmente R$ 1 milhão da Odebrecht e da Atvos (antiga Odebrecht Agroindustrial); R$ 150 mil da Galvão Engenharia; R$ 115 mil do Estaleiro Enseada (que tem como sócias Odebrecht, OAS e UTC); e R$ 97 mil da OAS.
O Tribunal investiga um possível conflito de interesses na relação do ex-juiz Moro com a consultoria Alvarez & Marsal, responsável pelo processo de recuperação judicial da construtora Odebrecht.
O ex-juiz Moro afirma que nunca trabalhou para empresas envolvidas na Lava Jato. Disse também que quando trabalhou na Alvarez & Marsal só ficou responsável por ajudar empresas a criar políticas de combate à corrupção. Por fim, disse que não atuou na recuperação judicial da Odebrecht.
Eis a íntegra da nota:
“Meu contrato era com a A&M disputas e investigações, e não com a parte da empresa responsável por recuperações judiciais, que tem outro CNPJ e cujas fontes de receita são diferentes. Nunca prestei nenhum tipo de trabalho para empresas envolvidas na Lava Jato. E isso foi deixado claro, a meu pedido, no contrato que assinei com a renomada consultoria norte-americana. Nos meses em que estive na empresa, trabalhei com compliance e investigação corporativa, ou seja, ajudando e orientando empresas a construir políticas para evitar e combater a corrupção.
Jamais trabalhei para a Odebrecht ou dei consultoria, direta ou sequer indiretamente, a empresas investigadas na Lava Jato.
A empresa de consultoria internacional, para a qual prestei serviço, foi nomeada por um juiz para atuar na recuperação judicial de créditos da Odebrecht, ou seja, para ajudar os credores a receberem dívidas. E eu jamais trabalhei nesse departamento da empresa. Portanto, os argumentos de que atuei em situações de conflito de interesse não passam de fantasia sem base”.