O Bahia Pra Você conversa com um dos compositores e cantores mais reconhecidos de Salvador. Nascido em Candeal Pequeno, Salvador (BA), Alexandre Guedes é isso e muito mais. Atualmente a frente da Banda Motumbá, o cantor e percussionista começou pelo samba de família, que aos domingos batia seus batuques de terreiro e quintais.
“Isso gerou em mim uma curiosidade em tocar. Venho deste celeiro do samba familiar. Me fez tomar gosto pela música, arte e cultura. Assim iniciei minha trajetória”, diz Guedes.
Confira o bate papo completo:
Bahia Pra Você: Uma carreira de mais de 20 anos exige esforços e muita perseverança. Em todos esses anos, quais foram as maiores surpresas que a vida artística já te proporcionou?
Alexandre Guedes: Com mais de 20 anos de carreira, a gente, até aqui, criamos belas histórias e isso exige esforço, determinação, perseverança e, sobretudo, foco. Nada na vida é fácil. Então sempre mantivemos a cabeça erguida na direção do maior objetivo que é ter, como hoje, nosso trabalho reconhecido. A cada trabalho desenvolvido, existe 100% de envolvimento para que chegue 100% ao nosso público.
Tive, durante minha caminhada, gratas surpresas que dividiram palco como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Ivete, Brown que são expoentes da nossa música. Inclusive fui membro da Timbalada e acompanhei Carlinhos na turnê do disco “Omelete Man”, além de Marisa Monte, onde compus o corpo de músicos do CD “Memórias, Crônicas e Declaração de Amor”.
BPV: Quais foram os lugares que mais te marcaram durante sua trajetória? Pode nos contar o porquê?
AG: Meu QG, Salvador, Bahia. Nós dançamos ao acordar. Somos inspiradores e isso me marca muito. Temos a maior festa de rua do planeta, não tem nem como comparar! Rsrsrs
O Rio de Janeiro também sempre especial, Sergipe, onde fiz meu primeiro show fora de Salvador. E, internacionalmente me marcou muito uma viagem à Argentina, quando fomos gravar o Programa da Xuxa. Inesquecível. Mas, já passei pelo México, Europa e EUA.
BPV: De onde surgiu o desejo de se lançar na música?
AG: Desde menino. Vem de berço. Muito samba em casa. Rsrsrs a base é o samba!
BPV: Como se deu a sua entrada na banda Motumbá?
AG: A Motumbá é criação minha. Depois que sai da Baianada, projeto com Xexéu e Wesley, entrei em processo criativo e buscava uma sonoridade afro-caribenha. Quando senti, juntei som e nome, e hoje estamos aí. O Bororó é nosso hino, que me gerou o prêmio de banda revelação do Carnaval de 2007. Motumbá significa bênção!
BPV: Você foi um dos idealizadores da Timbalada. Como foi a experiência de passar por uma das bandas de samba-reggae mais queridas da Bahia?
AG: Colaborei desde o início. É minha voz na faixa clássica “Canto Pro Mar”. Antes da Timbalada, eu fui do grupo “Vai Quem Vem”, que ensaiava no porão da casa de D. Madalena, mãe de Brown. A Timbalada é para além do samba-reggae. Foi um belo trabalho e me deu base para chegar onde cheguei.
BPV: E hoje à frente do Motumbá você foi responsável por grandes sucessos. São quantas composições? Tem a sua favorita? Conta o porquê.
AG: Há 18 anos à frente do Motumbá, tive várias faixas gravadas. Mas, não sei ao certo o número de faixas. Bororó é nosso hino, mas nem sempre o hino é nosso favorito. Posso destacar “Raza pro Mar”, “Odoyá” e “Força de um Anjo Bom”, que são de arrepiar.
BPV: Dominar o público com um som tão envolvente deve ser um sentimento muito tocante. É sempre uma sensação diferente quando você sobe no palco?
AG: Interagir com o público é um sentimento que não dá para explicar. Mas, é diferente! Cada show um novo frio na barriga. Sobretudo quando você vê aquele calor de resposta. Um clã! Rsrsrs
BPV: Quais parcerias mais inesquecíveis que você já realizou ao longo da carreira?
AG: Olha, já fiz grandes e belas parcerias. Mas, posso destacar os que ultimamente tenho aprendido mais. Embora ainda não tenha gravado música juntos, Seu Mateus Aleluia me toca profundamente e, desde que cantamos juntos no Centro Histórico, eu me transformei. Ele reza, não canta! A lembrança não sai de mim. Há poucos dias, inclusive, enquanto dirigia, ouvia a música dele e, fiz uma ligação de cortesia e aproveitei, claro, para lhe pedir a benção. Seu Mateus é luz!
BPV: Você também já participou dos discos do baiano Netinho, de Caetano Veloso e Gilberto Gil, e de Sérgio Mendes. Tem alguma participação sua que você acha marcante?
AG: Sim, tive o prazer de ter participado do disco do baiano Netinho, o Tropicália 2 e com Sérgio Mendes. Tive também trabalhos que me marcaram bastante. Destaco o disco de Marisa “Memórias, Crônicas e Declarações de Amor”, álbum que tem a faixa “Amor I Love You”.
Lembro que houve um momento no estúdio que pedi para apagar as luzes e fizemos uma das faixas de olhos fechados. Foi mágico e inesquecível.
BPV: Quais foram os maiores desafios enfrentados desde o início da sua carreira? Que aprendizado você leva deles?
AG: São os mesmos desafios que a gente encontra até hoje. Viver de música é um desafio diário. Pedimos sempre atenção ao nosso canto, nossa arte! O desafio é fazer música. Mas, seguimos firmes. Rsrs
BPV: Todos nós sofremos com a pandemia que levou, só no Brasil, mais de 660 mil vidas e afetou quase todas as atividades, principalmente o setor cultural. Como foi enfrentar esse período?
AG: O impacto foi bem grave. Perdi amigos, parceiros e colegas. Embora ainda não tenhamos voltado totalmente ao normal, nossa cadeia produtiva está, mesmo na dificuldade, voltando a atuar.
Sou muito inquieto. Girando aqui, produzimos a live “Na Mala”, durante todo período pandêmico e recebemos, com toda segurança, alguns amigos artistas por aqui. Inclusive, tudo está disponível em nossas redes sociais @motumbaoficial. A primeira live, inclusive, foi direto da casa de Vinicius de Moraes, em Itapuã.
Ainda lançamos duas faixas: Gira Mundo e Naná (Vire a Página), disponíveis nas plataformas digitais. Foi triste perder tanta gente amiga, mas, um período de muita produção também. Afinal, isso é o que nos move.
BPV: Sempre estamos querendo mais e isso é o que nos motiva a continuar crescendo, mas com essa sua carreira de sucesso e tanto tempo de estrada quais foram os sonhos realizados e o que ainda falta realizar?
AG: Às vezes, a criatividade vem do ócio, de nada, às vezes não, precisamos de um momento específico, mas, seja lá como for, Deus toca e a gente busca sempre entregar o melhor. Sonho, eu realizei vários. Mas, me lembro de ter cantado com Jorge Benjor na área verde do Othon, e ter recebido também, meu ídolo maior, Gilberto Gil.
Tocar no rádio e TV foi também um grande sonho realizado. E sigo sonhando e buscando minhas realizações.
BPV: Tem algum projeto especial vindo por aí? Conta para os leitores do Bahia Pra Você!
AG: Sempre temos, mas, como de praxe, a gente arruma a casa e depois lança oficialmente. Mas, certo que voltamos com os ensaios “Gira Mundo” que ferveu o verão da Bahia no último verão 2022.
Outros estão em fase de elaboração. O cenário ainda tá muito confuso. Mas, certamente logo, logo te contaremos mais coisas. Sigam acompanhando o perfil @motumbaroficial.
Ah, nesta sexta-feira (22) farei participação especial com o grupo Samba de Mistura, no Largo Quincas berro D’água, Pelourinho, a partir das 19:30.